Eles costumavam criticar os Governos da FRETILIN, mas agora não criticam o
Governo da AMP: Traição dos Princípios Políticos ou Oportunismo Político?
José António do Rosário Soares
Movimento Pró Prosperidade para os Pobres
Ex-Seminarista do Seminário de Nossa Senhora de Fátima, Balide, Díli
E-mail: unrecognized_man@yahoo.com
Este artigo é um esforço feito em homenagem aos pobres
que morreram por serem vítimas inocentes da política suja e aos pobres cuja
vida depende muito fortemente do salário que recebem, em especial, as
empregadas domésticas. Em tempo de paz, acredito que não houve timorenses que perderam
vida por falta de comida ou fome, mas houve timorenses que morreram por doenças,
por falta de nutrição, devido à inexistência de recursos financeiros para ajudar
a financiar as despesas durante o processo de tratamento médico. O direito de
acesso aos serviços de saúde deve ser garantido a todos, de modo igual,
independentemente da classe social. Sem dúvida nenhuma, este direito é um sonho
de cada pessoa em Timor-Leste.
O título deste artigo foi escolhido com base na realidade
política de Timor-Leste nos últimos dez anos. Não estou a fazer campanha
política porque a época da campanha para a primeira volta das eleições
presidenciais de 2012 já acabou, as eleições presidenciais já foram realizadas
pacificamente e já sabemos os resultados das referidas eleições. O período da
campanha eleitoral para a segunda volta ainda não começou. Este artigo não
pretende transmitir boatos para provocar a formação da opinião pública a favor
de um determinado candidato ao cargo de Presidente da República na segunda
volta das eleições, nem tentar reduzir número de votos para determinados
partidos políticos nas próximas eleições legislativas.
Quem são “eles” no
título deste artigo? “Eles” são
timorenses que também contribuíram para a independência de Timor-Leste, mas na
minha opinião “eles” não são
verdadeiramente nacionalistas. Para não haver opinião irrazoável sobre a minha
posição política, é melhor eu afirmar que não tenho partido político neste
momento. Não sou da FRETILIN (Frente Revolucionária de Timor-Leste
Independente), nem da AMP (Aliança dos partidos políticos com Maioria
Parlamentar), que tem governado este país desde Agosto de 2007.
A quem é que a palavra “eles” no título se refere? Não sou uma pessoa que tem capacidade infalível
para dar uma resposta totalmente correcta à pergunta, mas acho que tenho base
suficiente para apontar os meus dedos para “eles”.
“Eles” não tinham cargos importantes no
Governo e no Parlamento, mas neste momento alguns deles são titulares de altos cargos
públicos no Governo e no Parlamento.
Infelizmente ainda é muito cedo nós afirmarmos que Timor-Leste
já é um país democrático. Timor-Leste ainda está na fase de democratização. “Eles” costumavam criticar fortemente os
Governos da FRETILIN, mas agora “eles”
já não sabem (ou não querem) criticar os seus colegas e amigos, tendo em conta
que todos eles estão “dentro do sistema”
em que existe um sentimento de pertença à sua origem comum, que era Oposição em
relação aos Governos da FRETILIN. Além disso, há ainda um sentimento comum que demonstra
que criticar os colegas ou amigos deles significa também fazer autocrítica
porque “eles” são unidos por uma
aliança que se chama AMP. Por outras palavras, divulgar as fraquezas de uma
parte da AMP é igual a um atentado contra
a vida do Governo da AMP. Numa das ocasiões na Faculdade de Direito da
Universidade Nacional Timor Lorosa’e um colega disse: a política é arte de mentir. Talvez esta frase curta tenha a sua
razão. A política partidária tem a sua própria forma de se adaptar ao ambiente onde
se encontra o espaço da sua actuação política para poder atingir determinados
fins. Os políticos devem ser pessoas que são capazes de captar a vontade do
povo e transformar a vontade captada numa realidade que deve satisfazer as
necessidades do referido povo.
A política partidária deve ter princípio para legitimar os
actos dos políticos. Não basta haver autoridade política para governar um país.
É obrigatório haver autoridade moral para iluminar cada afirmação política ou
acto político das pessoas que se envolvem na vida política. Sem princípio, a
política partidária é apenas uma arte de mentir, ou seja, para chegar a um
objectivo final (= o poder político), todos os esforços feitos pelos políticos são
considerados legítimos apesar de haver promessas falsas ou mentiras ao longo do
caminho para alcançar os fins desejados.
