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20080327

O perigo dos Biombos e Democractismo Descolorido

“…Escrita em Chinês, a palavra crise é composta por dois caracteres:
Um representa perigo e o outro oportunidade…”
J.F.Kennedy



Por: Félix de Jesus

O título deste artigo tem um tom provocatório, mas justifico o porquê dessa provocação. As circunstâncias obrigam-me a pensar e a dizer as coisas desta maneira. Não digo que esteja para breve o fim de um Estado soberano mas pelo evoluir da situação no terreno, a doença pode ser grave e levar a uma morte inevitável caso não haja esforços de travar os biombos que querem agarrar o poder utilizando a violência como meio. É preciso desvendar o misterioso atentado falhado de 11 de Fevereiro de 2008. A hipótese de envolvimento de terceiros é forte porque em termos reais o sucesso do atentado não favoreceria de forma alguma o ex-Major Alfredo Reinado (ex-MAR) nem o ex-Tenente Gastão Salsinha (ex-TEGAS) para ocupar os cargos de Presidente da República e de Primeiro-Ministro. Assim, pode eventualmente pensar-se que os acontecimentos serviriam a terceiros.

Neste artigo irei centrar-me nas polémicas lançadas antes e depois do duplo antentado de 11 de Fevereiro, tais como, o cenário de eleições antecipadas desejadas pela Fretilin; a verdade dos rumores; o fenómeno ex-Major Alfredo Reinado (ex-MAR); a Carta de pressão de Marí Alkatiri (MA); a convergência de objectivos; o conceito biombo e o democratismo descolorido; alvo do atentado falhado; a página da rendição; a petição abraça novos rumos; Timor Leste no olhar dos analistas e na imprensa de expressão portuguesa.

a) Eleições Antecipadas

O cenário de eleições antecipadas é um velho sonho promovido pelo Comité Central da Fretilin (CCF). Repare-se que em plena crise politico militar de 2006 a Fretilin afirmou que eleições só em 2007. Assim foi. Após as eleições legislativas de 2007, S.E. o Presidente da República DR. José Ramos Horta optou por convidar a Aliança Maioria Parlamentar (AMP), em plena concordância com o texto Constitucional, para formar o IV Governo Constitucional para a legislatura de 2007 e 2012. A escolha teve como fundamento a “estabilidade governativa”. Um critério que a Fretilin disse e diz não aceitar. A AMP formou-se com uma série de partidos para garantir a formação de um governo. Pelo contrário, a Fretilin não chegou a reunir as forças políticas necessárias a uma governação estável que o país precisava. As duras críticas da Direcção da Fretilin nascem nessa altura e algumas delas concretizadas em acções de rua como forma de contestação contra a decisão do Chefe do Estado, afirmando: “a decisão do Presidente da República é incosntitucional e não respeita a vontade do povo” insistiu Lu´olo num comunicado à imprensa (Lusa, 2007). Só quem não sabe ler a Constituição da República Democrática de Timor Leste poderá afirmar tal.

Por sua vez, Mari Alkatiri utilizou termos de “violência política” (expressão do Eng.º Mário Carrascalão) para ameaçar as outras forças políticas que desvalorizaram o número de votos e interpretar os resultados alcançados nas eleiões à luz da Constituição da República. Como por exemplo, «a Fretilin não abdica da vitória (obtida), em qualquer cenário» (Expresso, 2007) não se sabe se estas palavras traduzem a impossibilidade de negociação pós-eleitoral? Em diante “caso a escolha do Presidente da República recaia sobre AMP, a Fretilin abandonará o Parlamento Nacional para ver o que vai acontecer a seguir” (JS, 2007). Uma posição que dividiu CCF em termos de opinião. Estas teorias, chegaram a fazer nascer um grupo chamado “MONALPOM – o Movimento Nacional Povo Maubere” que tinha como missão paralisar as actividades do Governo (JS, 27.08. 2007).

