Lisboa, 26 ago (Lusa) - Uma série de 23 telegramas da embaixada dos Estados Unidos em Díli elaborados entre 2008 e este ano, divulgados na quinta-feira pela Wikileaks, referem uma “elite altamente conflituosa” como uma das razões da instabilidade em Timor-Leste.
Os documentos cobrem a transição da crise política e militar de 2006 para a “estabilidade progressiva” do país, as eleições de 2007, o problema dos deslocados internos, os casos dos peticionários e do major Alfredo Reinado, as estratégias políticas de homens como José Ramos-Horta, Xanana Gusmão, Mari Alkatiri ou Fernando Lasama ou os processos de reconciliação e aproximação com a Indonésia.
As questões de justiça e impunidade, por um lado, e as fragilidades do setor de segurança, por outro, são os temas que atravessam de forma marcante os telegramas agora divulgados pelo "site" Wikileaks, que tem revelado milhares de documentos confidenciais da diplomacia norte-americana a que teve acesso.
“As maiores causas da instabilidade de Timor-Leste incluem uma elite política altamente conflituosa; instituições de segurança fracas, politizadas, com pouca motivação ou com pouco comando; fraco acesso à justiça e uma cultura de impunidade, especialmente entre a elite”, resume um telegrama de março de 2009.
O telegrama, assinado pelo então embaixador dos Estados Unidos em Díli, Hans Klemm, refere também ”a desilusão e a alienação que tem acompanhado o falhanço de Timor(-Leste) em elevar o seu povo da pobreza aflitiva”.
Hans Klemm avisa também o comandante da Marinha norte-americana no Pacífico, tenente-general Stalder, antes da sua visita ao país, que, “desde que ganhou a independência em 2002, Timor-Leste estabeleceu um padrão trágico de violência periódica ou de instabilidade, com distúrbios de grande escala quase anuais”.
Sobre as instituições de segurança, o olhar da embaixada não é mais favorável. A Polícia Nacional, escrevia Klemm em 2009, tinha “uma liderança fraca, motivação insuficiente, recursos a menos e má preparação”, além de “ser manchada pelos antecedentes históricos com a polícia indonésia e uma história de séria politização em 2006”.
Quanto às Falintil-Forças de Defesa (F-FDTL), se “têm razões para ter orgulho na sua herança de força de guerrilha nas montanhas timorenses”, são também “deficientes em comando, disciplina, treino e capacidade logística de um exército profissional moderno”.
O diplomata insiste mais à frente que “as F-FDTL têm sido infelizmente uma fonte de instabilidade nacional desde a independência em maio de 2002”.
O embaixador salientava também que, “apesar do reconhecimento da necessidade de reforma” do setor de segurança, “pouco se tem feito”, referindo que “as Nações Unidas em particular têm um longo cadastro de falhanços em iniciar uma reforma com sentido”.
PRM/HB/EL
Lusa/Fim
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