Ocorre no dia de 7 de Junho de 2009, o Quinquagésimo Aniversário da assim chamada “Revolta de 1959”. Tinha eu onze anos, e andava na 2ª classe elementar na Escola da Missão de Baucau, quando assistia durante uma semana o trabalho forçado de uma multidão de homens e jovens na antiga “Vila Salazar, a sede do Concelho de Baucau. Não eram os normais “assuliar” recrutados dos sucos e postos admnistrativos. Eram os “implicados” da “Revolta de Viqueque”. Passados cinquenta anos ainda estou a vê-los a empurrar o cilindro, a carregar padiolas de terra, e capinar a erva… E os cipaios a chicoteá-los com “kuda tali e rota”… Porquê aqueles homens e aqueles jovens ali… condenados publicamente? Recordemos os factos…
Causas remotas: Em 1945, deu-se o armistício com a rendição das forças japonesas que abandonam o território de Timor Português. Enquanto as Ilhas que faziam parte das Índias Orientais, até então colónia da Holanda, declaravam a sua independência (8 de Agosto de 1945), Timor Português permanecia sob a soberania portuguesa. Timorenses que durante a ocupação japonesa se aliaram aos nipónicos cometendo crimes de assassinatos, roubos e incêndios, uns foram mandados como presos para a Ilha de Ataúro e outros estabeleceram-se no Timor Indonésio. No território, as autoridades portuguesas continuavam com a política de cobrança de impostos, de recrutamento de trabalhadores para os serviços do Estado (Auxiliares). Alguns régulos, chefes do suco e chefes de povoação mantinham um poder despótico em relação aos seus súbditos (serviços gratuitos nas suas propriedade (várzeas e hortas); fornecimento de géneros alimentícios; construção de casas do chefe e da chamada “guarda”: Aos faltosos aplicava-se o castigo de chicotes e palmatoadas. Os poucos funcionários nativos (guarda-fios; enfermeiros e professores) estavam descontentes com o governo colonial pelo baixo salário de que usufruíam. A despeito de tudo isso, o ambiente geral era mais de submissão do que de rebeldia.
Causas próximas: Em 1957, deu-se a rebelião conhecida pela Permesta, a qual teve lugar nas Ilhas Molucas do Sul. (Permesta: Piagam Perjuagan Semesta. Perjuangan Rakyat Semesta dipimpin Vetjen Sumual, Letnan-Kolonel, asal Manado. Piagam diatandatangani 51 Tokoh di Indonésia Bagian Timur, agar supaya Pemerintah Pusat memberikan perhatian kepada Daerah Nusa Tenggara, Sulawesi dan Maluku. Vetejn mendapat batuan dan dukungan dari Amerika Serikat). Em consequência disso houve um grupo de soldados e oficias indonésios que procuraram refúgio em Oe-Cusse. Eram catorze os que desembarcaram naquele enclave português. Em 1958, o então Governador de Timor Português, capitão Serpa Rosa deixara o governo da Província, em meados de Julho de 1958, depois de ter cumprido duas comissões de 4 anos cada. Na ausência do governador, foi nomeado como Encarregado do Governo, Tenente-coronel Manuel Albuquerque Gonçalves de Aguiar, que era também o comandante militar, em 14 de Julho do mesmo ano. Eram Administrador da Circunscrição de Baucau José Maria Ribeiro Filipe e de Viqueque Artur Marques Ramos. Era cônsul da República da Indonésia em Díli Nazwar Jacub Sutan Indra. O cônsul mantinha contactos com alguns timorenses e alguns árabes incutindo neles a ideia de integração na Indonésia e da rejeição dos Portugueses.