Seguidamente, aparece o senhor DR. José Texeira conhecido com o seu artigo “…a inconstitucionalidade da decisão do Presidente da República…” (JL, 2007). A análise não trouxe nada especial. Tratava-se de uma opinião subjectiva que fortaleceria apenas a posição da victória númerica (corpo) e esqueceu-se da interpretação (alma) das possibilidades admitidas pela Constituição da República: Governo formado pelo partido vencedor ou por uma maioria parlamentar, ouvidos todos os partidos políticos (ver texto const). Se a Fretilin achava legal quando se falou de “um Primeiro-Ministro Independente” porque não reconhecer um governo saído duma maioria parlamentar?

A desmarcação de presença na cerimónia de tomada de posse do IV Governo Constitucional da RDTL era outra contestação públiba lamentável. Estas posições contraditórias não traduzem qualquer acção exemplar, muito menos respeitar a Constituição da República que todos reconhecem como a obra-prima da Fretilin.

Em resumo, não há argumentos para a realização de eleições antecipadas. O chamado governo “ilegítimo” ou “inconstitucional” foi apenas uma reação pessoal de Marí Alkatiri contra Xanana Gusmão por, entre outras razões, ter criticado a sua reeleição como Secretário-geral do partido que fora eleito por “braço no ar”. Trata-se de uma constestação típica mas isto agora foi dito em coro. Mesmo assim, a Fretilin está representada no Parlamento Nacional e participa continuamente nos debates do programa do Governo. Uma oposição forte, saudável e democrática é essencial ao processo. Em plena crise de 2006, a Fretilin defendeu que em termos legais, as eleições só em 2007 e assim foi. Seguindo a lógica, só haverá eleições em 2012. O que é preciso ver com atenção é os quês e porquês da proposta de eleições antecipadas em 2009. Há problemas como o desemprego, a pobreza, a falta de acesso à educação e o analfabetismo que merecem especial atenção de todos, do que, as eleições.

b) Rumores transformados em factos

Há pouco tempo deixei de acreditar em boatos mas o acontecimento triste e drástico contra S.E. o Presidente da República, o Primeiro-Ministro e a morte inesperada do Major Alfredo Reinado obrigou-me a levar em conta os rumores como sinais de alerta. “…Já se ouve falar que ia acontecer alguma coisa mas como Timor é um país de boatos, ninguém dava conta disso…” confessou D. Basílio (JS, 2008). Afinal “o boato” tornou-se realidade…

Pelo que os ditos “surat kaleng” (propaganda falsa) que circulam por aí não devem ser considerados como propagandas baratas, mas sim, uma espécie de pista que nos possa guiar para descobrir o verdadeiro arquitecto do atentado falhado. É preciso analisar o circular de “foward notícias” divulgada em bahasa Indonésia (grupos, 2008) em que ligava o atentado com o desejo de eleições antecipadas (ver timoronline e TLN)). Outro artigo escrito por Vicente Maubocy (STL, 2008) veio reforçar ainda mais a tese da decapitação do Estado. As pistas indicadas tiveram uma reacção muito estranha de alguns dirigentes da oposição que chegaram a ameaçar levar a tribunal aqueles que fizeram “propaganda falsa” contra o seu partido. Parece tudo falso mas os esquadrão da morte criados em 2006, não foram filmes de ficção, assim como, as emboscadas contra o Chefe de Estado e o Primeiro-Ministro foram outras grandes lições dos boatos postos a circular em diversos meios. Os rumores também devem ser alvo de profunda investigação.

c). O fenómeno ex-MAR

O ex-Major Alfredo Reinado era uma figura mediática na crise política e militar de 2006. A discriminação Lorosae / Loromonu ao não ter sido resolvida por quem de direito teve consequências fora do seio da estrutura militar, ao ter sido assumido pela chefia das F-FDTL com o acto de “despedimento” de 595 militares (40% desta força). O ex-MAR aparece justamente para reclamar da decisão tomada pelo Comando das F-FDTL e mostrar que o Governo de Inclusão de Marí Alkatiri estava afinal a excluir uma “fatia” importantíssima de uma das estruturas basilares do Estado, dando o tiro no próprio pé.

