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20090612

AMO-DEUS CORONEL SANTO ANTÓNIO

Celebração do dia de Santo António*
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Celebra-se no dia 13 de Junho a festa do santo português mais conhecido e mais popular no mundo católico: Santo António de Pádua ou Santo António de Lisboa. Chamava-se Fernando Bulhões, e nasceu em Lisboa em 1195 (outros dizem que em 1191 ou em 1192). Foram seus pais Martinho Bulhões, oficial do exército de D. Afonso I e Teresa Taveira. Fez os estudos na “escola catedral”, junto do Mosteiro de São Vicente de Fora, Sentindo-se chamado por Deus, entrou, aos 15 anos, na ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho.
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Aos 17 anos, a seu pedido, transferiu-se para o mosteiro de santa Cruz de Coimbra, onde aprofundou os estudos monásticos e escriturísticos. Atraído pelo exemplo dos Franciscanos que viviam no ermitério de Santo António de Olivais, em Coimbra, e comovido com o martírio dos franciscanos em Marrocos, Fernando pede para entrar na Ordem franciscana, fundada por S. Francisco de Assis. Aos frades de santo António dos Olivais que tinham por costume ir ao mosteiro dos Cónegos Agostinhos pedir esmola, Fernando teria revelado o desejo morrer mártir: “ Irmãos, receberia com entusiasmo o hábito da vossa ordem se me prometêsseis enviar-me, logo a seguir, à terra de sarracenos a fim de participar da coroa dos santos mártires”.Tendo sido aceite na ordem, toma o nome de Frei António. No verão de 1220, António vestia o hábito franciscano e nos princípios de Novembro partia em Marrocos. Estando gravemente doente, os superiores acharam por bem repatriá-lo a Portugal.
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Com esta intenção embarcou, mas um forte vento impeliu o navio para o oriente, obrigando-o a atracar nas costas da Sicília (Itália). Frei António refugiou-se no convento dos franciscanos de Messina e dali, foi para o Capítulo Geral convocado pelo fundador, capítulo esse que começo a 21 de Março de 1221. Terminado o Capítulo, o provincial da Romagna levou Frei António consigo. Nessa região obteve do superior a licença para se retirar ao ermitério de Monte Paulo para consagrar-se à solidão. Em Setembro de 1221, durante a cerimónia da ordenação dos religiosos franciscanos e dominicanos em Forli, frei António, a pedido do superior, foi convidado para pregar o sermão. A sua intervenção foi de tal maneira retumbante que comoveu a todos, facto que levou o superior a destiná-lo para o apostolado.
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Os campos de acção foram muitos. Romanha, , Montpellier, Toulouse (Tolosa),Bourge, Limoges. Conta-se que em Rímini, os herejes impediam ao povo assistir aos serões do frei António. Perante a apatia dos seus ouvintes, o santo foi à costa adriática e começou a pregar aos peixes, dizendo: “ ouvi a palavra de Deus, vós peixes do mar e do rio, já que não a querem escutar os infiéis herejes”. Falando ele assim, acudiram peixes em cardume mostrando as cabeças fora da água.
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Passados uns anos de apostolado, foi nomeado professor de teologia. Informado S. Francisco da sabedoria e santidade que tinha, e convencido da necessidade de estudo dos seus frades, enviou a santo António a seguinte carta. “A frei António, meu bispo, Frei Francisco, saúde em Cristo: Apraz-me que interpreteis aos demais frades a sagrada teologia, contanto que este estudo não apague neles o espírito de santa oração e devoção, segundo os princípios da regra. Adeus”. Pouco durou esse magistério no estudo dos franciscanos em Bolonha, pois as necessidades gerais da igreja exigiam sua presença França para combater a heresia albigense.
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O Papa que reinava na altura tinha feito um apelo a todos os pregadores para se lançarem no combate à heresia. Entre os escolhidos figurava Santo António. Dessa cruzada, diz um cronista: “ Dia e noite tinha discussões com os herejes; expunha-lhes com grande clareza o dogma católico; refutava vitoriosamente os preconceitos deles, revelando em tudo ciência admirável e força suave de persuasão que penetrava na alma dos seus contrários”. No capítulo geral de 1227 Santo António foi eleito ministro provincial da Romagna, cargo que exerceu até 1230. Nos fins de 1229 foi mandado para Pádua, onde se dedicou à oração estudo composição de sermões. Na Quaresma de 1231 suspendeu o estudo para dedicar-se de novo à pregação. Dizem as crónicas que “nele era tão vivo o zelo a devorara-lhe o coração, que se propôs a pregar durante quarenta dias contínuos. E era tanto o entusiasmo do povo, que se lançava sobre ele para lhe cortar pedaços do hábito”. Consumido pelo esforço e pela enfermidade, retirou-se para a solidão de Arcella, em Camposampiero. Ali viria a falecer no dia 13 de Junho de 1231, com 36 anos de idade. Logo que expirou, as crianças de Pádua correram a cidade gritando: “Morreu o Santo! Morreu Santo António! Ainda não tinha passado um ano a contar da sua morte, quando o Papa Gregório IX o declarou santo.
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A devoção a Santo António em Timor-Leste.
