Presidência do Conselho de Ministros,
Senhor Agio Pereira
Assembleia da República, Lisboa, Portugal
15 de Junho 2015
“A Posição Estratégica de Timor-Leste no Contexto Asiático e da CPLP”
.
Suas Excelências
Sr. Presidente da Assembleia da República
Sr. Presidente do Parlamento Nacional
Presidentes dos Grupos Parlamentares
Suas Excelências Membros dos Grupos
Parlamentares
Distintos Deputados e colegas do Governo
Exmos. Senhores Representantes da Sociedade
Civil
Ilustres convidados,
Senhoras e Senhores,
.
Em primeiro lugar quero
agradecer o amável convite para participar nesta conferência. É para mim uma
grande honra poder dirigir-me a tão distinta audiência e sobre um tema que
tanto me apraz.
Os fortes laços de amizade com
Portugal e entre os povos da CPLP vêm de longe. Os Estados lusófonos estiveram
sempre na primeira linha do apoio à independência de Timor-Leste e
desempenharam um papel decisivo na consolidação política da nossa Nação.
Portugal, bilateralmente ou influenciando a União Europeia, tem sido um
parceiro determinante na ajuda ao desenvolvimento de Timor alémfronteiras. O
Brasil e Angola, pela sua experiência na extracção e comercialização de crude,
são igualmente aliados importantes de Timor-Leste.
Não posso, por isso, deixar
de, mais uma vez, aproveitar esta oportunidade para, mais uma vez, agradecer
todo o imprescindível apoio à nossa causa, à causa de Timor-Leste, por parte
dos povos irmãos espalhados pelo mundo, sem dúvida os grandes impulsionadores
da solidariedade internacional para com a luta que desencadeámos e para com
outros desafios que, ainda hoje, enfrentamos.
Senhoras e senhores,
Se olharmos para um mapa,
Timor-Leste pode parecer periférico sob o ponto de vista geoestratégico face ao
centro de gravidade da CPLP no oceano Atlântico.
Mas, neste mundo
crescentemente globalizado onde a CPLP, através dos seus Países membros,
abrange uma população de 2.192 mil milhões (cerca de 31 % da população) e, na
qual, através de Timor-Leste (ASEAN) pode alcançar 8,8 % daquela população,
tenho por certo que estamos perante uma excelente oportunidade de optimizar o
contributo de Timor-Leste enquanto plataforma regional de desencvolvimento da
nossa comunidade.[1]
A nossa
localização na Ásia e no oceano Pacífico confere-nos e confere à CPLP
uma amplitude e importância geoestratégica e geopolítica global e
fundamental para participarmos cada vez mais e melhor nas dinâmicas de evolução
mundiais.
Como único Estado asiático
membro da CPLP, num continente que assume um papel cada vez mais preponderante
nas dinâmicas geopolíticas e geoeconómicas globais, este é um valor que não
podemos nem devemos subalternizar.
Por outras palavras, tal como
no sector imobiliário, a localização do imóvel conta - e muito -
na respectiva valorização.
Timor-Leste pode ser o mais
distante de todos os países da CPLP, mas orgulha-se de, ainda assim, manter no
seu ADN os fortes traços da nossa identidade comum. É esta nossa identidade
única que nos distingue no contexto regional e que nos dá força para seguirmos
o caminho do desenvolvimento.
Timor-Leste quer fazer vingar
o espírito lusófono na região asiática. Situamo-nos num dos quatro corredores
marítimos mais utilizados na ligação entre os oceanos Índico e Pacífico. O
nosso potencial geoestratégico, tanto do ponto de vista económico como no plano
da segurança e da defesa, os espaços terrestre, marítimo e aéreo timorense,
conferem à Timor-Leste, elevada importância estratégica. Por isso, sofremos
sucessivas intervenções estrangeiras pelo controlo do nosso território e por
isso, abraçamos esta união de força lusófona que consideramos multilateralmente
vantajosa não só para o nosso país, como para todos os países membros da CPLP.
A participação de Timor-Leste
na CPLP reforça o seu poder regional. Por seu turno, Timor-Leste aumenta a
profundidade estratégica à CPLP e, consequentemente, aos Países membros que,
assim, alargam a sua esfera de influência ao sudeste asiático e à Oceânia.
