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20080528

CONFERÊNCIA NAS CELEBRAÇÕES DO PRIMEIRO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DO SENHOR DOM JAIME GARCIA GOULART

Está a Freguesia da Candelária, na Ilha do Pico, Açores, a celebrar o 1º Centenário do Nascimento daquele que foi o primeiro Bispo da Diocese de Dili, em Timor Leste. Permitam-me que eu me associe a estas celebrações em honra de Dom Jaime Garcia Goulart, com este pequeno trabalho sobre a Igreja em Timor Leste, e sobre Dom Jaime, e que passo a ler.

1. - Breve visão retrospectiva:

Desde 1512 até 1556, não se encontram dados históricos sobre a introdução do Cristianismo na ilha de Timor. Entretanto, sabemos que em 1542, já o padre Francisco Xavier, sj, mais tarde Santo, andava evangelizar Malaca, Molucas e outras ilhas do Oriente.

As primeiras noticias sobre as conversões em Timor, são dadas pelo padre dominicano Frei Gaspar da Cruz, que no prólogo do livro “Tratado em que se contam por extenso as cousas da China com sua particularidades, assi do Reyno de Ormuz, Évora, 1569”, refere, que no ano de 1556, um frade da Ordem de São Domingos, Frei António Taveiro, ou Taveira, teria baptizado 5 mil pessoas em Timor e em Ende. Outras referências são dos Jesuítas, P.e. Baltazar Dias, que a 3 de Dezembro de 1559, escrevia de Malaca, para o Provincial, em Goa, dizendo:

“ O que tenho coligido de Timor e Solor, como de outras partes que direi o seguinte: “A este Solar e Timor partem daqui em suas monções: a saber, uma no fim de Setembro, e outra na entrada de Fevereiro, e o mesmo de lá duas vezes no ano, a saber : Junho e em Outubro. A gente de Timor he a mias besta gente que há nestas partes. A nenhuma cousa adoram, nem tem ídolos: tudo quanto lhe dizem os portugueses, fazem”. De fronte a este Solar, três léguas, está uma ilha muito grande (Flores), onde haverá duzentos e mais cristãos, que fez um João Soares. Outra noticias sobre Solar e as ilhas da Insulindia é dada pelo padre Jesuíta Luís Fróis. (carta de 1561). Estes dois jesuítas não falam do Padre António Taveira, aquele que convertera 5 mil pessoas. Fosse como fosse, as notícias da existência de pequenos núcleos de cristãos nas Ilhas dos mares do Sul, chegaram ao conhecimento do primeiro Bispo de Malacia, o Dominicano, Dom Frei Jorge de Santa Luzia.

A Diocese de Malacia foi criada pela bula” Por excellenti”, de 4 de Fevereiro de 1557, pelo Papa Paulo IV, a pedido do rei Dom João III. Este bispo depois de ter sido consagrado em Lisboa, em 1558, chegou a Malaca em 1561. Uma das iniciativas que tomou foi enviar uma missão à Ilha de Solar, missão essa constituída por 4 membros, dos quais apenas sabemos os nomes de três: Padre Fr. António da Cruz (superior), Frei Simão das Chagas, e leigo irmão Aleixo.

Foi a partir da Ilhas de Solar, que se fez a expansão missionária para outras ilhas, entre quais Timor.Um dos dominicanos que se tornaram célebres reconstrução da fortaleza de Solar, foi o Fr. Miguel Rangel, que mais tarde, foi nomeado Bispo de Cochim (1634). Foi Frei Miguel, enquanto Superior de Solar, quem levou de Portugal 12 missionários, e uma vez chegado a Solar, distribuiu-os por diversas ilhas. Entre os doze companheiros de Miguel Rangel, destacou-se um que havia de ficar célebre na história de Timor. Trata-se do padre Frei António de São Jacinto, um dos primeiros apóstolos de Timo. No dia 24 Junho de 1641, ele baptizou a rainha de Mena, o príncipe herdeiro, a quem pôs o nome de João, e os grandes daquele reino. Nos princípios de Julho passou ao reino de Lifau , aí baptizou a rainha de Liafau (Oe-Cusse), e o filho, príncipe herdeiro e quatro filhas Mais tarde, levou a rainha de Cupão (Koepang), a submeter-se à Coroa Portuguesa. Frei António de S. Jacinto lançou as bases de missionação nas terras de Timor, com o envio de missionários para Lifau, Mena, Amanuban e Luca.

