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20181203

Abilio de Araujo: Carta aberta ao Sr. Inácio de Moura Barlaque – Sigilo ou Enigma?

Autobiografia de Abilio Araujo
Forum Haksesuk  sei publika  artigu ne'ebe konaba "Berlake", ne'ebe  envolve Timor oan sira ne'ebe iha biban ne'eba, tinan 1969, liu Jornal Timor nian hanesan: A Voz de Timor, Seara, no seluk tan. Timor oan sira ne'e mak: Abilio de Araujo, Nicolau dos Reis Lobato no Francisco Borge da Costa. hahu ona defende identidade Cultural povo Timor-Leste.

Forum Haksesuk cita ka foti husi Livro autobiografia Nicolau dos Reis Lobato,autor Pe.Martinho Gusmão, ho titul, "Sabemos, e Podemos e Devemos Vencer", publica iha Jornal A Voz de Timor, Seara, Jornal Militar do Comando Territorial Independente de Timor (CTIT). Debate konaba Barlake, Abilio de Arujo konsidere nudar "Renascimento Cultural em Timor" (hare prefacio do livro, pag. 28)».  


Nicolau Lobato mos tama iha polemika debate, cita, iha ninia artigu publika iha revista SEARA, «Na sequencia de uma Carta Aberta», ne´ebe sintese husi  ninia pensamento: "Quando  me refiro á cultura de um povo, resolvo todo um mundo de conceitos e valores internos, do espírito, tais como o seu sentir, e pensar, a sua folosofia da vida, a sua elevação moral,a sua religião, a sua línguas, o repertório das suas tradições, em suma, o peso da sua história e o vigor das suas vivencia actuais encobertas em formas mais ou menos convencionais do dia-a-dia (pag.278)".  Francisco Borja da Costa, envolve iha polemika ho ninia Poesia, «O rosto da tua passagem».

Debate intelektual ne'ebe autor nain tolu (3) Abilio de Araujo, Nicolau Lobato no Francisco  Borja da Costa hodi hasoru autoridade kolonial iha tempo  ne'eba, tinan 1969/70.Maske liu no besik ona tinan 50, ninia valores kontinua hatutan ba jerasaun sira tuir.

Forum Haksesuk  hahu publika dahuluk, karta aberta husi Abilio de Araujo hodi hatan Inacio de Moura nia artigu, "Carta aberta ao Sr. Inácio de Moura Barlaque – Sigilo ou Enigma? Por Abílio de Araújo (in Livro: «Sabemos, e Podemos e Devemos vencer», pag.251)".

Dili, 03 de Dezembro de 2018
Editor FH


Carta aberta ao Sr. Inácio de Moura
Barlaque – Sigilo ou Enigma?

Por Abílio de Araújo[1]

Li atentamente a sua poesia publicada em A Voz de Timor, intitulada “Mulher de Lipa ‘Feto’ de Timor”. Poesia graciosa, cheia de ditos, inspirada num tema sobre usos e costumes de Timor, foi, sem dúvida alguma, admirável. Mas francamente discordei em parte não no seu aspecto poético, mas sim, no que respeita ao seu conteúdo. Assim, resolvi escrever o artigo que a seguir publico sob o título “Barlaque – Sigilo ou Enigma?”, como futura fonte (se como tal, puder ser classificada), já que está bastante interessado em adquirir conhecimentos de maneira de ser da gente timorense, tão portuguesa2.

Eis-nos perante um tema pouco compreendido por muitos que ousam frequentemente ter voto na matéria. Será o barlaque um sigilo por encerrar em si motivos de vária ordem, fundamentados em conceitos difíceis de serem albergados por qualquer mentalidade, ou um enigma, que, por tal, é e continua a ser considerado pelos estranhos como o espelho mais límpido no qual transparece a “barbaridade humana”3 para o sexo frágil? De nenhuma maneira um enigma pois é fácil de ser esclarecido, uma vez que o esclarecimento provém de um juízo, mais ou menos fundamentado no assunto. Sigilo? Talvez, até porque o timorense, se franco por necessidade é desconfiado, sendo capaz de dar mil voltas ao cérebro (também o tem), para afinal tomar uma resolução afirmativa ou negativa, e no caso de afirmativa, ainda hesitar por uma afirmação total ou parcial. Assim, o barlaque ainda não é compreendido, quer por esta incompreensão ser derivada de uma tentativa de explicação errada dada por alguns timorenses ou a pouca vontade destes no sentido da divulgação da sua essência, quer pela pretensão de pseudo-historiadores que por fonte tem uma explicação ou comentário de outrem e o interpretam por um prisma pessoal e egoísta.