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Vem de muito longe esta devoção dos cristãos timorenses ao santo taumaturgo. Certamente desde o tempo dos missionários dominicanos. Por volta do ano de 1750, na povoação de Mena (hoje no Timor ocidental), a igreja tinha como orago, santo António. Segundo o primeiro padre timorense, pe. Gregório Maria Barreto que foi superior das missões de Timor em 1856, a igreja existente no reino de Cotubaba (Atabae) era dedicada a santo António. Segundo o mesmo padre Barreto, no reino de Montael havia a “real capela do Glorioso Santo António”. Era a única capela com paredes de tijolo, porém coberta de palha. No reino de Lacluta, a igreja era também dedicada a santo António (cf. Relatório ao Governo, 1865). No início do século XX, a capela de Alas era dedicada a Santo António (1905).
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Hoje, ano da graça do Senhor 2009, são estas as igrejas de Timor-Leste, dedicada ao glorioso santo António: 1) Igreja de santo António (Paróquia de Motael - na cidade de Díli, diocese de Díli, ); 2) Igreja de santo António (Paróquia de Manatuto, diocese de Baucau); 3) Igreja de santo António, na cidade de Baucau (Paróquia de Baucau, Diocese de Baucau), 4) Igreja de santo António (Paróquia de Balibó, diocese de Dili); 5) Igreja de santo António (Quase-paróquia de Lacluta, diocese de Baucau; 6) Igreja de santo António (Estação missionária de Buibau, diocese de Baucau).
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Acerca da devoção do povo de Manatuto, contava o padre Ezequiel Enes Pascoal, fundador e primeiro director da revista SEARA, que, em tempos idos, as populações ao verem os seus arrozais atacados e dizimados pelos ratos, levavam a imagem do santo a percorrer “natar” (várzeas ou campos de arroz), no meio de preces e “haklalan” (aclamações e gritarias). Contava-se que uma certa manhã, ao irem venerar a imagem do santo na igreja, os devotos viram os pés de santo António cobertos de lama. Pelos vistos, durante a noite o santo Padroeiro tinha saído do seu altar para ir “afugentar os ratos”, pois viram patentes nos “natar” as pegadas do santo… A verdade era que nos anos seguintes, o “neli” (arroz em português de Timor), produzia a cem por cento…Perante estes factos, os habitantes de Manatuto, começaram a aclamar o santo com o pomposo título de “Amo Deus Coronel Santo António”.
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Ainda hoje, em Manatuto, no dia 13 de Junho, além das festas religiosas, os cavaleiros organizam os jogos chamados “cavalhadas”, durante os quais, os homens montados em cavalos e, em corrida, tentam arrebentar, com varapau, uma panela cheia de moedas e que está pendurada a uma certa altura…Que eu saiba é o único jogo que se realiza em todo Timor.
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Na Paróquia de Baucau, a festa de Santo António era organizada pelos quatro sucos (freguesias): Baha-uú, Tirilolo, Cai-bada e Buru-uma. No dia 12, à tarde, os moradores em trajes próprios acompanham o andor do santo até à “guarda” (casa/delegação do suco ou do reino). Aí as famílias fazem a velada rezando e cantando até ao dia seguinte, na hora em que a imagem é levada em procissão para a Igreja paroquial. Contam os “catuas” de Baucau que nos princípios do século XX, quando os moradores, na sua maioria gentios e animistas, foram a pé até à ribeira de Laleia, para receber e levar a imagem (estátua) de santo António até à vila de Baucau, a produção do milho e do neli (arroz) foi sempre abundante. Anos seguidos, na região de Baucau, nunca faltaram as chuvas, não houve ventanias ou tempestades; não houve pragas de ratos e de gafanhotos…E isso, deveu-se à intercessão de Santo António. E em 1942, antes da entrada dos invasores japoneses, na vila de Baucau, os “catuas”, levaram o Santo e esconderam-no na grutas da “Ponta Bondura”. Essa região ficou livre da presença dos beligerantes até 1945, ano da rendição dos japoneses.
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No enclave Oe-Cusse, Ambeno, na freguesia de Santa Rosa de Lima, foi construída durante o tempo da ocupação da Indonésia, uma capela dedicada ao santo António, e que se tornou centro de romarias. Para lá acorriam (e acorrem ainda) pessoas, não só de Oe-cusse, mas também das vilas e povoações de Timor Indonésio (Kefamenanu, Ponu, Wini, etc).
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No mês de Julho de 1996, em plena ocupação indonésia, as populações de Timor-leste receberam com pompa e circunstância as relíquias de santo António. De acto, do dia 3 a 12 de Julho, multidões de devotos, quer nas vilas quer nas aldeias, “insistiam” com o Santo para que fizesse o milagre, o de ajudar a “libertar” Timor Loro Sa’e. E então rezavam:
“ Aman Maromak laran luak no diak, Ita fihir St. António nudar Evangelho ni sasin no manu-ain paz nian iha ami le’et. Rona ami nia oração. Halo família sira sai santo, tulun sira atu moris iha fiar; hametin sira iha unidade, paz no hakmatek. Haraik bens amai ami nia oan sira, hamahan foin sa’e sira. Tulun sira hotu nebé moras, terus no mesak. Thana ami iha susar loro-loron nian ho tia nia domin. Ami harohan ne’e hodi Nai Jesus Cristo ami Na’i. Ámen.”
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Que o Glorioso Santo António continue a interceder junto de Deus uno e trino pelo povo de Timor-Leste.

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Porto, 12 de Junho de 2009.
*Dom Carlos Filipe Ximenes Belo

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