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20110411

Recordando a Procissão do Senhor dos Passos na Paróquia de Motael (Diocese de Díli – Timor-Leste)

Um dos momentos mais significativos e luminosos da História da Salvação é a Paixão de Jesus Cristo, ou seja os acontecimentos que marcaram os últimos dias da vida de Jesus, desde a última Ceia até à sua condenação, crucifixão e sepultura.

Caríssimos irmãos: os momentos de sofrimento de Nosso senhor Jesus começam na última ceia: Jesus lava os pés dos seus discípulos, toma o pão nas suas mãos, o abençoa, parte e distribui aos discípulos. Tomando o cálix de vinho, diz: Este é o sangue da nova aliança, que será derramado por vos e por todos para a remissão dos pecados. Neste Gesto cheio de significado e profundidade, Nosso Senhor entrega-nos a sua própria vida, o seu corpo, o seu sangue, toda a sua pessoa.

Para obedecer à vontade do Pai, Jesus ao monte das Oliveiras, fazer a sua oração: Getsémani é o horto das oliveiras, o horto da angústia, o horto do sono dos discípulos. No Getsémani Jesus experimenta quanto é difícil a obediência, a aceitação da vontade do Pai. No Getsémani, os discípulos dormem, enquanto Jesus ora. Os discípulos são incapazes de velar e acompanhar a agonia do Mestre, a sua solidão, a sua aceitação do cálice amargo da Paixão. Entretanto chega um dos seus discípulos, Judas Iscariotes que cumprimenta: Mestre, e dá-lhe um beijo de traição. È terrível sentir-se atraiçoado, vendido por uma migo. Nunca se poderá justificar a primazia do dinheiro sobre a amizade verdadeira, o amor. Judas estava na ceia com Cristo e em companhia dos Apóstolos; ninguém adivinhava o que ia fazer. E saiu para a noite negra da traição. Judas deu um falso beijo para entregar o Mestre, prostituindo o sinal nobre do amor. Beijou para atraiçoar.

Jesus é preso e levado ao tribunal para ser condenado. Na presença de Pilatos, os acusadores apresentam falsos testemunhos contra Jesus.

Pilatos não quis saber a verdade sobre Jesus, nem sequer permitindo que se explicasse, e por fim acabou por entregar Jesus aos seus inimigos por cobardia. O Sinédrio, o grande Conselho de anciãos, sacerdotes e escribas, reunidos em assembleia extraordinária, num lugar onde não era costume e uma hora não habitual, decide a morte de Jesus. Um tribunal, sinal de justiça, actua injustamente, condenando o justo. A inocência é declarada culpada. Querer condenar à morte, falsear testemunhos fazer calar o que interpela pela sua coerência e pureza de vida, tem sido e é atitude frequente.

Pilatos quis manter a ordem no meio de um povo desordeiro, e quis também salvar um inocente. As duas coisas eram opostas. Os gritos da multidão impressionavam-no. E embora lavasse as mãos diante do povo, acabou por ser o culpado do assassinato de um inocente. Pilatos, curioso por saber o que é a verdade, não a descobre diante de Cristo que se cala…

Depois de julgamento injusto, Nosso Senhor é entregue aos malvados para ser flagelado e coroado de espinhos. Lemos: “Os soldados revestiram-n’O com um manto de púrpura e pusera-lhe na cabeça uma coroa de espinhos. Depois começaram a saudá-l’O Salve. Rei dos judeus! Batiam-lhe na cabeça com uma cana, cuspiam-lhe e dobrando os joelhos, prostravam-se diante dele”. (Mc 15, 17-19). Refinadíssima tortura a que padeceu Nosso Senhor. Tortura de flagelação e da comédia sangrenta: Os açoites terminam em coração de espinhos. Que infâmia esta a da soldadesca! Que escárnio de falsas homenagens! A comédia das genuflexões, os golpes na cabeça e os escarros no rosto. À dor moral une-se a dor física. Depois disto tudo, levaram Jesus dali para o crucificarem. Sobre os ombros de Jesus colocaram a cruz. O seu peso é duro, mas é-o sobretudo pelo seu fim. O Filho de Deus caminha com a cruz às costas para salvar os filhos dos homens. Durante o trajecto, Jesus é ajudado pelo Cireneu, Simão. E encontra o povo e as mulheres que batiam no peito e se lamentavam, chorando por Ele. Choravam as mulheres de Jerusalém. Mas Jesus repreendeu as suas lágrimas com estranhas palavras de advertência. Não precisam de chorar com lamentos estéreis aqueles que não aliviam nenhuma dor do mundo. Todos somos convidados a chorara com realismo sobre nós mesmos, e nunca a ser carpideiras dos outros. O pranto do cristão deve ser o arrependimento, á justa penitência, a conversão.

No caminho para o Calvário, Nosso Senhor Jesus encontra a sua Mãe.

