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20101106

O CANTOR HÉLDER DE ARAUJO

FH.6.11.2010/18:16

Faleceu no dia 5 de Novembro um dos mais famosos cantores e artistas timorenses, Hélder de Araújo. Durante vários anos, Hélder, conhecido por “Bung Lele” fez ecoar a sua voz estridente pelas aldeias e vilas, pelos vales e montes de Timor-Leste, desde Tutuwala a Oe-Kusi, desde Ataúro a Suai (hosi Loro sa’e too loro monu, hosi tasi fato to’o tasi mane). Bung Lele, além de ser cantor era também um apresentador de programas nas festas. Fez ouvir a sua voz na rádio, televisão, nas festas e nas muitas cassetes que gravou. Oxalá, outros artistas continuem a sua herança…

São poucos os estudos sobre a etnomusicologia em Timor-Leste. A música timorense é ainda pouco conhecida no mundo. Há músicos timorenses em Timor-Leste, Austrália, Portugal e Macau. Para começar, apraz-me citar dois maestros célebres: Maestro Simão Barreto e maestro Cornélio Vianey da Cruz. Actualmente, no território (Timor), são vários os cantores que sobressaem com a musica rock e/ou pop.

Em Timor, como acontece com todos os povos do mundo, os timorenses cantavam as suas canções populares: nas festas (construção e inauguração de Uma Lulik); nos enterros (cantos fúnebres); nas viagens aos “Bassar/Bazar); nos Kore-meta, nos tebedai, e no dahur.

Na música tradicional usam instrumentos como o lakadou, babadok, dadir, tambor, flauta.

Entre as camadas mais evoluídas da população timorense, na primeira metade do século XX, começou a aparecer a dança. Então na música e na dança os instrumentos usados eram o violino (os timorenses chama rebeka), a guitarra, o bombo. E isso era devido à influência portuguesa e malaia (javanesa). Na década dos anos 60 do século XX, a Rádio Difusão de Timor, todas as noites, entre às 18.00 e 20.00 transmitia música portuguesa que algumas pessoas pediam para dedicar aos amigos e namorados.

Por outro lado entre o povo, predominava o Kore-meta, sobretudo o grupo de Bidau (Dili) com o senhor Abril Metan.

Com o andar dos tempos surgiram os primeiros conjuntos musicais em Dili e em Baucau. Nos inícios dos anos 70, ficou celebre o conjunto “Os Cinco do Oriente”.

Durante o tempo da Ocupação Indonésia (1976-1999), alguns s Bupati e Dandim organizavam festas (17 Juli, Hari Integrasi; 17 Agustus, Hari Kemerdakaan RI; 5 Oktober, Hari ABRI, etc.) e, para isso, convidavam conjuntos, que eram constituídos por timorenses e indonésios. Nessas ocasiões, as canções exibidas eram sobretudo, indonésias. Mas, nalguns casos, cantavam canções em Tetun.

Por outro lado, entre a juventude Timorense, vários artistas (cantores e músicos) começavam imprimir um tom revolucionário às suas canções. Em Portugal, o sr. José Camarada, aliás José Amaral e seus colegas Mitó, Nelson Halnusá.

Foram vários os artistas: Tony Pereira, Hélder de Araújo, Armando da Silva, Aida Belo; Mário da Silva, John Minta; o grupo de Vitorio e Amândio Sarmento Araújo. Ao longo deste primeiro decénio do século XXI, a música desenvolveu-se de tal maneira em Timor-Leste, que em todas as aldeias são ouvidas as cassetes de música timorense. Outros nomes estão a ser popular. Abito Gama; Paulo Augusto; Lindo Kasebume; Convém recordar a Língua usada nestas canções é o Tétum. Embora, às vezes haja canções em Makassae e Baikeno. Certamente haverá muitos outros cujos nomes não me lembro neste momento, e a quem peço desculpa se não cito os nomes deles neste artigo.

No aspecto da música religiosa em Língua Tétun, apraz recordar os nomes dos Padre Leão da Costa, Mariano Soares, Gelásio Joaquim da Silva.

Voltando ao chorado Hélder de Araújo, ou Bung Lele. No ano 2000, para comemorar o massacre de 12 de Novembro em Lecidere, cantou-se no fim da Eucaristia a canção, para mim, a mais bonita de todas as canções, a “Laloran Taci Timor”, da autoria de José Camarada (com arranjo colectivo). O artista convidado a cantar essa canção foi Hélder de Araújo. Foram momentos de profunda comoção! Desde então, a imagem do Hélder, Bung Lele, ficou gravada na minha mente, e, hoje, com a sua morte, a sua bela voz ficou mais gravada no meu coração.

Hélder, que Deus omnipotente te receba na sua glória. E obrigado pelo teu contributo à cultura e à música na nossa querida Pátria – Timor-Leste! Dai-lhe, Senhor, o eterno descanso. Descansa em Paz, Ámen!

Porto, 6 de Novembro de 2010.
Carlos Filipe Ximenes Belo

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