Quanto aos seguidores do padre António Taveira (1566). Em 1590, o padre Frei Belchior da Luz, desembarcou em Mena. Obteve do régulo local, licença para pregar e construir uma capela. Ma o seu precário estado de saúde não lhe permitiu muita actividade, pelo que regressou a Malaca, levando consigo o príncipe herdeiro, que foi baptizado em Malacia, pelo Bispo Dom João Ribeiro, com o nome de Dom Loureço. Regressando a Timor, e não havendo acompanhamento espiritual, o príncipe voltou ao paganismo.. Em 1633, o Padre Frei Cristóvão Rangel, companheiro de Miguel Rangel na reconstrução da fortaleza de Solar, desembarca em Silawan, um suco a oeste de Batugadé, baptiza o régulo, dando-lhe o nome de Cristóvão. Com a ajuda do chefe recém convertido levanta uma capela e inicia a catequisação dos habitantes do reino. Infelizmente, foi envenenado pelos mouros de Macáçar (Celebes), os quais frequentava, as praias de Batugadé, Vemasse e Laga e Lautem, e mantinham relações com o reino de Cowa (um suco do sub-distrito de Balibó). O frade dominicano, com a saúde arruinada, teve de regressar a Goa.

Em 1636, outro dominicano, o padre frei Rafael da Veiga, que havia missionado a ilha de Savu, abandona aquela ilha, e desembarca na praia de Batu Putih, no reino de Amabi, no extremo ocidental da ilha de Timor. Foi bem recebido pelo chefe e pelas populações. Converteu o régulo, e erigiu uma igreja escola e uma escola.

Como se disse acima, Frei António de São Jacinto, como vigário geral da Cristandade de Solar, Larantuca, em 1642, colocou dois missionários em Mena Frei Bento Serrão e Frei Manuel da Ressurreição) e outros dois em Lifau ( Frei Pedro de São José e Frei Álvaro de Távora), e um no Reino de Amanuban (Frei Jacinto de são Domingos), mais tarde, abriu-se um centro missionário em Luca. Foi a partir deste período que os dominicanos começaram as viagens para a parte oriental e central da ilha de Timor, abrindo centros missionários na costa norte: Lifau, Oe-Cusse, Batugadé, Cotubaba (Atabe). Maubara, Dili, Manatuto, Vemasse. E na costa sul: Batu Putih, Amanuban, Camanasa, Suai-Loro, Rai-mean, Kirás, Lacluta, Wesoro. Pela dinâmica introduzida pele Padre António de São Jacinto, aumentaram os dominicanos em Timor, pois como diz Bento da França, “existiam em Timor, em 1640, 10 missionários para 22 igrejas” ( cf. Bento da França, Macau e os seus habitantes. Relações com Timor. Lisboa, 1897, p. 255).

Acerca da acção do Frei António de S. Jacinto, diz o professor e historiador Teodoro de Matos: “Aos nomes dos dominicanos Belchior da Luz, Cristóvão Rangel e Rafael da Veiga veio juntar-se outro não menos digno. É o padre Frei António de São Jacinto a quem se ficou a dever muitos regulados timorenses à Coroa portuguesa. Missionário inteligente, devotado e activo, procurou conciliar os interesses da religião com os da Pátria” (In Timor Português 1515-1769, Lisboa, 1974, p. 51).

Frei António De São Jacinto foi mandado regressar a Goa em 1644. Em 1668, foi nomeado o Governador do Bispado de Malacia, com residência em Lifau, Timor, o padre frei Duarte Travassos. Por se ter oposto `as práticas gentílicas durante o funeral do chefe local, foi morto às azagaiadas, em 1670.

Segue-se um período de escassez de dados, até o ano de 1698, ano em que chega a Timor, um frade dominicano natural de Goa, frei Manoel de Santo António. Pelo seu zelo missionário e pelo seu patriotismo, foi nomeado Bispo de Malacia, em 1702, fixando a residência em Lifau. Dom Frei Manuel de Santo António ajudou o desembarque do primeiro governador de Timor, António Coelho Guerreiro. O novo Bispo teve muitos conflitos com os governadores e com o Arcebispo de Goa. 1617, foi nomeado governador interino de Timor. Em 1722, foi expulso de Timor pelo governador António Coelho de Albuquerque. De 1719 a 1726, deu-se a revolta de Cailaco. Nesse período dois missionários foram assassinados, igrejas e capelas foram incendiadas e objectos sagrados destruídos.