Por alturas do mês de Março de 1958 (precisamente no domingo de Ramos), catorze indonésios chegam à Vila de Baucau: “Lambertus Ladon, Gerson Pello, Jobert Moniaga, Eddy Welong, Albert Ndoen, Jeheskial Folla, Ambrosius Dimoe Logo, Urias Daniel, Dominggus Adoe, Lorenz Tangsi, Paulus Adoe, Anderias Therisk, Jonatah Nenotek, Jeremias Pello, sendo dois tenentes, dois primeiros sargentos, dois segundos sargentos, dois cabos e seis praças” (Cf. AHU; Timor, “Relatórios da Comissão da Defesa Civil, cx 1 (1962-1964(, oficio nº 54, do governador de Timor para o Ministro do Ultramar, 1 de Maio de 1962, p. 10). Para residência destes catorze militares, foi-lhes indicada como residência o edifício “Três Família”, na povoação de Macadai do suco de Baha-úu. Além da casa, o governo ainda lhes atribuiu um subsídio diário de 7 patacas ($43,75 (cf Filipe Themudo Barata, Timor Contemporâneo, Da primeira ameaça da Indonésia ao nascer de uma nação, Lisboa, 1998, p.53). (Segundo uma informação de um habitante de Baucau, que chegou a conviver com eles, eis os nomes: Tente Lambertus; Tenente Gerosn, natural de Kupang, era o 2º comandante; Albert, natural de Atambua, Zakarias de Atambua, Jeremais, de Ambon; Alferes Juber Natah, de Manado; Alferes Edi, de Manado; Ambrosius, de Ambon e era fotógrafo, havia ainda um soldado de Rote; de outros três não se conhecem os nomes).
Esses “asilados” tinham liberdade de movimento, pois percorriam as povoações de Baucau e começavam a viver em concubinato com algumas mulheres da zona de Macadai e Caibada. Aos domingos e quinta-feira iam ao bazar e participavam no jogo de futebol no campo de Teulale. Frequentavam também as festas como os casamentos e Kore-metan (desluto). Entretanto, iam estabelecendo contactos secretos com alguns funcionários timorenses de Baucau e de Laga. No mês de Dezembro de 1958, surgiu uma“zaragata” entre eles, e cinco deles foram transferidos para o antigo edifício dos Correios, na vila, e onde era guarda-fios, o sr. Abel Belo. Mais tarde foram transferidos para Viqueque Gerson Pello, Juber Natha, Alber Ndoent, Jehsekial Folla, Jeremias Pello e Jobert Moniaga Jeremias).
Esses indonésios, em combinação com o cônsul indonésio estavam a aliciar os timorenses para se revoltarem contra os Portugueses. Começaram por desenvolver uma campanha anti-portuguesa através de três empregados do consulado e de alguns elementos da comunidade árabe de Díli (David Verdial, Um Teng Siong, Salem Sagran (cfr Themudo Barata, op. cit., anexo V, p. 217). Ajudado pelo chanceler acolhe no consulado Luiz do Rego, João Pereira da Silva e José Beny Joaquim e Fernando Woodhomal que eram encorajados a fugirem para a Indonésia (cf, ibidem, idem).
Em Novembro ou Dezembro de 1958, o cônsul manda a Baucau o ajudante de enfermeiro auxiliar dos Serviços de Saúde, João Pereira da Silva com o objectivo de sondar os “exilados” indonésios se eles estavam na disposição de colaborar com ele num plano de revolta (cf Ibidem, idem, p.218). Em princípios de Fevereiro de 1959, o motorista dos serviços da Agricultura Luiz do Rêgo, um dos colaboradores do Consulado, desloca-se a Viqueque para estabelecer contactos com os indonésios exilados naquela vila, Gerson Pello e Albert Ndoen.