A sociedade timorense ainda tem uma memória fresca para se recordar dos anos em que os partidos que
estão actualmente em poder eram Oposição. Os dirigentes destes partidos falavam
e criticavam muito, mas as suas palavras não tinham ressonância. Infelizmente hoje estes dirigentes já não criticam o
Governo da AMP. A FRETILIN que estava em poder agora tem a oportunidade de sentir
os pontos positivos e negativos de ser Oposição. Agora os políticos da FRETILIN
falam e criticam muito, mas as suas palavras não têm ressonância. A frase antiga “o
mundo dá muitas voltas” parece ter também um significado muito profundo na
realidade política. É certo que num país democrático, as críticas são sementes
do desenvolvimento nacional. Por essa razão, as críticas apresentadas com boa
fé devem ser avaliadas melhor para serem transformadas numa base que serve para
ajudar os governantes (ou decisores) a tomar decisões importantes em relação ao
processo de desenvolvimento nacional. Oposição forte é um bom sinal de
complementaridade, se houver fraquezas provenientes da parte que está em poder. De igual modo, a Oposição
deve também considerar o Governo em poder como o seu parceiro, não como uma
força estranha em relação à Oposição.
Talvez os leitores continuem a querer saber quem são “eles” que o título deste artigo indica. Sem
a intenção de ofender, sem a pretensao de difamar, sem a vontade de desvalorizar
os esforços feitos por “eles” durante
os anos em que “eles” estavam na Oposicao
e nos últimos cinco anos, e sem o interesse em reduzir o número dos votos que “eles” vão ter nas próximas eleições legislativas,
com toda a franqueza e com um sentimento cheio de boa fé, tenho a honra concedida
pelos pobres em Timor-Leste de dizer que as pessoas cujos nomes estão descritos
aqui costumavam criticar os Governos da FRETILIN porque eles não tinham “poderes”. Agora “eles” têm “poderes” e o acto
de criticar já não é hábito deles, mas é só da Oposicao. Os partidos que
estavam na Oposição (Partido Democrático, Partido Social Democrata, Partido
Socialista de Timor, etc) sentiam a sorte e o azar de estar em poder e o partido
que estava em poder (FRETILIN) também sentia a sorte e o azar de ser uma Oposicao.
Por várias vezes, as opiniões construtivas da Oposição eram (ou são) simplesmente
ignoradas por quem estava (ou está) em poder, invocando a força de uma maioria absoluta
no Parlamento para validar os seus actos. Consequentemente o povo é que “paga a dívida” dos políticos, mas quando
chega o momento de “pedir o reembolso do
montante pago em relação à dívida dos políticos”, o povo (ou melhor eleitores porque nem todo o povo vota
nas eleições e os eleitores podem não representar a vontade maioritária do povo)
vai exigir com força que não pode ser
derrotada por ninguém ou por nunhum armamento poderoso. Esta exigência popular é as eleições gerais
(presidenciais e legislativas).
Se nós compararmos os orçamentos alocados para os
Governos da FRETILIN e para o Governo da AMP, a diferença que se nota é muito
grande, tendo em conta a capacidade financeira de Timor-Leste. Todos os
timorenses não têm objecção se os gastos dos fundos públicos forem feitos razoavelmente,
dando prioridade às necessidades do povo, mas com especial ênfase na vida das
pessoas mais carenciadas. Actualmente as receitas fundamentais do Estado são
dos recursos naturais (petróleo e gás). Sabemos que petróleo e gás não são
recursos renováveis. Os desperdícios do fundo petrolífero poderão pôr em causa a
vida das gerações futuras.
Tenho autoridade moral para afirmar que a distribuição actual
da riqueza nacional está a criar injustiça social. Muitos timorenses ainda não sentiram
apropriadamente os pontos positivos da execução do orçamento geral do Estado. É
certo que o actual Governo já se esforçou muito por melhorar as condições de
vida do povo, mas mais esforços devem ser feitos para eliminar ou minimizar o
grande espaço de diferença em aproveitamento dos benefícios disponibilizados
pelo Estado. “Eles” agora ignoram os
erros feitos pelos seus colegas e amigos que estão em poder. Esta ignorância
justifica o sentimento de pertença errado deles.
Não acredito que o público timorense fique assustado se
eu mencionar os nomes das pessoas que pertencem à palavra “eles” neste artigo. Eu também duvido que “eles” fiquem aborrecidos se eu escrever os seus nomes aqui. Quem são
“eles”? Tomando em consideração a
famosa expressão inglesa, “ladies first”,
queria começar por mencionar a figura feminina mais crítica durante o período
da governação da FRETILIN: a actual Ministra
da Justiça cujas funções estão agora suspensas para enfrentar o poder judicial,
Lúcia Lobato, o actual Presidente do Parlamento Nacional, Fernando La Sama de Araújo (este conterrâneo
e o grupo político dele condenavam o sistema de governação de Mari Alkatiri, dizendo
que o Francisco Guterres Lu Olo não era Presidente do Parlamento Nacional, mas
era “porta-voz” do Governo da
FRETILIN; na minha opinião, agora o compatriota Fernando La Sama de Araújo é “advogado” do Governo da AMP), o actual Secretário
de Estado da Política Energética, Avelino Coelho (este compatriota tem ideologia
socialista, mas depois de ser membro do Governo, o espírito socialista dele já
não é muito bem visível), o actual Ministro da Agricultura e Pescas, Mariano
Asanami Sabino (este conterrânea costumava condenar as actividades do então Ministro
da Agricultura, Pescas e Florestas, mas agora o desempenho dele não demonstra um
êxito extraordinário).