No ano de 1739, foi nomeado Bispo de Malaca, Dom António Castro, da Ordem de Cristo, ou de Tomar. Foi no seu tempo que se abriu o primeiro seminário em Oe-Cusse, cuja direcção foi entregue a dois sacerdotes oratorianos de Goa. Não sabemos se os alunos chegaram a ordenar-se. Morreu em 1743 em Lifau, com apenas 38 anos de idade e dois de governo. O seu sucessor, foi Dom Frei Gerardo (ou Geraldo) de São José, O.P. Nomeado Bispo de Malaca em 1748, mas só chegou a Timor em 1750. No seu tempo abriu-se o segundo seminário em Manatuto, a cargo dos dominicanos. Nesse ano, havia em Timor 15 igrejas. E os frades dominicanos eram 17.

Sobre este período dos dominicanos, o vice-rei Marques de Castelo Novo (1744-1750) dava esta apreciação negativa: “ exceptuando duas, todas as igrejas, não tinha portas nem paramentos, dizendo-se missa apenas nos domingos e dias santos, com pouca decência, por falta de paramentos e de altar condigno para tão alto ministério, não obstante as ofertas ou a satisfação do que se chamava pé de altar, serem bastante importantes... não existiam estações doutrinais, nem práticas espirituais, nem uso de catecismos da própria língua da terra que os naturais ignoravam” (Carta ao Governador do Bispado e Vigário da Cristandade de Timor), (In A Faria de Morais, Subsídio para a História de Timor, Bastorá, Índia Portuguesa, 1934, p. 39).

Não só as igrejas é que estavam desprovida, até alguns frades levavam vida escandalosa: ou dedicavam-se ao comércio de sândalo ou em comportamento morais pouco recomendáveis. Perante críticas de alguns sectores governamentais, sai o Vigário Geral dos Dominicanos, em Goa, em defesa do seus confrades: “ não assistem lá os religiosos continuamente por serem as mulheres muito lascivas virem todas para a casa do vigário, as mais moças, assim como de dia como de noite, sem poderem os religiosos porem cobro a isso remédio, mais que fugir-lhes, e ainda quando lá vão cumprir a obrigação de pároco, se recolhem nas casas dos reis, porque não têm outro modo para evitarem as visitas daquelas mulheres”. A despeito de toda a situação, podemos afirmar que o século XVIII, foi o período áureo da presença dos Dominicanos em Timor. Sobretudo no aspecto social. Na defesa das populações e no governo de Timor e na preservação da soberania portuguesa. Dos 17 Bispos de Malaca, um foi governadores interino de Timo Dom frei Manuel de Santo António), Um estava para ser nomeado, mas foi assassinado antes de se abrirem as vias de sucessão (Dom frei Gerardo de São José). Dos 27 Governadores de bispado, 4 padres dominicanos foram governadores interinos de Timor e Solor, ( Frei Jacinto da Conceição (primeira vez 1734-1739; segunda vez: 1756-1759); Frei António de São Boaventura( 1770), Frei Francisco da Purificação (1776), Frei Vicente Ferrer Varela (1834). Nesse período áureo, convém recordar o nome do Frei Alberto de São Tomás que escreveu um livro: “ Virtudes das Plantas Folhas, Cascas e Raízes de diferentes Árvores Medicinais de Timor”.(Macau, 1788-1779).

No dia 11 de Agosto de 1769, no tempo de Governador Teles de Meneses, foi a Praça de Lifau abandonada e reduzida a cinzas, embarcando a guarnição e população nos navios S. Vicente e Santa Rosa e outras pequenas embarcações. O Governador fez seguir os navios para o oriente, seguindo para Batugadé, e daí para Dilly, onde fundearam em 10 de Outubro do mesmo ano. A partir de então, o Governador do Bispado de Malacia e Vigário da Cristandade de Solar e Timor, passou a residir, ora em Manatuto, ora em Dili.