Entretanto em Díli, a Polícia ia vigiando e seguindo as actividades de um grupo de Timorenses, que seriam os cabecilhas da revolta e que foram descobertos a 3 de Junho de 1959. Eram eles: João Pereira da Silva, Valentim da Costa Pereira, João de Sousa Gama, Evaristo da Costa. David Verdial, Luís da Costa do Rêgo, José Beny Joaquim, Francisco Orlando de Fátima Soares, Carlos Salvador de Sousa Gama, Gervásio Soariano, Abel da Costa Belo, José Ramos, Tomaz da Costa Belo, Saleh Bin Hamed Basserawan, Crispim Borges de Araújo. No dia 9 de Junho foram mandados seguir no navio motor Índia para Lisboa.(cf Ibidem, idem, Anexo, V).
A revolta deveria eclodir no dia 28 de Maio de 1959, durante os bailes, quando os dois clubes Sporting Clube de Timor e Sport Díli e Benfica iam festejar o aniversário da fundação.
Outras fontes relatam que por conselho do cônsul indonésio em Díli, a revolta deveria começar no dia 31 de Dezembro (1959?), à meia-noite, quando, a população estivesse a celebrar a passagem do ano. Numa das reuniões entre os implicados, na Areia Branca (Meti-Aut), resolveu-se o seguinte:
-“Na Noite de 31 de Dezembro, os tenentes indonésios Lambertus e Gerson, um sargento e outros asilados, com alguns timorenses, marchariam para Díli a fim de se apoderarem das instalações militares, incluindo o paiol;
- um dos implicados (o motorista) encarregar-se-ia de ocupar o parque das viaturas;
-Um outro dos principais cabecilhas tomaria conta da polícia e distribuiria as catanas existentes nos armazéns dos serviços de agricultura pelos presos, os quais, com apoio de outros sublevados, cairiam sobre as pessoas reunidas nos clubes.
-outros elementos, previamente designados, actuariam em certas regiões controlando cruzamentos de estradas, edifícios públicos, etc;
-estavam previstas outras acções pontuais no interior;
-em Aileu,(…) planeava-se uma festa em casa de um dos implicados, para a qual seriam convidados todos os oficiais da unidade bom como os funcionários civis e, na festa, “ficariam sem as suas cabeças”;
-finalmente, a uma hora combinada, hastear-se-ia a bandeira indonésia nos locais subjugados”. (Filipe Themudo Barata,op cit. p. 60-61).
Descoberto plano da sublevação em Díli, no dia 3 de Junho, O Encarregado do Governo reúne com o seu chefe de gabinete, o administrador do Concelho de Díli e o chefe da polícia. E ficou acordado desencadear a acção da prisão dos implicados. Foram detidos 15 dos considerados cabecilhas. A polícia inicia as inquirições e confirmam-se os planos da projectada revolta. No dia 6 de Junho, de manhã, é terminado o inquérito. Decide-se a fixação de residência fora de Timor. Entretanto tinha chegado o navio Índia. Foram selccionados 11 “implicados” e enviados para Lisboa. O embarque foi pelas quatro horas de madrugada do dia 7 de Junho. “Os presos entram numa lancha que os conduz ao navio, levando cada um as suas bagagens. Avançavam sem qualquer resistência e como que conformados.” (Filipe Themudo Barata, op. cit p. 62).
A SUBLEVAÇÃO EM VIQUEQUE E WATOLARI
Pela meia-noite de Domingo, dia 7 de Junho de 1959, era assaltada a residência do Administrador na vila de Viqueque.
Na manhã desse domingo, o Administrador ouve alguns dos pretensos implicados na presença de um velho colono. Todos garantem que nada fizeram e nada sabem. Entretanto um deles, o mais activo que devia aguardar a conclusão das averiguações mo quartel dos cipaios, finge ir a casa buscar a sua roupa. Mas no caminho, encontra-se com o indonésio Gerson que o manda seguir para Watolari.
Na tarde desse domingo, o posto de Watolari era assaltado pelo chefe, chegado de Viqueque, com a colaboração de alguns cipaios. Cortam as ligações telefónicas com Viqueque e são mandados emissários ao posto de Watocarbau para fazerem o mesmo.