Dada a nossa localização
geográfica entre dois actores regionais relevantes como a Austrália e a
Indonésia, a dimensão multilateral cooperativa torna-se primordial para a
defesa dos nossos interesses, pelo que tanto a ASEAN no plano regional, como a
CPLP no plano global, são entidades supranacionais fundamentais da nossa
afirmação e valorização geoestratégica.
Do ponto de vista geopolítico
e geoestratégico, a nossa adesão à Associação das Nações do Sudeste Asiático
(ASEAN) e ao Fórum das Ilhas do Pacífico, bem como as relações próximas que
temos com países como a China e o Japão, dão-nos claramente um enorme potencial
de mercado e perspectivas promissoras para o desenvolvimento da nossa economia.
Excelências
Timor-Leste é hoje, e será sempre,
um instrumento vital para a promoção da nossa cultura solidária, valores
lusófonos e relações diplomáticas no expectro internacional.
Estados de menor dimensão
geográfica, como Timor-Leste e São Tomé e Príncipe, reforçam esta projecção
devido ao seu potencial na economia mundial, devido à riqueza das suas reservas
petrolíferas, mas também pela posição estratégica dos respectivos territórios.
Ilhas, como Timor-Leste têm um
valor geoestratégico alargado não só devido ao aumento do tráfego marítimo mas
também, por exemplo, na actual conjuntura de proliferação de actos de pirataria
e de tráfico humano que obriga à maior fiscalização das águas internacionais.
A globalização do comércio
reforça igualmente o interesse estratégico de Timor-Leste, localizado entre as
principais rotas mundiais tal como outros Estados CPLP. Estamos no século XXI,
as rotas marítimas mudaram e os eixos demográficos e económicos da terra
também. Já não obedecem à lógica dos antigos impérios mas sim, aos novos
paradigmas fruto da crescente liberalização dos mercados mundiais.
Ainda assim, o velho império
juntou-nos, e a nossa Comunidade está em todos os principais quadrantes
geopolíticos. Estamos em África, nas Américas, na Ásia-Pacífico e na Europa e
as nossas vias marítimas abarcam o Atlântico, o Índico e o Pacífico, mares que
são atravessados pelas mais movimentadas rotas comerciais dinamizadas por
países como a República Popular da China, hoje uma máquina gigante da economia
mundial.
Senhoras e senhores,
Timor-Leste, o mais jovem país
da Comunidade, alcançou, nestes últimos anos, um crescimento económico sem
precedentes. No eixo económico, financeiro e estratégico do mundo, e providos
de um multilateralismo que só nos continuará a fortalecer, assumimos, pela
primeira vez e por dois anos, a responsabilidade e a honra de presidir à nossa
organização – a CPLP. E, novamente com Timor-Leste, se faz história, porque é a
primeira vez que, desde a sua institucionalização, se desloca o espaço
geopolítico da CPLP para a Ásia. Novos tempos, novos horizontes, mais e
melhores oportunidades.
Mas o caminho é árduo! A CPLP
foi arrastada para a mais recente crise financeira mundial. A fragilidade do
sistema económico mundial afectou todos, mas, como dizem os nossos irmãos africanos:
estamos juntos! Constituímos uma Comunidade planetária e juntos devemos
partilhar o conhecimento e capitalizar o enquadramento geográfico de cada um
dos países enquanto plataformas regionais para o comércio global e de
integração plena na economia mundial.
Excelências,
Sem considerar os cidadãos da
diáspora, somos mais de 260 milhões! A presidência Timorense quer valorizar e
sim, capitalizar este número. E por isso, adoptámos o tema “A CPLP e a
Globalização”. O nosso mote é claro: “Plantemos a bandeira da CPLP nos
negócios do mundo e sejamos também mensageiros da paz, da defesa dos direitos
humanos e da justiça social onde quer que estejamos representados”.
A nossa Nação encontra na sua
juventude a sua maior fragilidade mas também o nosso maior potencial
dinamizador. Somos detentores de recursos naturais e minerais significativos
nas nossas águas e subsolo, recursos que nos dão as condições necessárias para
crescer e contribuir para o incremento do comércio mundial.