Circunstâncias várias fizeram com que o número dos missionários na Insulíndia fosse diminuindo de ano para ano. Em 1750, trabalhavam em Timor 50 dominicanos. Em 1775, o número baixava para 14. Em 1799, os dominicanos eram 8. No ano de 1802, só havia 5, em 1811, só um, que era o próprio governador do Bispado, frei José da Anunciação Gouveia.

Em 1834, deu-se a supressão das ordens religiosas em Portugal e nos domínios do Ultramar. Por falta de sacerdotes dominicanos, a Arquidiocese de Goa, mandou para Timor alguns sacerdotes naturais de Goa. De 1934 a 1875, relembramos o nome do Padre frei Gregório Maria Barreto, primeiro sacerdote e primeiro dominicano timorense. Em 1856, foi nomeado superior das Missões de Timor. Nesse ano, fez um relatório sobre o estado das Missões. No ano de 1856, havia 22 reinos em Timor, e em todos eles existiam pequenas comunidades de cristãos. Nos reinos existiam capelas, e só uma de alvenaria. (a de Motael). Nesse relatório, o padre Gregório Barreto advogava o aumento do clero nativo, a nomeação de um bispo que residisse permanentemente no território e a tradução da doutrina cristã para Tetun e Baiqueno (língua d Oe-Cusse).

A 15 de Junho de 1875, bela Bula, “Universis Orbis”, do Papa, Pio IX, as Missões de Timor foram agregadas à Diocese de Macau. E por essa mesma bula, foi nomeado Bispo de Macau, Dom Manuel Bernardo Sousa Enes, que chegou a Macau em 1877. Porém, em 1875, o bispo Enes havia nomeado Governador do Bispado, o deão Lourenço de Gouveia que mandou ao superior e vigário da vara das Missões de Timor que reconhecesse e fizesse reconhecer como seu Prelado, Dom Manuel Bernardo Enes. Outra medida tomada pelo deão Lourenço foi nomear um visitador para Timor, na pessoa do padre António Joaquim Medeiros, que depois de três meses de visita In loco propôs ao Prelado o recomeço da missionação em Timor. Foram então, enviados missionários europeus, procedentes do Real Colégio das Missões Ultramarinas de Cernache do Bonjardim. Reabriram-se as antigas missões, escolas, escola de artes e ofícios e escola de agricultura. Dom António Joaquim Medeiros convidou as Freiras Canossianas para trabalhar em Timor (1879). Convidou também os jesuítas, que só puderam assumir as Missão de Soibada, em Outubro de 1899. O Bispo D. António Joaquim Medeiros foi o “restaurador” e apóstolo das Missões de Timor, no segundo quartel do século XIX.

A Dom António Joaquim Medeiros, falecido em 1897, sucedeu o Bispo Dom José Manuel de Carvalho. Este Prelado dividiu território de Timor em dois vicariatos. O do Norte, com a sede em Lahane (Dili), sob a responsabilidade dos padres seculares, e o do Sul, ou Contra-costa, com a sede em Soibada, no reino de Samoro, e entregue aos cuidados pastorais dos padres Jesuítas. A Dom José Manuel de carvalho sucedeu o Bispo Dom João Paulino de Azevedo e Castro, natural da vila de Lajes, Pico, e que governou a Diocese de Macau e as Missões de Timor de 1903 a 1918. Em 1910, deu-se a mudança do regime em Portugal. E depois da implantação da República, em Timor, os Jesuítas e as irmãs canossianas foram obrigado a deixar Timor e as obras que até então dirigiam. Durante o seu governo, deu-se em Timor a chamada “guerra de Manufahi”, ou revoltas contra a soberania portuguesa. O chefe era o regulo Dom Boaventura, que tinha sido aluno das Missões em Lahane. O sucessor de Dom Paulino foi o Bispo D. José da Costa Nunes, nomeado em 23 de Novembro de 1920. Foi um dos grande apóstolos de Timor. Reduziu os dois vicariatos num só; fundou a Escola de preparação para Professores- catequistas, convidou as canossianas e os salesianos para trabalharem em Timor. Abriu nova missões e escolas. Inaugurou a Igreja Matriz de Dili, em Outubro de 1937, e encetou esforços no sentido de se criar uma nova diocese em Timor. Graças à sua diplomacia junto do Governo Português, e na sequência do estabelecimento da Concordata de 1940, as Missões de Timor, foram finalmente erigidas em Diocese, com a Bula “Somenibus Conventionibus”, do Papa Pio XII.. E para seu primeiro Bispo foi nomeado, o então Administrador Apostólico, Mons. Jaime Garcia Goulart, cujo aniversário de nascimento hoje se celebra.