Por esta e outras razões, o ex-MAR ganhou fama e tornou-se uma figura chave para os peticionários e os jovens oriundos de 10 distritos. O próprio Marí Alkatiri reconheceu isso “…o Major Alfredo Reinado tinha apoio significativo de jovens, felizmente não são todos….” (Lusa, 2008). A morte dessa figura era imprevisível porque aqueles que acreditam nele nunca imaginaram que o ex-MAR nasceu para matar o Presidente da República e o Primeiro-Ministro de Timor Leste. Enfim, a morte dele poderia ser considerada como o fim de um ciclo de crise prolongada mas também diria como início de uma nova rivalidade caso o Governo não declarasse imediatamente o estado de sítio para acalmar os ânimos. Há gente que teve opinião contrária com “o estado de sítio prolongado” (Lusa, 2008) porque para além do perigo é uma oportunidade para reactivar o grito: “… A entrega do poder à AMP significa um “assalto ao poder” nas nossas mãos e é uma violação à Constituição …” e “… Timor-Leste não terá nunca estabilidade. …”, advertiu Lu´olo (JS, 2008).

Infelizmente há gente que não quer mesmo a estabilidade. O atentado poderia provocar o colapso do Estado e os peticionários continuariam a monte; os refugiados não regressariam para casa e certamente as soluções tardariam. Só assim, percebe-se que ao afirmar-se: “AMP é incompetente, não sabe governar ou governo ilégitimo…” continua a ser um eco audível (pressão para eleições antecipadas).

Lá está o perigo lançado ao Estado e a oportunidade aproveitada por aqueles que não querem estabilidade política e governativa. Tudo o que favorece eleições antecipadas é para não perder. Convirá não esquecer que o cenário de eleições antecipadas em 2006 não se tornou realidade exactamente porque poderia levar a uma instabilidade ainda maior. Falar, agora, em eleições antecipadas em 2009 parece algo do reino delirante.

A chamada “oposição democrática” não se mostra coerente, reflexiva e atenta ao evoluir pela positiva das próprias condições políticas e sociais do país. A adopção de medidas ou processos que o decorrer do tempo naturalmente desactualizam e que a História noutros continentes demonstra, pode levar-nos a uma contínua repetição de erros nada desejáveis para o mais novo país do Séc.XXI. Não nos parece que os maus exemplos sejam para seguir. Parece que a oposição já não pode agir de outro modo, como se não tivesse qualquer outra saída.

O ex-MAR desenhou uma história com um final que não era esperado. Seja na sua acção, seja nas suas consequências. Não é desejável a morte de absolutamente ninguém.

d) Carta de Marí Alkatiri

A visita do Secretário-geral (SG) das Nações Unidas Ban Ki-moon à Timor Leste teve como objectivo manifestar o seu apoio ao IV Governo Constitucional liderado por Kay Rala Xanana Gusmão. Na mesma altura, a conversa do dia era a carta do ex-Major Alfredo Reinado dirigida à ONU em que se exigia, entre outras razões, a Justiça e que as autoridades estejam atentas às reivindicações dos peticionários (STL, 2007).

Depois do atentado falhado de 11 de Fevereiro de 2008, o lider do PSD Engº. Mário Carrascalâo veio revelar outra carta que teria sido Mari Alkatiri a escrever ao SG da ONU Ban Ki-moon cujo objectivo era pressionar o Presidente da República de Timor Leste para convocar eleições antecipadas em 2009 (Lusa, 2008). A surpresa verificada nesta carta foi o pedido de interferência exterior para pressionar o chefe de um Estado Soberano. É impressionante. Não é isto uma agressão à Constituição da República? O pedido de “interferência” no Estado Soberano por parte de MA não é contraditório com o seu próprio posicionamento?

A não reacção de Ban Ki-moon deu-nos a entender a razão: “não interferência nos assuntos internos de um estado”. Não acredito na existência dessa carta mas se for verdade, Mari Alkatiri tinha vendido a dignidade de um Estado Soberano por um simples desejo - “eleições antecipadas”. Um comportamento destes é intolerável e não demonstra qualquer boa preocupação com os interesses do Estado e da Nação, mas sim, interesses pessoais e partidários.

