Dom Carlos Filipe Ximenes Belo
Prémio Nobel da Paz 1996
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O nome da Renetil (Resistência Nacional de Estudantes de
Timor-Leste) ficou a ser mais conhecido em várias latitudes do planeta pela
publicação do livro [RENETIL iha Luta Libertasuan Timor Loro Sa’e, Antes Sem
Título do que Sem Pátia, de Carlos da Silva Saky] e, sobretudo pela morte do
seu líder, Fernanda La Sama de Araújo. Passados que foram os dias de tristeza e
de luto, os membros desta Associação patriótica irão escolher os novos
dirigentes que, certamente, irão continuar a consolidar e renovar os quadros e
ao mesmo tempo traçar novas estratégias para manter sempre atual a Renetil.
Todos nós sabemos que
durante a ocupação das Forças Armadas Indonésias, a Renetil soube alimentar a chama do patriotismo
nacionalista da juventude timorense e mobilizar o idealismo juvenil para uma
continuada resistência aos ocupantes.
Hoje, Timor-Leste é
um país independente; a independência reconhecida internacionalmente, a 20 de
maio de 2002. E já la vão treze anos de independência… A despeito de todos os
esforços para construir o país do “sol nascente” na justiça social, na
igualdade de oportunidades para todos os timorenses, na convivência num clima
de paz, de reconciliação e de desenvolvimento, a República Democrática de
Timor-Leste enfrenta problemas que exigem mais atenção da parte de todos. E
aqui, os membros da Renetil devem assumir mais protagonismo no
desenvolvimento integral do povo timorense.
Se no passado, os
“lorico asuwa’in” foram corajosos em opor resistência aos invasores, hoje devem
demonstrar a mesma coragem em opôr forte resistência à corrupção, ao nepotismo
e à degradação dos valores morais na sociedade timorense.
A corrupção concorre
para aumentar o nível de pobreza em Timor-Leste; a pobreza coloca um
dramático problema de justiça nas suas diferentes formas e caracteriza-se
por um crescimento desigual entre as populações. A corrupção e a má
gestão dos dinheiros públicos aumentam a dívida de países pobres; a corrupção
trai os princípios da moral, e as normas da justiça social e compromete o
correcto funcionamento do sistema democrático e do próprio Estado. “A corrupção
politica distorce na raiz a função das instituições representativas, porque as
usa como terrenos de nogociata política entre solicitações clientelares e
favores dos governantes. Deste modo, as opções políticas favorecem os
objectivos restritos de quantos possuem os meios para influenciá-las e impedem
a realização do bem comum de todos os cidadãos” (Compêndio da Doutrina Social
da Igreja, n. 411).
A sede da riqueza e da fama conduzem muitas vezes ao desprezo de normas que dizem respeito ao matrimónio e à família, “O amor é vocação fundamental e inata de todo o ser humanos” (Familiaris Consortio, n.º 11). Porém, há situações que tendem a tornar-se “uma coisa normal” em Timor-Leste. Ocorrem adultérios, divórcios, poligamia, união livre que são ofensa grave à dignidade do matrimónio e à família. E a população timorense espera que os políticos e líderes partidários sejam os primeiros a darem exemplo de honestidade, de solidariedade, de disciplina e de sacrifico e de dedicação.
Fernando La Sama com a Bandeira da RENETIL
Foto@Renetil
Muitos ou todos os membros da Renetil são cristãos. Se cristão significa ser um estilo novo de ser homem com uma nova maneira de estar na sociedade e de olhar a vida e o homem. “Por ser cristão, ele sabe que no centro da sua fé está o mandamento do amor e que Deus se identificou de tal maneira com os homens que o que fazemos por eles e por cada um deles Deus o recebe como feito por a Si próprio” (Américo Veiga, A Educação hoje, p. 360).
Louvamos e apoiamos aqueles que militam na Renetil, nos partidos políticos e no governo. Como remate deste nosso humilde apelo aos quadros da Renetil, seja-nos permitido citar as sábias recomendações do Concilio Vaticano II:
“Os partidos políticos devem promover o que julgam ser exigido pelo bem comum, sem que jamais seja lícito antepor o próprio interesse ao bem comum. Deve atender-se cuidadosamente à educação cívica e política, hoje tão necessária à população e sobretudo aos jovens, para que todos os cidadãos possam participar na vida da comunidade política. Os que são ou podem tornar-se aptos para exercer a difícil e muito nobre arte politica , preparem-se para ela; e procurem exercê-la sem pensar nos interesses próprios ou em vantagens materiais. Procedam com inteireza e prudência contra a injustiça e a opressão, contra o arbitrário domínio de uma pessoa ou de um partido, e contra a intolerância. E dediquem-se com sinceridade e equidade, mais ainda, com caridade e fortaleza politica, ao bem de todos” (GS, n. 75).
A todos os que militam na Renetil e aos seus simpatizantes, desejo muitas felicidades e muito entusiasmo para imprimir um novo espírito e um novo rumo à esta nobre organização estudantil e universitária.
Porto, 5 de junho de 2015.
Dom Carlos Filipe Ximenes Belo
Prémio Nobel da Paz 1996.
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