Por: Jorge Heitor*
Existe a hipótese de uma segunda tempestade tropical se abater hoje sobre a Birmânia, 12 dias depois do ciclone Nargis, que deixou dois milhões de pessoas desalojadas e em risco de vida, se acaso as autoridades persistirem na sua atitude isolacionista, isolando as áreas sinistradas e dificultanto a distribuição de auxílio por estrangeiros.As Nações Unidas disseram que a catástrofe é de proporções monumentais e que só poderia ser minimizada se os socorros fossem na escala verificada aquando do tsunami de 2004 no Oceano Índico; mas a verdade é que as tropas do regime militar birmanês estão a impedir os trabalhadores humanitários estrangeiros de chegar às zonas mais necessitadas.O almirante norte-americano Timothy Keating, comandante da armada destacada no Pacífico, esteve com um general da junta que dirige o país e chegou à conclusão de que a mesma parece ignorar a dimensão da tragédia, insistindo em que a situação "está a regressar à normalidade", apesar de muita gente temer que o pior esteja ainda para acontecer, depois dos 34.000 mortos confirmados e das largas dezenas de milhares de desaparecidos.Chuvas e ventos de moderados a fortes são previstos para as próximas semanas, tendo a Organização Meteorológica Mundial dito que, "uma vez que a época das monções se aproxima, os períodos de chuva intensa irão tornar-se mais frequentes". E no entender da Federação Internacional da Cruz Vermelha isso poderá representar "o pior cenário imaginável", no caso de solos saturados levarem a inundações mais graves.O primeiro-ministro da vizinha Tailândia, Samak Sundaravej, esteve ontem com o seu homólogo birmanês, Thein Sein, e não conseguiu convencê-lo a abrir o país a operações internacionais de socorro, nem a emitir vistos para trabalhadores humanitários, tendo Rangum insistido em que é capaz de resolver o problema sozinha, contra toda a espécie de evidências. No entender dos generais que desde há décadas dirigem a Birmânia, não há surtos epidémicos, nem fome, ao contrário do que já admitiu, inclusive, o comissário europeu para o Desenvolvimento, Louis Michel.
Situação apocalípticaUm funcionário da ONU destacado no país, onde representa o Programa Alimentar Mundial, Chris Kaye, afirmou, segundo a BBC, que os militares ergueram mais postos de controlo, de modo a terem a certeza de que os estrangeiros não chegariam às zonas mais afectadas, de modo a tentarem verificar se milhões de pessoas estão ou não a necessitar de auxílio urgente.Tim Costello, da organização australiana Word Vission, disse à Al Jazira que centenas de milhares de sobreviventes do ciclone Nargis enfrentam uma situação "apocalíptica", com sinais evidentes de desinteria, diarreia e dengue. Para já não falar das probabilidades de cólera, malária e mordeduras de serpente.À margem de tudo isto, os traficantes de crianças estão a lançar o seu olhar para os sobreviventes mais novos e vulneráveis da catástrofe, tendo dois deles sido detidos quando tentavam recrutar pequenos separados dos pais e possivelmente órfãos, conforme relatou Anne-Claire Dufay, da Unicef.Perante este panorama, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, anunciou pretender uma cimeira extraordinária das Nações Unidas sobre a Birmânia e que o secretário-geral Ban Ki-moon se desloque pessoalmente às regiões sinistradas, já que a União Europeia não teve força suficiente para levar à prática a responsabilidade de a comunidade internacional intervir num Estado que está a falhar no seu dever de proteger o respectivo povo.A ONU consagrou em 2005 esse princípio, pelo menos no papel, mas o mesmo não está agora a ser levado à prática, preferindo algumas chancelarias ocidentais pedir à China, a maior potência asiática, que convença a junta militar birmanesa a abrir sem delongas as suas fronteiras, deixando de parte os tiques próprios de um regime que se considera acossado e que revela um medo doentio de tudo quanto é estrangeiro.
*Jornalista do Público,exclusivo Jornal Público (publico.pt) e Forum Haksesuk!