Estes nomes são apenas exemplos que podem levar a nossa
memória para o nosso passado. Eles são amostras de figuras que também costumavam
criticar muito, mas infelizmente agora estão em greve de fala. Vários Deputados
neste momento já não sabem (ou não querem) criticar os seus amigos ou colegas no
poder executivo porque pensam que quando fazem críticas contra os amigos ou os colegas,
fazem simultaneamente críticas contra os seus próprios grupos. Alguns políticos
da FRETILIN não criticavam com consciência os seus amigos ou colegas quando a
FRETILIN estava em poder.
Acho que no futuro se a FRETILIN estiver em poder novamente, vamos
ver situações semelhantes. Os políticos da FRETILIN não vão fazer críticas
contra os seus amigos ou colegas que desempenham funções no poder executivo ou
no poder legislativo.
Os políticos que estão agora em poder costumavam falar, discutir
ou debater muito sobre a alegação de corrupção na governação da FRETILIN, mas
agora eles não falam, não discutem e não debatem sobre a alegação de corrupção
no Governo da AMP. Qual é o motivo deste silêncio? Não é preciso descrever uma
resposta completa aqui porque todos nós sabemos muito bem a resposta que deve
ser dada à pergunta.
Quais são os factores que destroem o ser humano? Mahatma
Gandhi respondeu:
"A Política sem Princípios, o Prazer sem Responsabilidade, a Riqueza sem Trabalho, a Sabedoria sem Carácter, os Negócios sem Moral, a Ciência sem Humanidade e a Oração sem Caridade. […]”. Acho que ninguém discorda das palavras interessantes de Gandhi, visto que têm toda a relevância para afirmar, em particular, que a política sem princípio é apenas uma arte de mentir e não tem nenhuma legitimação.
"A Política sem Princípios, o Prazer sem Responsabilidade, a Riqueza sem Trabalho, a Sabedoria sem Carácter, os Negócios sem Moral, a Ciência sem Humanidade e a Oração sem Caridade. […]”. Acho que ninguém discorda das palavras interessantes de Gandhi, visto que têm toda a relevância para afirmar, em particular, que a política sem princípio é apenas uma arte de mentir e não tem nenhuma legitimação.
Os eleitores vão decidir no “dia de julgamento” (= dia das eleições)
se o conteúdo deste artigo tem a sua posição certa ou não. Este artigo é somente
uma manifestação de sentimento, que é também sentimento de muitos timorenses,
incluindo as pessoas que não sabem escrever nem ler. Parece ser muito exagerado
para quem está envolvido num determinado grupo político partidário. Com maior
ou menor esforço, todos nós contribuímos para a democratização do nosso país
através de uma liberdade de expressão que está garantida na nossa Constituição.
Caso haja ponto de vista divergente que quer enfrentar as
opiniões exprimidas aqui, estou à disposição para fazer esclarecimento. A
política tem a sua própria máscara. Nós, seres humanos, temos diversas
fraquezas que muitas vezes afastam o nosso bom relacionamento com outras
pessoas em vários domínios da vida, incluindo o domínio político. Em princípio,
a política visa melhorar a vida do povo. Às vezes, ao longo deste processo de
melhorar a vida do povo, todos os recursos são considerados unilateralmente
legítimos. A existência de traição dos princípios políticos ou oportunismo
político não é uma impossibilidade neste processo. Muitas vezes ouvimos as
palavras traidor e oportunista. Com a nossa arrogância,
muitas vezes julgamos outros seres humanos facilmente, dizendo que nós somos
melhores e apontando dedos para outras pessoas.
É claro que naturalmente, em determinadas situações, incluindo
no aspecto político, temos orgulho de alcançar certos fins. Mas este orgulho
não pode ser excessivo porque o excesso de orgulho pode ser arrogância. O
título deste artigo tem uma pergunta que necessita de uma resposta. Qual será a
resposta? Basicamente, a resposta depende do ponto de vista de cada pessoa. Para
mim, ser um traidor é melhor do que um oportunista. Finalmente, com todo o
gosto, vou assumir responsabilidade pelo conteúdo deste artigo.
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