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20120105

A GUERRA DE MANUFAHI – SEGUNDA FASE

Prevendo o avanço das forças governamentais e as movimentações dos arraiais de moradores da 2ª linha que iam chegando à região de Manufhai, Dom Boaventura manda os seus homens controlar os todos os acessos ao monte Cablac e às colinas de Riac e Leo-Laco.

Nesse sentido os timorenses em rebelião armados de catanas, diman e algumas espingardas estabelecem postos de vigia nos altos dos montes e colinas, nas encruzilhas dos caminhos, e ao longo de regatos e rios. No alto das serras os “revoltoso” tinham amontoado pedras e pedregulhos para lançarem sobre os malaes e seus aliados quando avançassem por aqueles carreiros. Foi assim que as tropas governamentais tiveram algumas baixas e o próprio governador Filomeno da Câmara ficou ferido chegando ao ponto de ser capturado na zona de Aituto. Num dos recontros os manufaistas apoderaram de um canhão das forças governamentais.

Nesse início de guerra os nativos conheciam os recônditos das localidades: grutas, buracos, precipícios, ravinas, curvas e contra-curvas. Ao divisarem a aproximação do inimigo, utilizavam códigos para se comunicarem com outros: Essa comunicação consistia nos assobios, sopro de chifres do búfalo e através de fogueiras. Por outro lado os male muitn e seus aliados avançavam com dificuldade no terreno. Os meses de Janeiro, Fevereiro e Março eram a época de chuvas. Havia enxurradas e deslizes de terra; nevoeiro na zona de Cablac era intenso e o frio arrepiante. A viagem tinha de ser feita a pé ou de cavalo. Na altura ainda não havia carros de combate, nem camiões ou unimogues.

O Governador sabia que não era fácil chegar a Same para repor a soberania e ordem e prender o régulo de Manufahi. Por isso, além de ordenar o alistamento de moradores de todo o território, pediu ajuda ao Governo de Lisboa e de Macau.

Como resultado dessa diligência, no dia 6 de Fevereiro chega a Díli a canhoeira Pátria sob o comando do tenente Jaime Inso. No dia 11 do mesmo mês desembarcou em Díli a Companhia Europeia da Índia que transportada a bordo do navio inglês St. Albans.

A força consistia em três oficiais e 75 soldados, dos quais 35 eram europeus, sendo o restante contingente composto por jovens mestiços da índia e goeses. Estes soldados indianos foram expedidos no dia 13 para Manatuto, onde o capitão José R. Fuare de Rosa os constitui em coluna com 66 moradores e 647 homens dos arraiais de Vemasse (450) Laleia e Cairui. Os moradores, de Baucau comandados pelo Liurai Freitas de Vemasse já tinham avançado para Bibuçuço nos meados de Janeiro.

No dia 15, chegava a 8ª Companhia Indígena de Moçambique (malae metan) que desembarcou do navio inglês Aldehanam. Era comandante desta Companhia Capitão Jaime Ramalho. O governador destinou 50 homens para Suro.

Com este reforço, a 22 de Fevereiro de 1912, as forças portuguesas eram assim constituídas:

1. Quartel General: 13 oficiais, 34 soldados, 375 moradores e 2.300 auxiliares;

2. Contingente da Zona leste, com a sede em Manatuto: 5 oficiais, 67 soldados, 2 voluntários, 41 moradores e 1.800 auxiliares.

3. Contingente da Fronteira: na zona de Batugadé e Balibó. Um oficial, 14 soldados e 11 moradores. Estas forças atacaram Atsabe desde o dia 18 de Fevereiro até 21 de Março.

4. Contingente de Oeste: incluía as zonas de Bobonaro e Hatolia. O contingente era formado por dois oficiais, 66 soldados, 368 moradores e 2.000 auxiliares. Nessa zona lutou-se ferozmente.

5. Dispositivo de Díli: a canhoeira Pátria, um oficial, 50 moçambicanos e um número indeterminado de moradores.

6. Dispositivo de Ermera: moradores locais e voluntários de Baucau e Manatuto.
No dia 22 de Fevereiro Filomeno da Câmara à frente de dispositivo de Quartel-general estabelece o acampamento em Maubisse.

Projectava-se o avanço para sul, em direcção a Cablac e Same. Na zona oriental, com o avanço das forças governamentais algumas povoações que tinham aderido à revolta foram-se submetendo às autoridades: Turiscai, Bibuçuço, Alas, Dotic.

Porto, 5 de Janeiro de 2012.
Dom Carlos Filipe Ximenes Belo

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