Diario do Minho
Apesar de situado nos antípodas, Timor Leste é um território que a maioria dos portugueses se habituou a manter no coração. Desde 1975 aquele país esteve muitos anos votado a um ensurdecedor silêncio que só a visita do Papa João Paulo II, em 1985, resgatou das trevas mediáticas. Em 1991, o massacre de Santa Cruz despertou definitivamente o mundo para a realidade dos timorenses.
Seguiram-se diversas iniciativas organizadas pelos portugueses para chamar a atenção do mundo para a condenação a que estavam votados os timorenses. Destaco a epopeica viagem do “Lusitânia Expresso” e, posteriormente, a prisão de Xanana Gusmão e o papel hercúleo de D. Ximenes Belo que acalentava a esperança da liberdade na população.
A causa timorense que Portugal adoptou ganhou peso mundial em 1996, quando Ramos Horta e D. Ximenes Belo recebem o Nobel da Paz. Seguiram-se a queda de Suharto, a assinatura dos acordos de Nova Iorque e a realização do referendo pró-independência em Setembro de 1999.
Depois de alcançada a independência política eis que surge o petróleo e, com ele, a esperança de uma rápida emancipação e independência económicas.
Agora, Portugal está a “voltar” a Timor para aí investir e aproveitar o melhor que as economias dos timorenses possam render. Vejam-se os resultados da PT na sua participada Timor Telecom.
Fiquei surpreendido por saber que, mesmo sem ter asseguradas as infra-estruturas básicas, aquela operadora acaba de superar 500 mil clientes na rede móvel, atingindo uma taxa de penetração de cerca de 50% da população timorense! O objectivo é chegar aos 62% em 2012.
Em Portugal é sabido o apetite que as gentes têm pelo seu telemóvel topo de gama, mesmo que não tenham dinheiro para a mercearia do mês. Um estudo revelado estes dias indicava Portugal como um dos que tinham as telecomunicações mais caras da Europa e que era um país em que num conjunto de 100 habitantes existem 151 telemóveis.
Pergunto: será que Portugal está a “criar” Timor como um país à sua imagem e semelhança?
DM, 30.03.2011
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