Para além disso, não há sinais claros que possam relacionar a carta com aquilo que foi dito várias vezes “sou político mas não deixo de ser constitucionalista” insistiu Marí Alkatiri (Lusa, 2007). Um verdadeiro constitucionalista saberia a abrangência, limites ou fronteiras da sua obra. As eleições antecipadas à todo custo, mesmo que, violando os princípios da democracia e da Constituição da República? Na democracia aceita-se as diferentes formas de pensar, desde que obedeçam âs regras do jogo e não saltar por cima dos princípios de um Estado Soberano e tão pouco por cima da Constituição com cartas.

e) O conceito Biombo e Democratismo Descolorido

O conceito Biombo significa “montagem articulada” de coisas ou de pessoas que conseguem dividir ou isolar alguma coisa (acção qualificada dos invisíveis). É um conceito invulgar em termos de uso mas que parece dar sentido quando se relaciona com outros conceitos, como por ex., o “democratismo descolorido” que significa democracia sem cor. É um exemplo para ilustrar o desejo do «partido único» que pretende estar mais tempo no poder com menos possibilidade de escolha. Dentro dessa lógica as pessoas que têm opinião contrária às do partido único são perseguidas. O «grupo petrus» criado pelo regime de Soeharto era outro exemplo que junta os dois conceitos: «Biombo e Democratismo Descolorido». Uma força invisível que existe nos discursos e nos actos para contrariar os novos valores da «democracia participativa».

O “artista” que desenhou o atentado falhado foi quase acto do biombo (grupo armado invisível na cidade). Se houver alguém que encoraja o ex-TEGAS para não se render, este sujeito está a desempenhar a missão de biombo, porque, no fundo, os biombos são pessoas com interesses económicos ou políticos que querem conquistar o poder a todo custo, utilizando a técnica do biombo. Há biombos que vivem à sombra dos «fracos» que podem ser influenciados facilmente com palavras, dinheiro ou um emprego.

O atentado contra as duas altas figuras do Estado, o Presidente da República e o Primeiro-Ministro não pode ser entendido apenas como uma iniciativa pessoal do ex-MAR, não devendo portanto excluir-se a hipótese de envolvimento de terceiros. A declaração do pai adoptivo do ex-MAR apontaria para a possibilidade de um acto pessoal: “…se o Major Reinado fez coisas boas ou só fez asneiras, vai ser enterrado assim com todas essas suas virtudes e asneiras…em diante, “…o ex-MAR achou que dois anos é muito tempo e Ramos Horta era a única pessoa que tinha competência para resolver o caso…” (Lusa, 2008). Se for aceite assim, a morte do ex-MAR ficaria como um assunto encerrado. Bom, o que interessa é que ele não seja acusado como o único principal culpado do espectáculo violento de 11 Fevereiro porque os mortos já não falam. Estou convencido que o ex-TEGAS e os seus elementos respeitam os mortos e confessem a verdade no Tribunal. Só assim poderemos chegar a uma conclusão sobre os motivos do atentado falhado sem atribuir unicamente culpa ao ex-MAR e ex-TEGAS.

f) Alvo do atentado falhado

Em 2006, o Comandante Railos, chefe da Esquadrão de Morte veio revelar uma lista de nomes que iriam ser eliminados. Mais uma vez, não foi um filme de ficção. O que permaneceu misterioso foi se nessa lista constavam também os nomes de Ramos Horta e Xanana Gusmão? Porque o atentado falhado de 11 de Fevereiro era outra tentativa de eliminação, apesar de trazer também outras consequências “Decapitação do Estado”.

A crise de 2006 veio confirmar a má relação instalada no I Governo e já se ouviram vozes com a palavra “traidor” contra Ramos Horta e Xanana Gusmão. As más relações agudizaram-se quando o Presidente da República atribuiu poder ao Xanana Gusmão para liderar o IV Governo Constitucional assegurado pela Aliança Maioria Parlamentar. Algo que no entender da Fretilin não foi uma decisão constitucional baseada nos resultados alcançados nas negociações pós eleitorais, mas sim, uma simples troca de poderes entre Xanana Gusmão e Ramos Horta. Uma leitura que tem pouca lógica constitucional (basta ler a Constituição em relação a esta matéria). Este pequeno percurso ajuda-nos a perceber os quês e porquês da tentativa de destruir politicamente Xanana Gusmão e Ramos Horta (expressão do A.B. Magalhaês, 2008). Nada tem a ver uma com a outra, mas o que certo é que a morte deles nos conduziria inevitavelmente à realização de eleições antecipadas tanto presidenciais como legislativas que MA já tinha insistido que deveriam acontecer em 2009 porque em termos constitucionais “a debilidade física ou morte do chefe do governo permitiria novas eleições”. (isto foi altamente ventilado, analisado e objectivado em diversos blogs…). Não sei o que as pessoas pensam sobre este cenário mas é custoso encontrar líderes de prestígio Internacional como Ramos Horta e unificador como Xanana Gusmão. Como iria ser o futuro do país se as duas figuras mais emblemáticas desaparecessem do panorama político de Timor Leste? Matá-los agora significa matar a Paz e a Democracia Participativa.