2. DOM JAIEM GARCIA GOULART – 1º Bispo de Dili (Timor Português)

Filho do Sr. João Garcia Goulart e da Sra. Dona Maria Felizarda Goulart, o senhor Dom Jaime Garcia Goulart nasceu na freguesia da Candelária, na ilha do Pico, em 10 de Janeiro de 1908. Aos 13 anos de idade, em 22 de Julho de 1921, deixava a sua terra natal, rumo ao Oriente, frequentando o Seminário de Macau, onde ingressou a 21 de Setembro. Ainda aluno do 3º ano de Teologia, passou a ser secretário particular do Sr. Dom José da Costa Nunes, então Bispo de Macau e, nessa qualidade acompanhava-o, pouco depois, em gozo de férias, até aos Açores. Por isso mesmo, fez o 4 º ano do curso teológico no Seminário de Angra. Foi sempre aluno de exemplar comportamento e de distinto nível académico. Recebeu as ordens menores em 25 de Março de 1928 e o subdiaconado em Março de 1930 na cidade d Macau; o Diaconado em 4 de Abril de Abril de 1931 na cidade de Angra; e o Presbiterado, foi-lhe conferido em 10 de Maio de 1931, pelo Sr. Dom José da Costa Nunes, na Candelária do Pico, celebrando a sua missa nova na mesma freguesia, no dia 14 do mesmo mês. A 13 de Janeiro de 1932, era nomeado missionário do Padroado Português do oriente. Depois de sacerdote continuou como secretário do Prelado e lecciono Latim no Liceu e no Seminário de Macau. No verão de 1933, acompanhou Dom José da Costa Nunes na visita Pastoral às Missões de Singapura, Malacia e Timor. Acabada a visita, a pedido do Superior e Vigário geral das Missões, Padre Abílio José Fernandes, ficou agregado àquelas Missões. Foi então colocado na Missão de Soibada como professor da Escola de Preparação para Professores-Catequistas. Em Outubro de 1935, é nomeado Superior da Missão e director do Colégio Nun’Álvares Pereira. Foi em Soibada, que, o Padre Jaime Garcia Goulart, com a anuência do Bispo de Macau, fundou o pré-Seminário de Nossa Senhora de Fátima, a 13 de Outubro de 1936.

Em 8 de Setembro de 1937, foi transferido de Timor para Macau, voltando a exercer o cargo de secretário particular do Sr. Bispo Dom José da Costa Nunes. E ao mesmo tempo professor de Educação Moral e Cívica no Liceu de Macau e no Colégio de Santa Rosa de Lima. Em Dezembro de 1939, partiu de Macau em gozo de licença graciosa, indo de caminho a Goa, onde se demorou um mês, a recolher elementos sobre a história das Missões de Timor. Já em Portugal, esteve em Évora, consultando o s Arquivos da Biblioteca Municipal de Évora. Há dois anos, quando estive na Cidade-Museu, consultando mesmos manuscritos sobre Timor, via a assinatura de Dom Jaime, feita em 1940, no livro de consultas da Secretaria da Biblioteca.

De regresso ao Oriente, foi transferido para Timor, como novo Superior e Vigário Geral das Missões de Timor, e com a nomeação de 22 de Janeiro de 1940.

Passado um ano, precisamente, a 18 de Janeiro de 1941, foi nomeado pelo Santo Padre, Pio XII, Administrador Apostólico da nova Diocese de Dili, com faculdade de bispo residencial e com o título de monsenhor “ex officio”.

Em 1941, ao ser criada a Diocese, havia em Timor 21 missionários, 20 religiosas canossianas, um auxiliar leigo, 42 catequistas. Havia 9 missões centrais, 7 igrejas, 18 capelas de alvenaria e mais 17 cobertas de capim, 3 colégios de meninas e um de rapazes, um pré-seminário, uma escola de Catequistas e 25 escolas de ensino rudimentar (para indígenas). Os cristãos (católicos) eram 29.899. Apresentava-se diante do novo Administrador Apostólico um campo imenso de expansão missionária. Mas o governo pastoral do Mons. Jaime, não ia ser risonho, pois, no fim desse ano, 1941, Timor ia enfrentar uma grande calamidade: a invasão e ocupação do território pelas forças estrangeiras.