Etimologicamente, barlaque ou “barlaki” em tétum é a corrupção de BERLAKI que em malaio significa “ter marido”. Ora, sendo assim, é de emprego exclusivo e restrito à mulher. Ao contrário da teoria de certos povos que consideram a mulher, dependente e escrava dos instintos do homem, na concepção natural, o timorense situa a mulher no cume da honra, respeita e veneração, já que ela é a razão primária da existência humana. E, daí, a terminologia em tétum salientá-la como “feto maromac, murac mean” mulher sagrada como Deus e preciosa como os objectos doirados mais valiosos. A mulher passa a ter direito de possuir marido. O homem para a conseguir está sujeito a demonstrar provas, à semelhança dos povos da Antiguidade ou da Idade Media, onde homens se gladiavam pela mão de uma donzela, em casamento.

Estas provas no povo timorense, consistem na apresentação de tudo o que a família da mulher – “umane” – estipula aos membros de toda a família do rapaz – “feto san”.

Para melhor entendimento, vou narrar as principais características do casamento natural timorense4.

O casamento em tétum, diz-se “caben”. O “caben” reveste duas formas: o “hafolin” e o “hafen5 que é o casamento sem dote, no qual o homem, por não ter podido demonstrar o seu valor, vai viver na casa da mulher. O “hafolin”, termo que em tétum significa “valorizar” é o tipo de casamento com dote. Chama-se barlaque, segundo o conceito actual, o casamento acompanhado de “hafolin”. Aqui estamos: não há termo algum que nos faça entender compra ou venda da mulher, porque o próprio “hafolin” não é mais do que um “contrato” de casamento da repercussão universal6.  Onde então a razão por que o poeta afirma que a mulher de Timor

“DÁ O AMOR
EM TROCA DE “CARAUS”
E OUTRAS ALIMARIAS
...
TROCA O AMOR
POR LIBRAS, DINHEIRO
E OUTROS ENFEITES
QUE SÃO O DELEITE
DE PAIS E PARENTES
...
VENDE O AMOR
E NADA RECEBE...
TROCA O AMOR
POR GRANDE BARLAQUE “?

Quererá mostrar em linguagem poética que a mulher de Timor é motivo para os poetas como fonte de inspiração para a criação de poemas do amor? Ou será a manifestação de uma vontade de querer trazer à luz, um de entre os variados usos e costumes do Timor, em que a mulher é a causa da discussão, mas que em virtude de uma informação mal dada, tenha extraviado?

O “hafolin” caracteriza um casamento valorizado, não só no material, como as trocas de bens, mas também no aspecto moral porque o casamento desta ordem estabelece a mulher como um objecto de alto valor inacessível a qualquer. As doações obedecem a uma certa praxe. O quantitativo de bens – búfalos, libras, “belacs” – estipulado pelo “umane” ao “feto san” pode ser mais ou menos, conforme a posição mais ou menos elevada da donzela.

Reciprocamente há também doações da parte de “umane” revertendo geralmente em porcos, “tais”, mutissalas, dinheiro e objectos de adorno feminino.

Na mentalidade timorense, o casamento com dote significa honra da mulher, o orgulho das famílias dos nubentes – feto san e umane. A participação de todos os familiares com pequena ou larga contribuição reflecte a solidificação do elo da aliança entre famílias e a união dos seus elementos. 

Quem, senão uma mulher da certa posição humana dentro do seu grupo feminino com a sua honra e respeito de todos, tem o direito de possuir marido? Quem, senão um povo de uma índole moral elevada, embora no seu primitivismo, submerso na sua concepção animista, consegue estabelecer factos7 que povos de avançada civilização ignoram?

Enfim, Barlaque – Sigilo ou Enigma?

______________________
1 A Província de Timor, Semanário,  10 de Marco de 1970, Jornal militar do Comando Territorial Independente de Timor
2 A doutrina oficial do Estado Novo proclamava um “Portugal pluricontinental, multirracial e multilinguístico”
3 Vários autores consideravam os timores como “bárbaros”
4 Casamento natural mais propriamente dita “casamento pelo rito timorense a diferencia-lo do casamento canónico e casamento
   por registo civil
5 Hafen ou Habani, termos que caracterizam as situacoes em que o marido vai viver na casa da mulher ou dos sogros. Os filhos       
   deste casamento ficam a pertencer ao “Uma Lisan” da mulher
6 O Estado Português reconhecia o estado civil de barlaqueado
7 Instituir regras, comportamentos e Ritos

Fonte: 
Carta aberta ao Sr. Inácio de Moura Barlaque – Sigilo ou Enigma? Por Abílio de Araújo (in Livro: «Sabemos, e Podemos e Devemos vencer», pag.251)





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