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20120111

A REVOLTA DE AMBENO (Continuação)

A revolta de Ambeno iniciada pelo régulo Dom João da Cruz Ornai deu-se no dia 22 de Março e não no dia 25, como eu tinha escrito na crónica anterior. Recebia a notícia da revolta em Díli no dia 26 de Março de 1912, o governo decide mandar a canhoeira a Pátria a Oe-Cusse com o objectivo de dominar os revoltosos. Aprontou-se o navio que transportou uma força de 40 soldados moçambicanos e 3 sargentos sob o comando do tenente de infantaria Sérgio Morais e Castro e 31 moradores de Baucau, tendo à frente o alferes Afonso da Costa. Pelas 16.00 horas do dia 28 largava o navio para Pante Macassar.

Em Batugadé, embarcaram o tenente Jorge Figueiredo de Barros, comandante militar de Oe-Cusse, o régulo Dom Hugo da Costa, alguns chineses e 25 moradores, todos fugitivos de Pante Macassar no dia dos ataques dos homens de Ambeno. (Na crónica anterior eu tinha dito que o padre António de Morais também tinha seguido para Batugadé, mas cometi um lapso, afinal ele estava em Oe-Cusse).

Tendo o navio a Pátria chegado em frente da vila, viram um beiro a dirigir-se para o navio conduzindo o missionário Padre António Januário de Morais e um timorense que relataram ao comandante do navio factos ali ocorridos.

Entretanto deu-se o desembarque das forças. Os portugueses ao aproximarem-se da terra, foram recebidos pelos “revoltosos” com haklalas e tiros. Pelas setes horas, a canhoeira abriu fogo com as peças de Hotchkiss e fuzilaria.

Da terra, os “ambenos” entre 500 a mil 1.000 homens, respondiam com tiros de espingarda Remington que tinham roubado no posto. Fez-se o desembarque das forças que foram ocupando posições em terra. Na troca de tiros ficaram feridos dois moçambicanos. Do navio fez-se o bombardeamento da povoação. Os moradores iam deitando fogo às casas. Nas matas que cercavam a povoação de Pante Macassar pululavam os “revoltosos”. A rainha de Oe-Cusse e algumas mulheres e crianças procuraram o abrigo no navio.

A “reconquista” de Pante Macassar durou dois dias. Nessa acção empregaram-se bombardeamentos com 10 granadas ordinárias e 10 granadas ordinárias, e 2.600 cartuchos de carabinas. Os portugueses reocuparam a casa do comando. Entretanto generalizou o incêndio pelas restantes casas de Oe-Cusse. Ao meio-dia do terceiro dia, o comandante, acompanhado de dois oficiais foi à terra iças bandeira verde-rubra.

E o que aconteceu a Dom João da Cruz Ornai?

Vendo o destacamento de guerreiros ambenos derrotado e desfeito, o liurai tomou o caminho do exílio e foi viver com a sua família na povoação de Lelogama (então território holandês). Em Dezembro de 1912, o governador holandês, no seu périplo por alguns regulados de Timor holandês encontrou ali os irmãos da Cruz Ornay, “homens educados em Dili”. Seria dom João e o irmão? Ou seriam os filhos?

Todo o enclave de Oe-Cusse e Ambeno seria totalmente ocupado depois da guerra de Manufahi, facto que só aconteceu em 1913.

Dom João da Cruz Ornai era filho de Dom Pedro, rei de Tul-Ikan, e neto de Dom Bernardo. Teria nascido por volta de 1888. Em 1907 foi enviado a Soibada, onde fez a instrução primária no Colégio Nun’Álvares, então dirigido pelos padres Jesuítas. Diz-se que em 1908, ele casou com Bi Sani Taeki Meko.

Durante a guerra japonesa (1942-1945), Dom João da Cruz Ornai voltou a Oe-Cusse tentando ocupar o lugar de liurai. Mas as autoridades portugueses não viram bem essa iniciativa, e, relembrando a revolta de 1912, obrigaram-no a regressar a Kefamenanu (TTU) onde viria a falecer em 1961. Teria 73 anos.

Porto, 11 de Janeiro de 2012.
Dom Carlos Filipe Ximenes Belo

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