De facto, no dia 17 de Dezembro de 1941, entraram em Dili os australianos e holandeses. O governo português protestou e resolveu-se que esta força sairia de Timor, logo que as tropas portuguesas enviadas de Lourenço Marques chegassem a Dili. Essa forças nunca e chegaram e as forças aliadas também não saíram de Timor.

N no mês de Fevereiro de 1942, os navios Japoneses bombardearam Dili para cobrir o desembarque das suas tropas em Madoi, a 5 km a oeste da cidade. Uma vez acampadas no território timorenses, os nipónicos forçam os australianos e holandeses para as montanhas. Com o avanço dos japoneses e dos seus aliados, as tristes Colunas negras (milícias timorenses, de Timor Ocidental e ilhas vizinhas), Timor entrou fase dramática da sua história: casas incendias, escolas, igrejas e residências saqueadas, populações a fugir paras as florestas deixando lares, plantações e gado. Em Março, as tropas japonesas cercaram os edifícios da Missão, em Lahane, e saquearam tudo.

Em Maio de 1942, os australianos começaram a bombardear a praça de Dili. Por verem que as torres da Igreja Matriz podiam servir de guia para os aviões australianos, os japoneses apressaram-se a demolir aquela que seria, mais tarde, Catedral da nova Diocese.

No dia 2 de Outubro de 1942, dois missionários da Missão de Ainaro foram barbaramente assassinados pelas colunas negras. (O padre Norberto de Oliveira Barros, natural de ilha Terceira e o padre António Manuel Pires, oriundo de Freixo de Espada -à- Cinta). Os corpos dos dois missionários e de um outro português foram lançados numa cabana perto da igreja e depois regados com gasolina e pondo-lhes fogo. Os missionários vivam em contínuo sobressalto, e começaram a procurar refúgio nas montanhas. O Administrador Apostólico transferiu-se para a Missão de Ossu. Foi nessa missão, que Mons. Jaime Goulart viu-se envolvido num incidente com os japoneses, por ter prestado assistência espiritual a alguns soldados católicos australianos e ter emprestado o seu automóvel para um salvamento de um soldados ferido. Foi preciso intervir um oficial japonês que deixou em liberdade o Administrador Apostólico. Vendo que os missionários corriam perigo de vida, o Administrador Apostólico tomou a difícil decisão de mandar evacuar sacerdotes e religiosas para Austrália. No dia 15 de Dezembro de 1942, dez sacerdotes e doze irmãs canossianas embarcaram para Darwin. Ficaram em terra cinco padres : três entregaram-se aos japoneses (Padre Alberto da Ressurreição Gonçalves, Manuel Serra e Carlos da Rocha Pereira, este era açoriano) e foram metidos em campo de concentração em Liquiçá. Outros dois embrenharam-se na floresta e ali perderam a vida. O padre Francisco Madeira morreu de doença e de fome, e o padre timorense Abílio Caldas foi assassinado por timorenses em Lacluta. Na Austrália, o Administrador Apostólico e os sacerdotes foram enviados para Armidale. Nessa localidade passou Mons Jaime três anos de “cativeiro”, 1943 , 1944 e 1945.

Sobre a evacuação dos missionários para Austrália, Dom Jaime, deu esta explicação : “Eu tinha poucos missionários. Quando vi que os japoneses havia assassinado os padres Norberto de Oliveira Barros e António Manuel Pires, quis salvar as vidas dos poucos que restaram. Por isso, dei ordem que me seguissem para Austrália. Eu era então Administrador Apostólico de Díli. Fiz um relatório ao Papa, pedindo que me demitisse por ter abandonado a Diocese e ter obrigado todos os missionários a fazer o mesmo”. O Papa Pio XII, em vez de aceitar o seu pedido de demissão, nomeou-o primeiro Bispo de Dili.

Em 12 de Outubro de 1945, a Santa Sé nomeou Mons. Jaime Garcia Goulart, bispo da Diocese de Dili. Foi ordenado Bispo (28.X.45) pelo Delegado Apostólico na Austrália, Mons. Giovanni Panico, na Capela do Seminário Maior, em Manly, nos subúrbios de Sydney. Foram Bispos consagrantes o Arcebispo de Sydney, Mons. Gilroy, e o Bispo de Armidale, Mons. John Coleman. Tomou como lema episcopal a frase de São Paulo, na carta aos Romanos: “vince in bono malum”.