Entretanto, em Viqueque, pelas 20.30 h, três indonésios, Gerson Pello, Jeremias Pello e Moniaga, reúnem-se na casa de um funcionário aposentado com mais três ou quatro timorenses e umas dezenas de timorenses provenientes de povoações próximas. Sentindo-se descobertos os revoltosos decidem assaltar a secretaria da Administração de Viqueque e apropriar-se de todas as armas e munições, o que fizeram cerca de onze e meia da noite. Nesse assalto os guardas que opuseram a resistência foram feridos. Gerson manda cortar as ligações telefónicas com Ossu e interceptar as estrada Viqueque-Ossu com troncos de árvores. Por volta da meia-noite, os revoltosos assaltam a casa do Administrador. O Tenente Gerson comanda um grupo e assalta a residência e outro indonésio com outro grupo dos implicados toma posição junto à ponte da estrada para Ossu, no intuito de impedir a fuga do administrador. Este consegue meter-se num jeep, e com a família e um aspirante timorense, em velocidade e de baixo do fogo dirige-se para Ossu. No dia 8 de manhã, os amotinados depois de se terem apropriado da camioneta da Administração, dirigem-se a Watolari, onde são recebidos pelos amotinados daquele posto. O Tenente Gerso, acompanhado de dois timorenses dirigem-se a Watocarbau onde são igualmente bem recebidos.
Em Díli, as autoridades portuguesas são postas ao corrente dos acontecimentos de Viqueque. São dadas as instruções: controle de comunicações telefónicas, alerta das unidades militares e imediata detenção dos asilados indonésios. Na manhã, da segunda-feira, dia 8, o Encarregado do Governo assiste no campo de aviação de Díli a partida para Baucau de duas secções de atiradores sob o comando dum subalterno. Deram-se ordens aos chefes dos sucos de Baucau, Baguia, Laga e Kelicai para reunirem os homens e patrulharem a sua área com os meios tradicionais (Catanas, azagaias etc.). Ao meio-dia, o administrador de Viqueque Ramos regressa a Viqueque apoiado por uma pequena força: um oficial (Tenente Ferreira), um furriel (Pires) e nove praças. São dadas ordens para se prepararem os arraiais fiéis ao governo. Em Lautém a adesão foi rápida e maciça. Nessa manhã da Segunda, feira, dia 8, são presos dois indonésios na estrada de Ossú. Em Watocarbau e Watolari, os arraiais chegados de Lautém incendeiam as casas, matam indiscriminadamente os supostos revoltosos e praticam a pilhagem. Os povos de Kelicai, Laga e Baguia são compelidos a vigiar as balizas (fronteiras) impedindo a fuga dos habitantes de Watolari e Watocarbau. No dia 8 de Junho é assassinado em Baguia o catequista Carlos Carvalho. No dia 17 de Junho deu-se o fuzilamento de 7 timorenses junto à ribeira de Ba-Bui, em Watolari, pelo administrador Artur Ramos e Capitão Barreiros (Relatório do Padre Martinho da Costa Lopes, Deputado por Timor). Quanto aos indonésios, um é morto (Jobert Moniaga) e os outros treze são presos e levados para Díli.
