Autobiografia de Abilio Araujo |
Forum Haksesuk cita ka foti husi Livro autobiografia Nicolau dos Reis Lobato,autor Pe.Martinho Gusmão, ho titul, "Sabemos, e Podemos e Devemos Vencer", publica iha Jornal A Voz de Timor, Seara, Jornal Militar do Comando Territorial Independente de Timor (CTIT). Debate konaba Barlake, Abilio de Arujo konsidere nudar "Renascimento Cultural em Timor" (hare prefacio do livro, pag. 28)».
Nicolau Lobato mos tama iha polemika debate, cita, iha ninia artigu publika iha revista SEARA, «Na sequencia de uma Carta Aberta», ne´ebe sintese husi ninia pensamento: "Quando me refiro á cultura de um povo, resolvo todo um mundo de conceitos e valores internos, do espírito, tais como o seu sentir, e pensar, a sua folosofia da vida, a sua elevação moral,a sua religião, a sua línguas, o repertório das suas tradições, em suma, o peso da sua história e o vigor das suas vivencia actuais encobertas em formas mais ou menos convencionais do dia-a-dia (pag.278)". Francisco Borja da Costa, envolve iha polemika ho ninia Poesia, «O rosto da tua passagem».
Debate intelektual ne'ebe autor nain tolu (3) Abilio de Araujo, Nicolau Lobato no Francisco Borja da Costa hodi hasoru autoridade kolonial iha tempo ne'eba, tinan 1969/70.Maske liu no besik ona tinan 50, ninia valores kontinua hatutan ba jerasaun sira tuir.
Forum Haksesuk hahu publika dahuluk, karta aberta husi Abilio de Araujo hodi hatan Inacio de Moura nia artigu, "Carta aberta ao Sr. Inácio de Moura Barlaque – Sigilo ou Enigma? Por Abílio de Araújo (in Livro: «Sabemos, e Podemos e Devemos vencer», pag.251)".
Dili, 03 de Dezembro de 2018
Editor FH
Carta aberta ao Sr. Inácio de Moura
Barlaque – Sigilo ou Enigma?
Por Abílio de Araújo[1]
Li atentamente a
sua poesia publicada em A Voz de Timor,
intitulada “Mulher de Lipa ‘Feto’ de
Timor”. Poesia graciosa, cheia de ditos, inspirada num tema sobre usos e
costumes de Timor, foi, sem dúvida alguma, admirável. Mas francamente discordei
em parte não no seu aspecto poético, mas sim, no que respeita ao seu conteúdo.
Assim, resolvi escrever o artigo que a seguir publico sob o título “Barlaque – Sigilo ou Enigma?”, como
futura fonte (se como tal, puder ser classificada), já que está bastante
interessado em adquirir conhecimentos de maneira de ser da gente timorense, tão
portuguesa2.
Eis-nos perante um
tema pouco compreendido por muitos que ousam frequentemente ter voto na
matéria. Será o barlaque um sigilo
por encerrar em si motivos de vária ordem, fundamentados em conceitos difíceis
de serem albergados por qualquer mentalidade, ou um enigma, que, por tal, é e
continua a ser considerado pelos estranhos como o espelho mais límpido no qual
transparece a “barbaridade humana”3 para o sexo frágil? De nenhuma
maneira um enigma pois é fácil de ser esclarecido, uma vez que o esclarecimento
provém de um juízo, mais ou menos fundamentado no assunto. Sigilo? Talvez, até
porque o timorense, se franco por necessidade é desconfiado, sendo capaz de dar
mil voltas ao cérebro (também o tem), para afinal tomar uma resolução
afirmativa ou negativa, e no caso de afirmativa, ainda hesitar por uma
afirmação total ou parcial. Assim, o barlaque ainda não é compreendido, quer
por esta incompreensão ser derivada de uma tentativa de explicação errada dada
por alguns timorenses ou a pouca vontade destes no sentido da divulgação da sua
essência, quer pela pretensão de pseudo-historiadores que por fonte tem uma explicação
ou comentário de outrem e o interpretam por um prisma pessoal e egoísta.