A falha de segurança na capital (Dili) foi evidente. A entrada, permanência e acção de grupos armados denota insuficiência a nível de segurança, embora se tenha considerado como causa do cancelamento do mandado de captura contra o ex-MAR o abaixamento desse mesmo nível de segurança. As International Security Force (ISF) e as United Nations Police (UNPOL) achavam que deviam ir de férias ou podiam dormir até tarde, em vez de fornecer segurança 24h00 por dia aos cidadãos, inclusive aos governantes que era a principal missão dessas forças. Mesmo assim, alguns ainda têm coragem de se defender que a culpa era do lado do Presidente da República para desmentir o desmentido entrada de grupos armados em Dili sem terem sido detectados. É assim “…quando o mal já está feito, o outro é culpado leva a remediação…”.

Concordo que deve haver uma investigação profunda e imparcial para se saberem os motivos dos atentados e quem foram os seus interventores directos e indirectos. O mandado de captura contra ex-MAR em Same e a entrada surpresa das ISF na zona de Ermera onde o ex-MAR se encontrava acantonado semanas antes do atentado eram alguns dos motivos do ataque mas são insuficientes para clarificar os detalhes do atentado. Por isso, todas as pessoas que querem estabilidade, paz e harmonia em Timor Leste, deviam juntar forças com os Órgãos de Soberania para identificar os biombos dos “atentados falhados” que não estariam longe dos objectivos políticos sobejamente discutidos em blogs e até, em alguma imprensa.

g) Convergência de objectivos

O que era sabido em 2006, o ex-MAR foi quem condenou vêemente a decisão de Marí Alkatiri, quando este apoiou propositadamente a decisão de Taur Matan Ruak em expulsar 595 militares. Outra razão tinha a ver com a ordem dada às F-FDTL para intervir na cidade nos dias 28 Abril e 24 de Maio de 2006 sem ter sido consultado S.E. o Presidente da República Kay Rala Xanana Gusmão na qualidade do Comandante Supremo das Forças Armadas. Se não fosse ex-MAR, Mari Alkatiri não teria chegado ao título de ex-Primeiro Ministro de Timor Leste.

Contudo, o tempo passa, as coisas mudam e a caravana avança. Naturalmente que o ex-MAR também mudou de opinião e posições quando se diz que “Xanana Gusmão e Ramos Horta de hoje já não são como eram no passado” (Metro TV, 2007). Ainda um dia veremos quem terá, ao longo da História, mudado de posições (não confundir evoluir com mudar literalmente). A partir daí, alguns artigos de opiniâo postos nos blogs, nos grupos ou fórum de discussão já previam que no ponto de vista do discurso, cedo ou tarde, o ex-MAR viria a ser o “novo aliado” de MA (FH, 2008). A partir do momento, em que, certas pessoas ligadas à Fretilin tinham espalhado rumores que ía acontecer alguma coisa, quê coisa? Essas pessoas deviam, agora, ser chamadas para prestar declarações sobre tal coisa «misteriosa».

Outra cena engraçada foi a disseminação e a distribuição gratuíta da entrevista do ex-MAR em todo lado. Inicialmente, parecia-me que era um acto de boa vontade em complementar o projecto do Governo em distribuir Jornais nas aldeias para manter a população informada sobre a transparência da governação e do andamento da política nacional, mas afinal, era uma campanha de descredibilização do Estado. Portanto haverá que indagar o porquê da mesma ter sido feita. Teria seguramente objectivos- quais foram eles? Estou certo, de que, o CCF não esteve envolvido nisso mas em termos legais “o silêncio significa a concordância” com alguma coisa.