Em 22 de Junho, dia da chegada do governador Filipe Themudo Barata, os principais responsáveis estavam capturados. Feitas as averiguações, foram detidos 45 timorenses considerados implicados na revolta. Os presos que foram enviados para Angola: Abel da Costa Belo (guarda-fios, natural de Baucau), José Manuel Duarte (dos serviços de Meterologia, natural de Díli), Amaro Loyola de Jordão Araújo ( 3º oficial da fazenda, aposentado, natural de Díli), António da Costa Soares (chefe da povoação, natural de de Watolari), Alberto Rodrigues Pereira (, compositor de Imprensa Nacional, natural de Liquiçá, Alexandre Viana de Jesus (chefe de suco, natural de Ermera), Amilcar Ribeiro Seixas (ajudante de mecânico, natural de Díli), Agostinho dos Santos, ajudante de motorista, natural de Bobonaro), António Soriano (criado, natural de Aileu), Armindo Amaral, ajudante de motorista, natural de Viqueque), Belarmino Araújo (motorista, natural de Fatubessi), Celestino Um T, Siong (motorista, natural de Venilale), Crispim Borges de Araújo, (motorista, natural de Maubara), Domingos da Conceição Guterres (ajudante de mecânico, natural de Díli), Domingos da Conceição Pereira ( encarregado do posto, de natural de Díli), Domingos Reis Amaral, agricultor, natural de Viqueque), Domingos Soares (ajudante de motorista, natural de Viqueque), Duarte Soares (agricultor, natural de Viqueque), Eduardo de Araújo (agricultor, natural de Letefoho), Eduardo Francisco da Costa ( Pintor, natural de Díli), Fernando Pinto (ajudante do suco, natural de Watocarbau), Francisco Dias da Costa (professor-catequista, natural Aileu), Frederico d Almeida Santos da Costa (grumete, natural de Díli), Germano das Dores Alves( marinheiro da capitania, natural de Díli), João Lisboa (Agricultor, natural Viqueqeu), Joaquim Augusto dos Santos ( Dactilógrafo dos CTT, natural de Liquiça), Joaquim Ferreira ( agricultor, natural de Liquiçá), Jorge Anselmo de Lima Maher( 3º oficial da BNU, natural de Baucau), José Maria Exposto Maia (chefe dos suco, natural de Ermera), José Sarmento (agricultor, natural de Viqueque), José Soares ( pintor, natural de Ermera) Jumang Bin Rachrum ( servente da escola primária, natural de Díli), Lourenço Rodrigues Pereira ( agricultor, natural de Díli), Luís da Cunha Soares Nunes ( empregado da missão de endemias, natural de Oe-silo), Manuel Alim (motorista, natural de Cova lima), Manuel Alves ( Fiel da balança na Alfândega, natural de Díli), Manuel Damas ( ajudante de motorista, natural de Fatubessi), Manuel da Silva ( telefonista dos CTT, natural de Díli), Manuel Freitas da Gama( ajudante de motorista, natural de Baguia), Mário José Henriques Martins ( compositor da Imprensa Nacional, natural de Maçambique), Mateus Sarmento Jordão de Araújo ( dactilógrafo, natural de Díli), Matias Guterres de Sousa (ajudante de enfermeiro, natural de Watolari), Miguel Pinto ( agricultor, natural de Viqueque), Nicodemos dos Reis Amaral ( chefe de povoação, natural de Viqueque), Osman Djuli ( ajudante de mecânico, natural de Díli), Paulo Amaral ( ajudante de motorista, natural de Viqueque), Paulo da Conceição Castro ( Agricultor, natural de Aileu), Paulo da Silva ( chefe de suco, natural de Díli), Salem Bin hamad Basserawan, natural de Díli), Salem Mussalan Sagran (Escriturário Consulado da Indonésia, natural de Díli), Venâncio da Costa Soares (ajudante motorista, natural de Díli), Vicente de Jesus Vidigal ( chefe de suco, natural de Díli) e Vital Ximenes ( trabalhador rural, natural de Díli). O então Governador de Timor Filipe Themudo Barata considerava estes cinquenta e três timorenses considerados “revoltosos”, contra a soberania portuguesa, e por isso decretou que fossem desterrados para Angola, desembarcando do Vapor “Índia, no porto de Lobito, no dia 26 de Novembro de 1959. Um grupo foi mandado para a cadeia Penal de Bié, e outro para a cadeia em Roçadas. Em Agosto de 1961, um grupo foi enviado para o vale de Limpopo, Moçambique. Em 1963, deu-se a possibilidade aos timorenses de regressarem à sua terra. (cf. O Trabalho do professor Fernando Augusto de Figueiredo, “A Presença Portuguesa em Timor: 1945-1975, Lisboa 2008, pp. 49-67).