Mas Timor-Leste não quer
contribuir apenas para as relações comerciais. Timor-Leste já contribui a nível
mundial com ajuda financeira, apoio técnico e humanitário a países cuja
situação política ou condicionantes naturais os fragilizam.
Timor-Leste tem contribuído,
no âmbito da CPLP, com ajuda a quem mais necessita, em particular para
processos de estabilização como o da Guiné-Bissau cujo panorama político levou
as nossas equipas ao terreno, com apoio financeiro e uma equipa especializada
em episódios eleitorais. A missão timorense foi um sucesso e um sinal positivo
para continuarmos a distribuir a nossa solidariedade.
Senhoras e senhores,
Do mesmo modo que podem contar
com o nosso apoio, de continumos a contar com a cooperação técnica e com o know-how
existente na família da CPLP, atributo que estendo a Cabo Verde, pelo seu
engenho e técnicas avançadas, como por exemplo, na área do e-Government.
Falamos a mesma língua; a
mesma que nos une e nos marca pelo espírito de solidariedade e pela nobre
vontade de efectivamente contribuir para a melhoria de vida dos nossos
cidadãos.
Neste espaço de intercâmbio
parlamentar, instrumento privilegiado para definir acções comuns que prossigam
o bem-estar das mulheres e homens, dos jovens, crianças e idosos da nossa
comunidade, quero frisar a importância da língua portuguesa como elemento da
nossa singularidade, em especial para Timor-Leste, para quem a língua
desempenhou um papel crucial na luta pela independência e representa, hoje, um
marco fundamental na nossa identidade.
Excelências,
Timor-Leste, enquanto Nação
soberana, está estrategicamente colocada na CPLP e no mundo. Queremos, por
isso, explorar novas parcerias que promovam a nossa globalização! O tema “A
CPLP e a Globalização” não vem ao acaso; iremos capitalizar o potencial de cada
país e fomentar o intercâmbio de experiências e competências em prol da
afirmação positiva da nossa Comunidade.
Neste sentido, Timor-Leste
aceitou o convite, não só para presidir mas, sobretudo, dinamizar o grupo
"g7+", fazendo uso da sabedoria e experiência combinada de um grupo
que representa cerca de 350 milhões de pessoas, provenientes de 17 países
membros da África, Ásia, Caraíbas e Pacífico. Acredito que este Fórum também
traga benefícios a toda a Comunidade de Países de Língua Portuguesa.
Neste mês de Junho, teremos em
Portugal, a primeira Conferência – Energia para o Desenvolvimento da CPLP (24 e
25) e o primeiro Fórum da União de Exportadores da CPLP (26 e 27). Dois eventos
que, em linha com o objectivo da nossa presidência, pretendem “constituir
verdadeiras plataformas de negócios e cooperação que estimulem o
desenvolvimento, as exportações e a internacionalização da nossa Comunidade. É
este o espírito para avançar!
JUNTOS SOMOS UM MAIS FORTE.
INVESTE NA LUSOFONIA
ECONOMICA.
Assumimos como mote, a
viabilização e consolidação de cooperações económicas, comerciais, culturais e
sociais, enquanto novo paradigma de competitividade dos países da nossa
Comunidade, mobilizando assim vontades e esforços político-diplomáticos, mas
também recursos humanos, científicos, tecnológicos e financeiros para reforçar
o nosso pilar de cooperação.
As razões expostas apontam
para a existência de vantagens mútuas da presença de Timor-Leste na CPLP. A
nossa Nação acentua uma identidade própria num cenário regional complexo e
maximiza o seu poder com a CPLP.
Faço, por isso, minhas as
palavras do nosso maun-bo’ot Xanana Gusmão: «A nossa história comum é
feita pelos nossos nove povos, criemos condições para que a amizade e a solidariedade
entre nós se reforce. Este é o espírito da CPLP e o nosso destino comum!».
Muito obrigado. Obrigado
barak!
Discurso de Sua Excelência o
Ministro de Estado e da Presidência do Conselho de Ministros, Senhor Agio
Pereira
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