A Mãe dolorosa procura o seu Filho Jesus, encontra-O no caminho que leva ao Calvário; contemplando-O preso, com uma coroa de espinhos na cabeça e carregado com a cruz aos ombros…Trinta nãos antes, quando a Virgem ia apresentar o Menino, foram-lhe ditas palavras duras: “ Este Menino foi estabelecido para que muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição… e uma espada trespassará a tua alma” (Lc. 235). A este propósito conta uma tradição antiga:

Na manhã da sexta-feira, Nossa Senhora, apartada do seu divino Filho por causa do tumulto da cidade, voltara a encontrar o seu Filho na encosta do calvário, coberto de sangue e pó. Coroado de espinho e acabrunhado ao peso da cruz. Ao vê-lo em tão lastimoso estado, o coração da Virgem partiu-se de dor; desfaleceu como Jesus no Jardim das Oliveiras e, caiu por terra sob o peso dum espasmo terrível e doloroso, do qual se libertou para ir até ao Calvário. Este facto da vida de Nossa Senhora foi honrado por uma festa conhecida com diversos nomes. Nossa Senhora da Piedade; a Compaixão de Nossa Senhor. Depois, com o decreto do Papa Bento XIII, Nossa Senhora da Dores. São vários os sofrimentos ou dores de Nossa senhora: 1. A profecia de Simeão; 2. a fuga para o Egipto; 3. a perde do Menino no Tempo, em Jerusalém; 4. o encontro da mãe com o filho no caminho do Calvário; 5. a crucifixão de Nosso Senhor; 6. quando recebeu o cadáver do Filho, depois de o corpo ter sido descido da cruz, 7. a sepultura, quando depositaram Jesus no túmulo.

Mesmo nos derradeiros momentos da sua Vida, Nosso Senhor não se esqueceu de nós. Não quis que nós ficássemos sem o amor de uma Mãe celeste. Por isso, mesmo pregado na Cruz, Jesus teve o bonito gesto de nos confiar a todos nós, a humanidade inteira) à sua querida Mãe: “Mulher, aí o teu Filho”. Na pessoa do Apostolo João, Jesus confiou a cada um de nós aos cuidados maternais a Virgem Santíssima. E depois, dirigindo-se ao discípulo, disse: “Eis aí a tua Mãe”. Todos nós temos uma mãe terra que nos amou, que nos gerou para a vida…Mas, temos também uma Mãe do céu, a própria Mãe do Senhor. Com Baptismo, fazemos parte do Corpo Místico de Cristo; somos irmãos de Jesus. Logo, a Mãe de Jesus é também nossa Mãe.

E Maria Santíssima, a Mãe das Dores ao olhar para um cada um de nós, deve ter o seu coração a sangrar, ao ver como nós não somos amigos do seu Filho. Ofendemos o seu divino Filho com os nossos pecados, as nossas infidelidades aos valores do Evangelho.

Com a graça de Deus, os fiéis podem participar na Procissão do Senhor dos Passos. Que Nosso Senhor e Sua Mãe Maria Santíssima ajudem os cristãos a viver mais intensamente a fé seguindo com generosidade as bem-aventuranças traçadas por Jesus no Evangelho; e que sejam fiéis discípulos de Jesus carregando cada dia a sua cruz. A cruz é a esperançados cristãos Quando Jesus estava prestes a morrer disse: “Tenho sede” Jesus tem sede do nosso amor e esta é a sede de todos, tanto pobres como ricos. Todos nós temos sede do amor dos outros de que eles saiam do seu caminho. Caminho de ódio, de violências e de pecados. Este é o significado do verdadeiro amor. Amar até morrer, e morte de cruz. A cruz símbolo de humilhação e de fraqueza, recorda-nos a loucura de Deus por nós. A cruz de Jesus foi o mistério de salvação. Nessa procissão do Senhor dos Passos os cristãos recordam a Paixão de Jesus: “Se alguém quiser meu discípulo, tome a sua cruz e siga-me. (Mc. 8,34),

Por isso, neste momento, Dante de Jesus e de sua Mãe, Maria Santíssima, rezemos:

“No caminho da Cruz, Jesus, nós revivemos o drama da nossa existência, os nossos sofrimentos, os nossos desejos não realizados, as nossas infidelidades, os momentos de desânimo e de obscuridade, os nossos silêncios, que sabem a negação. Mas quando cruzamos o nosso olhar com o Teu, e contemplamos o Teu rosto desfigurado, ele comunica-nos a esperança de vencer, a consolação do perdão, o convite a seguir-Te confiadamente, e na luz dessa esperança brilha já no nosso coração, a luz da Tua Ressurreição, que nos abre definitivamente para a esperança da vida”.

E dirijamos também as nossas humildes súplicas à Mãe do Céu e nossa Mãe.

“Ó Mãe querida, tão provada pela dor, sobretudo no caminho de Jesus para o Calvário; não vos afasteis de nós na desgraça, na doença e na morte, quando nos encontramos já sem forças para levar a cruz. Com a vossa poderosa intercessão, fazei-nos experimentar que Deus ampara os seus, mesmo nas maiores tentações, dificuldades e perigos. Boa Mãe, ajudai, sobretudo, aqueles que têm um calvário maior e mais penoso.

Virgem Santíssima concedei-nos a graça de que, a vosso e exemplo nos submetamos sempre à vontade de Deus, e nas nossas dores e percalços confiemos plenamente no seu amor e fidelidade.

Porto, 11 de Abril de 2011.
Dom Carlos Filipe Ximenes Belo
Exclusivo Forum Haksesuk

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