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Portugal e Timor: 500 anos demasiado distantes

Publicado em: 27/11/2015 - 0:05:17

Portugal e Timor: 500 anos demasiado distantes

António Prôa
Vereador na Câmara Municipal de Lisboa
Lamentavelmente, em Portugal, as comemorações desta efeméride passam despercebidas

Timor-Leste celebra neste ano os quinhentos anos da chegada dos portugueses a Oecusse (atual enclave). Pese embora não seja possível determinar com exatidão o ano efetivo da chegada dos primeiros navegadores e missionários, estima-se que terão desembarcado neste território por volta de 1515.

Em Timor, os portugueses beneficiaram da abundância de sândalo (madeira aromática de elevado valor) e posteriormente da comercialização do café, cana-de-açúcar e algodão das plantações que introduziram. Paralelamente, os missionários católicos portugueses promoveram a implantação da religião católica entre os timorenses.

Hoje, cinco séculos depois, mesmo do outro lado do mundo, Timor-Leste conserva bem presente a marca da passagem dos portugueses seja na arquitetura, na cultura, nas relações familiares entre portugueses e timorenses ou na língua – talvez o “ativo estratégico” mais relevante.

Facto talvez inédito, mas seguramente muito pouco frequente, é a circunstância de um povo, outrora colonizado, celebrar a chegada dos seus colonizadores e cerca de cinco séculos de colonização. Esta circunstância deve merecer reflexão e respeito.

A comemoração em Timor-Leste de cinco séculos sobre a chegada dos portugueses a esta ilha é a prova mais evidente de estarem ultrapassadas eventuais feridas coloniais e que se evoluiu para uma relação exemplar entre dois povos, sem complexos e sem preconceitos.

O Governo timorense constituiu uma comissão organizadora das comemorações dos quinhentos anos da chegada dos portugueses que promove um conjunto extenso e diversificado de eventos de caráter cultural, desportivo e religioso que ocorrem sobretudo em Lifau (Oecusse) e Díli durante todo o mês de novembro. Entre estes, destacam-se a inauguração de um monumento em Lifau e a sessão solene de comemoração no dia 28 de novembro.

Perante o facto histórico e o empenho de Timor-Leste na comemoração dos quinhentos anos da chegada dos portugueses a Timor-Leste, Portugal tinha obrigação (para não se referir o “interesse”) de corresponder em empenho e consideração.

Lamentavelmente, em Portugal, as comemorações desta efeméride passam despercebidas. Assim, entre os velhos complexos do ex-colonizador (que em Timor foram ultrapassados) e a indiferença acentuada pela distância geográfica, a representação oficial portuguesa fica-se pela quarta figura do estado (não há justificação para não estar o presidente da Assembleia da República), esquece-se a possibilidade de estar presente um ex-presidente da república (por ex. Jorge Sampaio) e em Portugal não se conhecem eventos evocativos que correspondam, pelo menos, à importância que Timor-Leste conferiu.

Este afastamento de Timor-Leste é tanto mais estranho quando, ainda nos anos noventa, na sequência do massacre indonésio sobre os timorenses no cemitério de Santa Cruz, Portugal e o mundo “acordaram” para a situação dramática de violação dos direitos humanos a que foram sujeitos os timorenses. Nessa ocasião, mesmo longe geograficamente, todo o país se mobilizou em iniciativas de apoio que só cessaram depois de conquistada a independência Timor-Leste e reposto o devido respeito pelo povo de Timor.

Agora, perante o este gesto de maturidade histórica, quinhentos anos depois, Portugal fica mais longe de Timor-Leste porque não correspondeu à aproximação dos timorenses.

António Prôa
Vereador na Câmara Municipal de Lisboa
http://www.oje.pt/portugal-e-timor-500-anos-demasiado-distantes/
www.oje.pt

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