É preciso questionar o porquê do cenário de convergência de objectivos. Como se explica o “encosto” da Fretilin a Major Alfredo Reinado – situação admitida claramente por Mari Alkatiri no final do ano de 2007.

h) A página de rendição

Render ou submeter-se à Justiça não é uma humilhação. É um acto de humildade. É a melhor forma de cooperar com o Estado. É acto que traduz boa vontade de ambos em resolver a crise iniciada em 2006 e o atentado falhado de dia 11 de Fevereiro que por um lado, foi uma tentativa de decapitação do Estado e por outro, tocou a consciência dos peticionários para o facto de que a resolução do caso não passa pela morte do Chefe do Estado nem do Primeiro-Ministro. Nem de ninguém!

O acantonamento dos peticionários logo a seguir do atentado significa o reconhecimento, de que, o ex-MAR e ex-TEGAS foram longe demais naquilo que deviam ter exigido. As armas não resolvem os problemas, multiplicam-os. A submersão do Estado também só cria novos problemas ainda mais graves. Há outras formas de exigir a justiça e o melhor caminho seria a submissão à Justiça.

A rendição abre uma nova página para a política nacional, obviamente. Mais que isso, se existir algum envolvimento de “terceiros” no atentado falhado, a rendição evitaria a constante influência e o uso indevido dos peticionários para servir os seus interesses. Assim, a rendição demonstra o desejo de não querer ser vítima de ninguém muito menos daqueles que querem eleições antecipadas a todo custo! Não faz sentido violar um acordo formal para esperar pelo Presidente Ramos Horta que está numa situação frágil em termos de saúde. O que interessa agora é cumprir as ordens de rendição e estancar esta propenção para a desestabilização.

A rendição dos peticionários e o abandono gradual das tendas provocaria saudades dos terceiros que pretenderiam crise prolongada. Se houver pessoas preocupadas, porque eram parte do problema e agora querem ser também parte da solução à todo custo. Não é isso que povo quer, farto que está da miséria em que toda e qualquer desestabilização coloca. Nesta lógica, governar não é agradar o gosto das partes nem para absorver fâs. Mais vale dizer “anjing mengongong kafila berlalu” às campanhas dos especialistas dos zigue zague que não olham para o atentado como uma ameaça séria à integridade do Estado Soberano.

i) Petição – novos rumos

O silêncio dos partidos da oposição ao Governo de Inclusão de Marí Alkatiri (2002/2006) foi a origem do surgimento de novas forças de pressão pública que envolveu a Igreja, mais tarde, os peticionários e o grupo armado de ex-MAR para parar com o “abuso do poder” em 2006. Hoje, parece que o Governo AMP terá encontrado uma solução aceitável para os peticionários acantonados para escolher entre a vida militar, vida civil ou desenhar um novo rumo fora de Timor. As opções em discussão são importantes para o futuro de cada peticionário, pensando que não há melhor opção na vida “enquanto há vida há esperança e a escolha e lutar por ela”. A escolha deve corresponder às competências pessoais e académicas de cada um. A aceitação das três propostas do Governo, traduzem o nobre interesse do regresso da “PAZ DURADOURA” com as seguintes condições:

Primeiro, aos peticionários que querem regressar aos Quarteis isso significa o desejo de reabraçar a profissão deixada à força há dois anos. E a aceitação dentro das F-FDTL significa o reconhecimento mútuo, embora de outra forma, dos erros abordados intra-instituição em 2006 (um acto vale mais que mil palavras). Se a maioria optar pela reintegração poderá ser entendido também como forma de sarar as feridas e acabar com a discriminação étnica entre Lorosae e Loromonu. É o que se deseja.

Segundo, aqueles que querem seguir uma vida civil é bom porque ninguém nasce militar. Há competências para além das competências de um militar para resolver os problemas do dia-a-dia. As experiências que estes tiveram anteriormente também servem para o novo emprego (ver algumas soluções do Tavares, V., FH, 2008).

