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20090324

A Partidarização das escolas e locais de trabalho-A favor do Partido, contra o Estado

Por Agio Pereira*

Ontem, no noticiário da televisão de Timor-Leste, dia 23 de Março, o Secretário-Geral da Fretilin alertou os seus quadros para serem activos nas escolas e nos locais onde trabalham. Sob o ponto de vista partidário, faz sentido. É o trabalho de ‘consciencialização político-partidária’ imprescindível ao controlo do Estado pelo Partido. Contudo, sob um prisma de interesse nacional, este apelo pode trazer problemas para o processo do desenvolvimento do país.

Primeiro, devemos entender bem o significado das terminologias usadas. Quadros e militantes do Partido são atributos de ‘membros do Partido’ que deverão acarretar as ordens e disponibilizarem-se para accionar as directivas dos órgãos superiores do Partido. Escolas e locais de trabalho são outros atributos do conceito ‘onde quer que estejam’ deverão pois portar-se como bons quadros e bons militantes merecedores da confiança do Partido.

Sob um ponto de vista de um sistema de Partido Único, podemos facilmente entender esta mensagem. Aliás, habituamo-nos, durante a Luta de Libertação Nacional, a fazer uso deste lema sob a perspectiva revolucionária. Também se pode entender esta directiva partidária sob um prisma da ‘Segunda Luta de Libertação Nacional’, aprovada e emanada da reunião dos quadros do Partido Fretilin em Same, a 27 de Outubro de 2007, na qual se concebeu o já moribundo preconceito da ‘marcha da paz’.

Sob uma perspectiva de interesse nacional, poder-se-á dizer que implementadas tais directivas, os efeitos poderão ser contraproducentes àquilo que o IV Governo Constitucional entende reformar: as mentalidades.

A reforma das mentalidades é um processo moroso e complexo. Tal reforma preconiza uma mudança de atitudes, partindo do pressuposto de uma mudança do favorecer e servir só os interesses do Partido para se concentrar em favorecer e servir os interesses do Estado no seu todo, o colectivo nacional.

Esta mudança de mentalidade preconiza também um reforço de ambientes não conducentes à corrupção, ao nepotismo e à colusão. Estas mudanças pressupõe ainda o atributo de profissionalismo, tanto na função pública como no sector privado e nas demais instituições privadas e do Estado, a fim de criar um aparelho integrado que ajude a arrancar o país do seu estado de subdesenvolvimento para um de desenvolvimento integral e sustentável.

Estes processos que preconizam mudanças ou que, pelo contrário, reforçam as velhas mentalidades, estão em constantes fricções, evoluindo de acordo com as forças que controlam uma ou o outro. O conceito de mudança, a priori, já pressupõe abandonar as velhas mentalidades para condicionar o nosso sentido consciente às novas modalidades de relacionamento humano, tanto profissional como pessoal. É um processo porque se procura gerir as velhas mentalidades e adequa-las às estratégias integradas de desenvolvimento nacional sustentável.

Para um país como Timor-Leste, nascido da guerra e criado num berço de instabilidade, de dor e mágoa, será necessário e, até diria imprescindível, uma sintonia total no quadro da liderança nacional.

Se uns líderes puxam a rede à sua sardinha, e os outros também, em direcções opostas, o país não irá arrancar com o processo de desenvolvimento nacional ou, no mínimo, não irá seguir este rumo com a devida e bem merecida pujança política que o nosso país merece.

A lei sobre os Partidos Políticos reafirma as obrigações dos Partidos, enquanto instrumentos essenciais da democracia liberal e multipartidária de ‘educar’ a sociedade civil no sentido de capacitar os cidadãos no seu prisma individual e colectivo para corresponder às suas responsabilidades e deveres enquanto cidadãos.