Presos levados para a ilha de Ataúro: Zeferino dos Reis Amaral (chefe-do-suco de Luca; Armando Pinto Correia (Catequista);Celestino da Silva (chefe-do-suco de Mata-Hoi); Fernando Soares Amaral(cabo de cipaio em Watolari); Júlio da Costa Amaral (cipaio); João Eanes pascoal (agricultor) (cf. Figueiredo, op. cit. p. 59).
Entretanto, em Julho de 1959, a Vila de Baucau, estava apinhada de presos fortemente vigiados pelos cipaios. Eram os assim chamados “revoltosos” levados de Watolari, Watocarbau e Viqueque. Foram submetidos a trabalhos forçados na limpeza das ruas e do bazar da vila. Alguns estavam presos na garagem da casa do Administrador. Ali eram torturados, pois nós os alunos da escola da Missão, ouvimos perfeitamente, como esses nossos irmãos gritavam e choravam em consequência das pancadas e das chicotadas. Eu próprio ouvia da minha casa, sita em Baú Oli, a dois quilómetros da vila, os gritos lancinantes e desesperados dos presos…
Em consequência da “Revolta de Viqueque”, o Governo reforçou a segurança, abrindo companhias de soldados da primeira linha em Baucau, Lospalos e Ossu. A partir desse período entrou-se em diversas fases de desenvolvimento do território. Mas as sementes de vingança e de revolta iam nascendo e criando raízes nos corações e nas cabeças de alguns timorenses. A “Associação Popular Democrática para a Integração de Timor na Indonésia”, não apareceu por acaso e não caiu do céu…O aparecimento do partido Apodeti teve as suas causas remotas nos acontecimentos de 1959. A Apodeti tornou-se o “lugar apropriado”, onde muitos dos descendentes dos “revoltosos” de 1959, puderam concretizar as suas aspirações pela liberdade, justiça, respeito e, em certo sentido, independência ou “kemerdakaan”…
A todos aqueles que perderam a vida por causa da assim chamada “Revolta de 1959”, eu, como timorense que testemunhou a violência física e psíquica a que foram submetidos, na minha vila de Baucau, porque os meus olhos viram e os meus ouvidos ouviram, inclino a minha cabeça, em sinal de respeito e de solidariedade. Em certa medida, tomo a liberdade de afirmar: “merekapun telah memberikan kontribusi kepada Kemerdakaan Tanah Air Timor Timur…Bagi mereka, hormat dan doa saya!”
Porto, 5 de Junho de 2009.
Dom Carlos Filipe Ximenes Belo
Prémio Nobel da Paz 1996
Na'i Editor sira,
ResponderEliminarKarik la laran todan bele natun komentari ne'e tuir D. Filipe nia artigo kona ba revolta 1959.
Artgo na'i D. Carlos Filipe Ximenes Belo nian kona ba revolta 1959 ne'e furak no mai nariku tan artigo barak nebe'e ema Australia ho America nakerek ona kona ba Revolta 1959 ne'e.
Atan oan makarak dehan de'it, D. Belo nia artigo ne'e foti tuir de'it versi nebe malae mutin sira nakerek, maibe la buka ko'alia ho revoltosos na'in sira sei moris ou nia familia sira, nodi natene lolos revolta ne'e nia objektivu. Iha mos versi balu, mosu iha ema matenek sira la'os nusi portugues nian, dehan revolta 1959 ne'e la'os buka integrasai, maibe atu bolu atensaun ba Governo Portugues nodi hadia situasi sosial no ekonomik iha Timor. E balu dehan mos hakarak ukun an, ukun an ba pulau eh ilha Timor tomak.
Rahun diak ba maluk sira hotu.
Manel