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20080512

A teimosia dum político*

Por: Celso de Oliveira

A minha mulher acendeu uma vela no seu quarto, ajoelhou-se em frente do seu oratório e começou a rezar, enquanto eu estava fora da casa. Quando cheguei, entrei no nosso quarto, onde apenas se sentia o cheiro da vela. Perguntei-lhe o que é que estava a fazer. Respondeu-me, com lágrimas nos olhos: “O nosso Presidente da República foi baleado”.

Eu não acredito, disse-lhe eu, e fui ligar a televisão, na nossa sala de visitas.

Acompanhei as notícias tintin por tintin. Assim se diz. Ocorreram-me algumas perguntas ridículas. Será que a atitude da minha mulher era um acto espontâneo? Será que o povo estava em marcha, da mesma maneira, “em silêncio dentro da sua oração” para pedir a paz para Timor Leste, a boa saúde do seu Presidente da República, a firmeza do seu governo, para resolver os problemas do país?

Eu devia escrever assim: os políticos estão a matar o povo timorense, lentamente. Mas quem sou eu, para escrever essas coisas sobre a política timorense? Será que a minha voz vai chegar até ao parlamento nacional, palácio dos políticos? Eu não quero saber quem sou. Afinal, nas vidas dos políticos timorenses, eu apenas represento uma voz, a dum filho do crocodilo.

“Em 1975 eu pratiquei um crime de assassínio. Não fui o autor principal. Mas mandei matar os prisioneiros da guerra. Coisas que aconteceram 30 e tal anos atrás. Naquela altura, eu não tinha noção sobre a teoria da evolução humana. Finalmente, os filhos dos prisioneiros da guerra cresceram e tornaram-se donos da sua própria terra. Como eu também fui e sou dono da minha própria terra. 30 e tal anos atrás, eu era alguém, era superior. 30 e tal anos atrás, o povo era analfabeto, não havia televisão, internet, jornais, computador, etc. Por isso, que eu pensava ser fácil matar porque não ia haver provas contra mim. Agora eu lembro os nomes dos prissioneiros da guerra. Eram Luis, Jose, Fernando, Casimiro, entre outros. Filhos de Timor. Naquela altura com muita ambicão e falta da maturidade política, eu gritava os nomes como Luis...Luis... sai da casa. O Luis morreu, deixou mulher e filhos.

30 e tal anos já passaram. Hoje em dia, o povo tem tudo. Internet, computador, televisão, etc. Mas, muitas vezes, por minha vaidade pessoal, arrogância política, interesse pessoal em nome do partido e do povo, eu continuo a mandar matar pessoas inocentes, que não são da minha cor ou da minha convicção. Tudo isso, por caso da política.

Após 30 e tal anos, eu devia mudar a minha mentalidade, devia fazer um acto de contrição, devia criar paz, justiça e reconciliação na minha pátria TIMOR. Eu devia pensar: se os meus filhos não têm acesso à escola ou aos hospitais, eu devia acompanhá-los ou ensiná-los”.

(Esta é, apenas, uma crítica ao meu tio, que foi eleito como ministo, mas foi preso por ter distribuído armas aos civis para se matarem uns aos outros. Este meu tio, em 1975, praticou crimes de assassínio. Em 2006 praticou outra crime de assassínio. Em 2008 assinou outra plataforma em nome do povo. O povo inocente vai ser condenado e vive na prissao de Becora, enquanto os políticos serão livre)

Na verdade, o que eu estava a pensar, era verdade: os políticos timorenses estão a matar povo timorense, lentamente.

O nosso oratório era um oratório pequeno. Feito com sândalo. Foi uma oferta do um amigo camponês. Em cima do oratório, havia uma estátua de Nossa Senhora de Fátima, de Santo António, da Sagrada Família, do Sagrado Coração de Jesus, uma bíblia, um ramo de flores e uma vela. Na nossa tradição, em qualquer casa dos timorenses há sempre um oratório, lugar sagrado para unir e rezar.

* Poeta timorense, vive em Londres (London)

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