A Igreja Católica, sobretudo através do magistério dos últimos papas e do Concílio Vaticano II, louva todos os esforços no sentido da paz. De um modo geral, a paz é, na doutrina social da Igreja, uma virtude eminentemente positiva e uma tarefa nunca acabada. A paz é simultaneamente pessoal e social. No aspecto social, o Magistério relembra os aspectos do desenvolvimento económico, cultural e familiar e, sublinha a harmonia entre o desenvolvimento económico e o progresso social. Neste domínio sublinha-se que não há paz sem justiça e, consequentemente, não há paz sem justiça social. Esta, porém, deve ser movida por uma autêntica caridade social. Como dizia Santo Agostinho, se o amor sem justiça não passa de hipocrisia, uma justiça sem amor não senão crueldade. Com toda a exactidão, portanto, a paz é chamada “obra de justiça” (Is. 32,7).
Muitas vezes os conflitos surgem, porque, não há justiça. Por trás de cada conflito pode notar-se facilmente uma drástica negação de justiça. A injustiça nasce da falta de respeito pela dignidade da pessoa humana e pelo desprezo dos seus direitos fundamentais. Desprezara pessoa humana é prepará-la para o conflito. A justiça fundamenta-se pelo respeito pelos direitos humanos. Justiça e paz não são conceitos abstractos nem ideais inacessíveis; são valores inseridos no coração de cada pessoa, como património comum. Indivíduos, comunidades, nações, todos são chamados a viver em justiça e trabalhar pela paz. Beato João Paulo II havia declarado: “[…] quando os direitos humanos são ignorados ou desprezados, quando a procura de interesses particulares prevalece injustamente sobre o bem comum, então, inevitavelmente está-se a semear os gérmenes da instabilidade, da revolta e d a violência” (João Paulo II, Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 1999, nº1).
A exigência de justiça aumenta no mundo actual e a resposta a tal exigência ou não chega ou chega lentamente. O mesmo Beato João Paulo II afirmou também: “Não atender a tal exigência poderia propiciar o irromper de uma tentação de reposta violenta, por parte das vítimas da injustiça, como acontece na origem de muitas guerras. As populações excluídas da partilha equitativa de bens, destinados originariamente a todos, poderiam perguntar-se: porque não responder com violência a quantos são os primeiros a tratar-nos com violência (JP II, Sollicitudo Rei Socialis, 10,2). Tal situação verifica-se não só no âmbito mundial, mas também na vida social de cada País: “há aqueles – os poucos que possuem muito – que não conseguem verdadeiramente “se”r, porque devido a uma inversão de hierarquia de valores, estão impedidos pelo culto do “ter”, e há aqueles – os muitos que possuem pouco ou nada – que não conseguem realizar a sua vocação humana fundamental, porque estão privados dos bens indispensáveis” (Ibidem), 28,6).
Neste período de crise económica, nunca é demais trabalhar pela paz e pela justiça.
Porto, 29 de Janeiro de 2012.
Dom Carlos Filipe Ximenes Belo
Prémio Nobel da Paz 1996.
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