Etimologicamente, barlaque ou “barlaki” em tétum é a
corrupção de BERLAKI que em malaio significa “ter marido”. Ora, sendo assim, é
de emprego exclusivo e restrito à mulher. Ao contrário da teoria de certos
povos que consideram a mulher, dependente e escrava dos instintos do homem, na
concepção natural, o timorense situa a mulher no cume da honra, respeita e
veneração, já que ela é a razão primária da existência humana. E, daí, a
terminologia em tétum salientá-la como “feto
maromac, murac mean” mulher sagrada como Deus e preciosa como os objectos
doirados mais valiosos. A mulher passa a ter direito de possuir marido. O homem
para a conseguir está sujeito a demonstrar provas, à semelhança dos povos da
Antiguidade ou da Idade Media, onde homens se gladiavam pela mão de uma
donzela, em casamento.
Estas provas no
povo timorense, consistem na apresentação de tudo o que a família da mulher – “umane” – estipula aos membros de toda a
família do rapaz – “feto san”.
Para melhor
entendimento, vou narrar as principais características do casamento natural
timorense4.
O casamento em
tétum, diz-se “caben”. O “caben”
reveste duas formas: o “hafolin” e o
“hafen”5 que é o casamento
sem dote, no qual o homem, por não ter podido demonstrar o seu valor, vai viver
na casa da mulher. O “hafolin”, termo
que em tétum significa “valorizar” é o tipo de casamento com dote. Chama-se barlaque, segundo o conceito actual, o
casamento acompanhado de “hafolin”.
Aqui estamos: não há termo algum que nos faça entender compra ou venda da
mulher, porque o próprio “hafolin”
não é mais do que um “contrato” de casamento da repercussão universal6. Onde então a razão por que o poeta afirma que
a mulher de Timor
“DÁ O AMOR
EM TROCA DE “CARAUS”
E OUTRAS ALIMARIAS
...
TROCA O AMOR
POR LIBRAS, DINHEIRO
E OUTROS ENFEITES
QUE SÃO O DELEITE
DE PAIS E PARENTES
...
VENDE O AMOR
E NADA RECEBE...
TROCA O AMOR
POR GRANDE BARLAQUE “?
Quererá mostrar em
linguagem poética que a mulher de Timor é motivo para os poetas como fonte de
inspiração para a criação de poemas do amor? Ou será a manifestação de uma
vontade de querer trazer à luz, um de entre os variados usos e costumes do
Timor, em que a mulher é a causa da discussão, mas que em virtude de uma
informação mal dada, tenha extraviado?
O “hafolin” caracteriza um casamento
valorizado, não só no material, como as trocas de bens, mas também no aspecto
moral porque o casamento desta ordem estabelece a mulher como um objecto de
alto valor inacessível a qualquer. As doações obedecem a uma certa praxe. O
quantitativo de bens – búfalos, libras, “belacs”
– estipulado pelo “umane” ao “feto san” pode ser mais ou menos,
conforme a posição mais ou menos elevada da donzela.
Reciprocamente há
também doações da parte de “umane”
revertendo geralmente em porcos, “tais”,
mutissalas, dinheiro e objectos de adorno feminino.
Na mentalidade
timorense, o casamento com dote significa honra da mulher, o orgulho das
famílias dos nubentes – feto san e umane. A participação de todos os
familiares com pequena ou larga contribuição reflecte a solidificação do elo da
aliança entre famílias e a união dos seus elementos.
Quem, senão uma
mulher da certa posição humana dentro do seu grupo feminino com a sua honra e
respeito de todos, tem o direito de possuir marido? Quem, senão um povo de uma
índole moral elevada, embora no seu primitivismo, submerso na sua concepção
animista, consegue estabelecer factos7 que povos de avançada
civilização ignoram?
Enfim, Barlaque – Sigilo ou Enigma?
______________________
1 A Província de
Timor, Semanário, 10 de Marco de 1970,
Jornal militar do Comando Territorial Independente de Timor
2 A doutrina
oficial do Estado Novo proclamava um “Portugal pluricontinental, multirracial e
multilinguístico”
3 Vários autores
consideravam os timores como “bárbaros”
4 Casamento natural
mais propriamente dita “casamento pelo rito timorense a diferencia-lo do
casamento canónico e casamento
por registo civil
5 Hafen ou Habani,
termos que caracterizam as situacoes em que o marido vai viver na casa da
mulher ou dos sogros. Os filhos
deste casamento ficam a pertencer ao “Uma
Lisan” da mulher
6 O Estado Português
reconhecia o estado civil de barlaqueado
7 Instituir regras,
comportamentos e Ritos
Carta aberta ao Sr. Inácio de Moura Barlaque – Sigilo ou Enigma? Por Abílio de Araújo (in Livro: «Sabemos, e Podemos e Devemos vencer», pag.251)
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