Este princípio é importante, sobretudo se tivermos em conta a necessidade de mudar as mentalidades de dependentes e quase-para-sempre-colonizados para outras responsáveis e independentes, edificadores de um Estado soberano, alicerçado no princípio de Direito Democrático e edificado já na era de globalização.

Estar activo nos seus respectivos locais de trabalhos e nas escolas, actuando como militantes e quadros do Partido, se for no sentido alusivo às eleições, como disse o próprio Secretário-Geral do Partido Fretilin em Ainaro, ontem, no dia 23 de Março de 2009, pode ser um obstáculo a estas mudanças.

Um obstáculo porque se deve considerar que a actual fase de evolução do nosso Estado é uma fase que requer a atenção muito especial de todos nós, algo que o próprio Presidente da República José Ramos-Horta nos aludiu correctamente no seu mais recente discurso no Parlamento Nacional.

A prioridade atribuída a cada quadro do partido é o dever de recrutar mais quatro votantes nas próximas eleições para os Conselhos de Sucos e assim levar a uma vitória a ser alcançada pelo apoio de 15 000 (quinze mil) votantes ao seu Partido.

Uma atitude positiva que é de louvar!

O que não é de louvar é a incitação que todos os quadros e militantes devam conseguir tal resultado seja nas escolas, seja nos seus locais de trabalho, porque tal irá de certeza, uma vez mais, confundir o Estado com o Partido; uma correlação válida num sistema de Partido Único, já ultrapassado em Timor-Leste, mas não aceitável num sistema de democracia liberal e multipartidária, o presente rumo do nosso jovem país, liberal e democrático, fundado nos valores constitucionalmente garantidos na Constituição do nosso ainda mui frágil Estado.

Mudança de mentalidades, para todos nós, deve constituir uma causa nacional; se não for por outras razões, devemos faze-lo "ad majorem Dei gloriam!

FH/FIM

*Em exclusivo para Forum Haksesuk

1 comentário:

  1. Partidarização meios do estado e bens públicos é punível e inadmissível. Por isso, as autoridades têm de agir conforme as leis no sentido de pedir responsabilidades aos autores dessas campanhas do partido Fretilin nas escolas e locais de trabalho.
    O secretários geral da Fretilin está a retormar as suas estratégias políticas do seu partido tal como foi feito aos órgãos do estado F-FDTL enquanto a Fretilin reinava em Timor no passado recente depois da independência. É muito perigoso para o estado se o líder de um partido como Fretilin só tem trabalhado para travar os bons resultados conseguidos pelos esforços de muita gente com muito trabalho e muitos sacrifícios. O Mari Alkatiri não devia seguir esse caminho, porque não contribui em nada para a vida das pessoas nem para a evolução positiva da mentalidade do povo. O que existe nesses tipos de fazer política é destruir os valores democráticos, destruir a confiança do povo, destruir a unidade nacional, destruir a união entre os timorenses. O Mari Alkatiri nunca é favorável a união dos timorenses, sempre a procurar desunir através da propaganda partidária e mistificação da Fretilin. Campanha Partidarização nas escolas e no locais de trabalho alusiva a Fretilin pelos seus militantes é um acto desespero e politicamente incorrecto. Sabemos perfeitamente o porque Mari Alkatiri repescar a velha estratégia aplicada quando chegou ao poder, instrumentalizar os meios do estado como as escolas e locais de trabalho para semear alguns sementes doutrinárias da Fretilin mas que só apenas uma tentativa para ver se resulte e possa sacar 1 ou 2 votos dos alunos que irão completar 17 anos em 2012. Mas é muita pena um partido como a Fretilin cujos os seus dirigentes estão esgotados politicamente, sem ideias para o partido. Agora só fazem coisas fora do contexto político, ora boicote, ora marcha de paz, ora eleições antecipadas, ora anunciar abandonar o PN, ora ameaçar isto ora aquilo. Enfim, resumidamente concluirmos de que só podem estar doentes por isso precisam urgentemente de intervenção dos especialistas...

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