Existe a hipótese de uma segunda tempestade tropical se abater hoje sobre a Birmânia, 12 dias depois do ciclone Nargis, que deixou dois milhões de pessoas desalojadas e em risco de vida, se acaso as autoridades persistirem na sua atitude isolacionista, isolando as áreas sinistradas e dificultanto a distribuição de auxílio por estrangeiros.As Nações Unidas disseram que a catástrofe é de proporções monumentais e que só poderia ser minimizada se os socorros fossem na escala verificada aquando do tsunami de 2004 no Oceano Índico; mas a verdade é que as tropas do regime militar birmanês estão a impedir os trabalhadores humanitários estrangeiros de chegar às zonas mais necessitadas.O almirante norte-americano Timothy Keating, comandante da armada destacada no Pacífico, esteve com um general da junta que dirige o país e chegou à conclusão de que a mesma parece ignorar a dimensão da tragédia, insistindo em que a situação "está a regressar à normalidade", apesar de muita gente temer que o pior esteja ainda para acontecer, depois dos 34.000 mortos confirmados e das largas dezenas de milhares de desaparecidos.Chuvas e ventos de moderados a fortes são previstos para as próximas semanas, tendo a Organização Meteorológica Mundial dito que, "uma vez que a época das monções se aproxima, os períodos de chuva intensa irão tornar-se mais frequentes". E no entender da Federação Internacional da Cruz Vermelha isso poderá representar "o pior cenário imaginável", no caso de solos saturados levarem a inundações mais graves.O primeiro-ministro da vizinha Tailândia, Samak Sundaravej, esteve ontem com o seu homólogo birmanês, Thein Sein, e não conseguiu convencê-lo a abrir o país a operações internacionais de socorro, nem a emitir vistos para trabalhadores humanitários, tendo Rangum insistido em que é capaz de resolver o problema sozinha, contra toda a espécie de evidências. No entender dos generais que desde há décadas dirigem a Birmânia, não há surtos epidémicos, nem fome, ao contrário do que já admitiu, inclusive, o comissário europeu para o Desenvolvimento, Louis Michel.
Situação apocalípticaUm funcionário da ONU destacado no país, onde representa o Programa Alimentar Mundial, Chris Kaye, afirmou, segundo a BBC, que os militares ergueram mais postos de controlo, de modo a terem a certeza de que os estrangeiros não chegariam às zonas mais afectadas, de modo a tentarem verificar se milhões de pessoas estão ou não a necessitar de auxílio urgente.Tim Costello, da organização australiana Word Vission, disse à Al Jazira que centenas de milhares de sobreviventes do ciclone Nargis enfrentam uma situação "apocalíptica", com sinais evidentes de desinteria, diarreia e dengue. Para já não falar das probabilidades de cólera, malária e mordeduras de serpente.À margem de tudo isto, os traficantes de crianças estão a lançar o seu olhar para os sobreviventes mais novos e vulneráveis da catástrofe, tendo dois deles sido detidos quando tentavam recrutar pequenos separados dos pais e possivelmente órfãos, conforme relatou Anne-Claire Dufay, da Unicef.Perante este panorama, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, anunciou pretender uma cimeira extraordinária das Nações Unidas sobre a Birmânia e que o secretário-geral Ban Ki-moon se desloque pessoalmente às regiões sinistradas, já que a União Europeia não teve força suficiente para levar à prática a responsabilidade de a comunidade internacional intervir num Estado que está a falhar no seu dever de proteger o respectivo povo.A ONU consagrou em 2005 esse princípio, pelo menos no papel, mas o mesmo não está agora a ser levado à prática, preferindo algumas chancelarias ocidentais pedir à China, a maior potência asiática, que convença a junta militar birmanesa a abrir sem delongas as suas fronteiras, deixando de parte os tiques próprios de um regime que se considera acossado e que revela um medo doentio de tudo quanto é estrangeiro.
*Jornalista do Público,exclusivo Jornal Público (publico.pt) e Forum Haksesuk!
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.