Terceiro, para aqueles que sonham ir trabalhar para fora de Timor Leste terão pela frente novas oportunidades e desafios. Como tal, esta última opção traria as suas vantagens e desvantagens. O que seria mais vantajoso para um aventureiro é esquecer o passado, conhecer outros modos de viver, novas culturas entre outras coisas e avançar para uma nova vida. A desvantagem seria a distância, a ausência dos familiares e o recomeçar de uma nova etapa que exige novas capacidades de adaptação.

Estou certo, de que, o desemprego e a discriminação estiveram no fundo da problemática da crise, “a pobreza é a pior forma de violência” [M. Gandhi]. Por isso, para quem parte não significa uma expulsão, mas sim, uma opção digna em «partir para se desenvolver e regressar desenvolvido». Um investimento que o país poderá aproveitar num dia mais tarde. Esta decisão implica a «ética do necessário», isto é, nada de exigir nem mais nem menos do que aquilo que cada um merece. Quando houver aceitação, cedo ou tarde, melhores oportunidades virão.

j) Timor Leste no olhar da imprensa de expressão portuguesa

De uma forma geral, a imprensa e alguns comentaristas de serviço não facilitaram em nada a compreensão do que acontecia em Timor Leste. A imprensa portuguesa, por exemplo, tem tido um papel fundamental na informação sobre a crise de 2006. Apesar de ser importante, agora reaparece com uma postura que demonstra alguma parcialidade em termos de exploração de notícias que agradam de alguma forma alguns e magoam muitos outros. Na sua maioria, do ponto de vista político, põe em causa a soberania do Estado e dividem os timorenses.

A recente visita de S.E. Presidente da República Dr Ramos Horta ao Vaticano não ter sido destacada com interesse em Portugal, porquê? Para falar do atentado de 11 de Fevereiro, Marí Alkatiri foi a primeira pessoa contactada para prestar declarações, como se constactou desde a primeira hora através dos canais televisivos portugueses, não se tendo ouvido declarações por parte do Ministro dos Negócios Estrangeiros que lida com questões de interesse exterior. Outro caso quase idêntico foi a deslocação de S.E o Presidente da República Interino Dr. Fernando Lasama de Araújo a Darwin que não foi destacada pela imprensa portuguesa como foi com Marí Alkatiri que esteve ao mesmo tempo em Australia a título pessoal. Notam-se aqui certas tendências em não distinguir entre discursos oficiais e pessoais. Os interesses particulares de Marí Alkatiri têm sido mais explorados e divulgados comparativamente com as do Chefe do Estado interino. Quem é Marí Alkatiri no meio disso tudo? Será que há tentativa de despromover a autoridade timorense, os comentários oficiais ou opostos aos do Marí Alkatiri na imprensa de expressão portuguesa? Os comentários infelizes como: “amnistia ao Major Alfredo Reinado e o seu grupo e as eleições antecipadas” que não eram parte do atentado foram amplamente divulgados com interesse. Porque não abordou a imprensa a actuação do Governo em prevenir o caos instalado depois de o Presidente da República ter ficado gravemente ferido e a morte do ex-MAR que era líder de uma camada de jovens que se tratava de início de uma nova rivalidades. Há que questionar o porquê destas tendências. Parece-me que querem fazer de MA porta-voz daqueles que querem fazer anti-tese à folosofia “nós não queremos mais nada, a não ser ajudar o povo timorense”.

k) Timor Leste não deveria ter duas caras!

Em Portugal, foram passadas informações (a tentativa de mudar a opinião pública), em que, acusaram o Primeiro Ministro de Timor Leste Xanana Gusmão e o Presidente da República Dr. Ramos Horta de defenderem os interesses australianos mas deixaram passar de lado o mais destacado na imprensa de expressão portuguesa DR. Marí Alkatiri que representaria os interesses de certos países da CPLP. Timor Leste não é e nunca será terreno de lutas de interesses dos terceiros. Se for verdade nenhum deles merece governar Timor Leste.

Como país independente, Timor Leste não poderia ter duas caras. Timor Leste é um País Soberano. Os seus direitos deveriam ser recohecidos e respeitados e as declarações oficiais das autoridades deveriam ser as mais destacadas, se quiserem, porque eles representam o rosto do Estado e do Povo amado e sofredor.

