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20080725

Eu Sou Poeta, e…. Vocês São Políticos*

I

Eu nasci pobre numa aldeia pequena e pobre, no leste de Timor. Os meus pais eram camponeses, analfabetos e não acreditavam em Deus. O Deus, para eles, eram montanhas, pedras, árvores, casas tradicionais, etc.

Deixei a minha aldeia e, finalmente, cheguei a Díli, capital de Timor Leste. Fui criado por uma família católica e rica. Em Díli, aprendi muitas coisas, entre as quais, “a doutrina de Jesus Cristo” e “os 10 mandamentos”.

Gostava muito de pintar. Uma vez pintei 65 cavalos dentro duma quinta. Adorava cavalos! No tempo de férias,quando eu queria ir visitar os meus pais, na aldeia, tinha que usar o cavalo, como transporte.

Antigamente, os colégios católicos em Timor Leste eram conhecidos como lugares frequentados pelos timorenses mais espertos. O mais popular era o colégio de Soibada, no concelho de Manatuto. Quem conseguisse lá entrar, de certeza que ia sair e ter uma boa vida ou uma boa adaptação à sociedade timorense.

Naquela altura, os professores não eram pessoas com títulos, como acontece, actualmente( como S1, S2 ou S3). Os professores eram pessoas simples, muitíssimo bem-educadas, catequistas, mestres e merecedores do maior mérito, na sociedade timorense.
II

Nunca imaginei que um dia seria conhecido como um grande líder da juventude, dos estudantes, do partido, da sociedade e da nação de Timor Leste.

Aprendi a política de esquerda. A teoria de Marx e outras doutrinas do comunismo eram os meus pequenos-almoços. O comunismo estava muito bem implantado em Timor e até tinha provocado a invasão da Indonésia em Timor, em 7 de Dezembro de 1975. Em consequência dessa invasão, houve grande sofrimento para o povo timorense ao longo de 24 anos. Também provocou muitas mortes. Só no meu bairro, morreram 65 pessoas.

Fui preso no tempo da ocupação indonésia. Fui condenado pela lei da república indonésia a 5 anos de prisão. Vivi juntamente com outros prisioneiros numa só cela, no total de 65 prisioneiros. Fui libertado antes do referendo de 1999.
III

Quando o japonês Kiichiro Toyoda, filho do Sakichi Toyoda, fundou a sua empresa da Toyota Motor Corporation, em 1937, no Japão, nunca lhe passou pela cabeça que um dia em Timor Leste (que foi ocupado pelas forças japoneses, na segunda guerra mundial) iria acontecer uma grande manifestação dos estudantes universitários contra a proposta dos deputados timorenses da compra de uma das marcas do seu produto. Os deputados, que na sua maioria são democratas, portanto eleitos democraticamente pelo povo de Timor, pretendem comprar 65 carros da marca referida atrás. É uma nova marca da empresa Toyota Motor Corporation. Para os estudantes, enquanto o povo estiver com fome, os deputados não poderão usar carros de luxo na cidade de Díli. Finalmente, o Mr. Kiichiro Toyoda morreu, mas deixou muitos problemas aos deputados timorenses e aos estudantes universitários.

Se eu pudesse voltar atrás, gostaria de pintar novamente o meu desenho de 65 cavalos. Desta vez os cavalos não criados na quinta, mas na cidade, onde o dono é pobre, seco, sem comida nem bebida, mas os cavalos são gordos, gordíssimos...

Sei que nasci para escrever e gosto de escrever. Sou poeta e vocês são políticos. Uma boa leitura…

* Celso Oliveira, poeta timorense vive em Londres.

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