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Xanana em entrevista: ''Os líbios chegaram à luta armada por causa da prepotência de Kadafi''

ENTREVISTA - Xanana Gusmão, primeiro-ministro do Timor Leste

07 de março de 2011 | 0h 00

Guilherme Russo - O Estado de S.Paulo

Empenhado diretamente na construção da democracia no Timor Leste desde 1999, o atual premiê e ex-presidente do país, Xanana Gusmão, vê com bons olhos as revoltas no mundo árabe - principalmente no Egito e na Tunísia. Mas, citando a insurreição líbia, o ex-guerrilheiro afirma que não considera mais a rebelião armada o caminho para uma sociedade democrática.

Em sua opinião, se a comunidade internacional enviar forças armadas estrangeiras à Líbia, o país de Muamar Kadafi poderá ter o mesmo fim do Iraque e do Afeganistão, "dois casos em que a guerra vai se prolongar por muito mais tempo", disse.

Apesar de não muito afeito à tecnologia, Xanana reconhece o resultado "inimaginável" das ferramentas de comunicação que mobilizou o Egito. Na entrevista concedida ao Estado em São Paulo, ele lembrou que, no caso da independência do Timor Leste, a atual função dos celulares, que transmitiram protestos e repressão nos últimos meses, foi exercida na ocasião pelo jornalista britânico Christopher Wenner, também conhecido como Max Stahl.

Em 12 de novembro de 1991, o repórter registrou forças do ditador indonésio Suharto - que ocupou o Timor Leste entre 1975 e 1998 - disparando contra manifestantes na capital, Díli. O chamado Massacre do Cemitério de Santa Cruz deixou ao menos 250 mortos.

Xanana ficou preso entre 1992 e 1999. Só foi libertado quando a ONU entrou no Timor Leste com a intenção de constituir um Estado na ex-colônia portuguesa vítima de mais de duas décadas de uma ditadura genocida imposta pela Indonésia.

Como se processa a instalação de um Estado democrático em uma sociedade destruída?

É um processo de construção difícil. Esses países árabes, neste momento, estão em muito melhores condições (do que o Timor Leste anterior à independência) de perceber que cada país deve tentar reunir todos os diferentes grupos para eleições de Assembleia Constituinte - e gosto muito que isso vá acontecer na Tunísia em julho. Creio que o Egito também tem de seguir essa linha. Nos próximos dez anos será difícil a consolidação da democracia (nos dois países). Porque a democracia tem direitos, mas também tem deveres.

O senhor ainda acredita na luta armada como um caminho para a democracia?

Não. Já passou o tempo em que as vitórias se decidiam pela via militar. Já passou. Vejamos o Iraque, vejamos o Afeganistão.

Mas no caso do Timor Leste o senhor atuou dessa maneira.

É diferente. Aquilo era libertação. Não democratização.

O seu conselho ao povo da Líbia é abandonar a luta armada?

Eles tiveram de chegar a isso por causa da prepotência magnífica de Muamar Kadafi.

Então a luta armada se justifica na Líbia?

É justificada, mas poderia ser evitada. Pois há uma outra forma: a pressão política. Quanto mais envolvem a população na luta armada, diferenças, raiva e espírito de vingança surgem. E fica mais difícil a pacificação.

O que a comunidade internacional pode fazer?

Percebi que, no caso do Egito, os países falaram com os militares. Por que não fazer isso com os militares líbios?

O que deve ocorrer nos países que derrubaram seus regimes?

Vai depender. O cuidado que tem de ser tomado ali é de os líderes políticos continuarem pedindo ao povo tolerância e não violência.

A internet realmente teve papel fundamental nos protestos do mundo árabe?

O uso do Facebook e do Twitter para mobilizar prova que a consciência do povo estava à espera de uma ocasião para isso. Não se consegue mobilizar só por mobilizar. Não é como convidar uma pessoa à praia. É convidar uma pessoa a ir expressar-se com o risco de ser baleada.

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