Uma preocupação pessoal mas que se encontra partilhada por muitos, nomeadamente, o General T.M.Ruak “…Foreign business men not to intervene the country’s internal politics…”, reforçada pelo Mário Carrascalão “…the attempted assignation to President José Ramos Horta on February (11/2) is part of international political conspiracy…” (DN, 3/3/08). A interferência externa é entendida de várias formas: influências vindas de fora do grupo ex-MAR ou mesmo vindas de fora de Timor. Espero que a CPLP não esteja mergulhada nisso. Se a intervenção da “tv four-corner” em 2006 era vista como uma interferência nos assuntos internos de Timor, então, a imprensa de expressão portuguesa não deveria agora fazer o mesmo. Na realidade, os pensamentos divisionistas não servem para nada. Mais vale “…estar no meio porque os pensamentos divergentes só dividem e põem os timorenses a matar-se uns aos outros…” (Magalhâes, B., 2008).

l) O quê deveriamos fazer?

Internalmente, somos um país independente há quase seis anos mais ainda há arestas por limar em termos de liderança. As eleições antecipadas a todo custo não é o desejo genuíno do povo. A educação, Sáude, Pobreza e o Anafabetismo deveriam ser prioridade ou centro de preocupação. Nada se resolve com pedidos de intervenção ou pressão do exterior ou, atirar culpa aos terceiros. Demonstramos que conhecemos muito bem o mundo que nos rodeia, mas pouco sabemos sobre nós mesmos. Nota-se quando detestamos a presença Internacional mas ninguém larga se quer do uso das armas ilegais para fazer política. Só a “união” possa destruir as duas pedras “os biombos e democratismo descolorido” que persistem nos sapatos do Estado.

O que interessa é pensar como timorense. Construir um Estado baseada nas raízes culturais que temos sem influência de ninguém é fundamental. É importante gerir eficazmente as nossas forças, atribuindo-lhes competências profissionais necessárias para que o país não esteja mergulhada permanentemente na violência. «Ninguém ganha com a violência e quem utiliza violência como meio para atingir os seus objectivos perde a razão» (palavras da S.E. Presidente da República à RTP, 2008). Renunciar às armas é uma necessidade para não «conduzir o país ao abismo e colocar a democracia em risco» (pe. Maubere, 2005).

Cada um deve assumir parcialmente as suas culpas na crise inciada em 2006. O povo está a sofrer as consequências das «lutas políticas de olhos fechados» inciada em 2002. O que interessa agora é reavaliar o ponto da situação em que estamos. É altura para lutas políticas internas? Nada justifica uma luta política com violência pelo meio. Nesta lógica, a razão parece estar do lado daqueles que defendiam desde início o pacto de Unidade Nacional. Repare só, dantes não havia constituição, o povo vivia sem problema sob respeito mútuo. Agora, somos um país independente com Orgãos de Soberania bem montados e blindados de regras, tudo parece descontroláveis. Lamento.

Temos que sair desta gaiola invisível e dissipar, uma vez por todas, os biombos que querem transformar timor num espaço de crise prolongada, lugar de atentados e terreno de disputa de interesses dos biombos, inviabilizando assim, a paz genuína e os caminhos do progresso que Timor Leste deve seguir.

1 comentário:

  1. Muitos Parabens Companheiro Felix de Jesus !!!

    Este seu artigo é mais que merecido de ser lido, inspirado e refletido por todos os timorenses que querem a paz, a harmonia e a viver em ambiente tranquila para refrescar o estado de corpo e da alma.
    Estou certo de que se esse seu sentido de estado, o entender das situações, o imensurável conhecimento cultivado da cultura intelectual e do bom senso residisse na nossa sociedade, Timor-Leste já é outra realidade depois do derradeiro ocupantes "go home" em 1999. É de lamentar que ainda há algumas figuras "históricas" se comportam como adolecentes ignorantes. Estes deviam ter a vergonha nas caras com os novatos que incansavelmente dar a lição dia e noite sobre os sentidos de estado e de democracia, da humildade e a dignidade do tão desejado e estimado estado no seio da família mundial de estados a ONU.

    Mais uma vez Parabens !

    Victor Tavares

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