No dia 15 de Agosto de 1945, os refugiado recebem a notícia do fim da guerra. E a 5 de Setembro é declarado o armistício, com a derrota do Exército nipónico. Em finais de Novembro os missionários e a s irmãs canossianas regressam, por via marítima a Timor. A comitiva chega a Dili, no dia 8 de Dezembro de 1945, festa da Imaculada Conceição, Padroeira da Diocese de Díli. O desembarque foi desolador e muito triste, visto os “retornados” encontrarem a cidade de Dili em ruínas. Desse estado de total destruição, escrevia o antigo governador de Timor, Óscar Ruas:
“(...) Feito o trágico balanço, verificava-se que Timor tinha sido reduzido ao zero absoluto. A capital e todas as povoações. As vias de comunicação e o porto, destruídos. A pecuária desapareceram praticamente (...). As ricas plantações ao abandono, sob pena de morte, durante a ocupação, estavam irreconhecíveis. E, o mais trágico de tudo, tinham-se perdido cerca de 100.000 almas, por assassinatos, fome e falta de assistência. Noventa por cento dos habitantes de Timor estavam sarnosos e mais de cinquenta por cento sofriam de pústulas bubáticas. No conjunto havia apenas esqueletos com vida” De facto, durante os três anos de ocupação estrangeira, Dili tinha sofrido 94 bombardeamentos aéreos, ficando apenas 10 casa de pé. Haviam desaparecido as povoações de Manatuto, Lautém, Aileu, Maubisse, Ainaro, Viqueque, Ermera e outras. Hospitais, postos sanitários, escolas, quartéis, tudo foi arrasado. Apenas se salvou o hospital de Dili. E as Missões? A Igreja de Timor tinha perdido 74 edifícios, entre Igrejas, capelas, residências missionárias e escolas,(a mais vistosa foi a da Igreja Matriz, inaugurada em 1937).Dos quase 30 mil católicos, antes da guerra joponesa, só ficaram 26 mil, isto é, pereceram durante o conflito, 4 mil católicos. A nova diocese perdeu 4 missionários e muitos catequistas. É nesta situação desoladora, que o novo Bispo de Dili vai trabalhar com cerca de 12 missionários.

Como tínhamos dito, Dom Jaime e os missionários chegaram a Dili, no dia 8 de Dezembro de 1945. Tanto para a Igreja como para o Estado, impunha-se a tarefa de reconstrução de Timor Português.

A nível eclesial, Dom Jaime põe em prática o seu lema episcopal: “ Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem – vince in bono malun, “(Rm 12, 21). Pondo a sua esperança na graça do Senhor, o novo Bispo lança-se na ingente tarefa da reconstrução material e espiritual da Diocese. Pede aos missionário regressados da Austrália e do campo de concentração de Liquiça, retomem os seus lugares nas antigas Missões. São reabertas as Missões de Dili, Ossu, Baucau, Manatuto, Soibada, Ainaro,Oe-Cusse, Ainaro A 9 de Dezembro de 1945, as Irmãs canossianas voltam a Soibada. No novo de 1946, estavam abertas são as escolas.Em Março, Dom Jaime institui o Colégio dos Consultores. Em Setembro, chegam a Dilui, seis salesianos, três sacerdotes e três irmãos coadjutores, que assumem a direcção da escola elementar de Lahane, na sede da Antiga Missão. Em 1947, a Diocese vê o número de clero aumentado, com a chegada de oito sacerdotes de Goa (Índia Portuguesa). Em 1948, realizam-se em Dili, as ordenações sacerdotais de 2 diáconos timorenses: Martinho da Costa Lopes e Jacob Dias Ximenes. Em Soibada, são reabertos o Seminário Menor, a escola de Professores-catequsitas, sob a direcção do açoreano, padre Januário da Silva Coelho Nesse ano, Dom Jaime, acompanhado de um grupo de timorenses, desloca-se a Roma para assistir às cerimónias da canonização de S. João de Brito. Em 1949, com a sua anuência, o padre Ezequeil Pascoal Enes (açoreano) funda o “Boletim eclesiástico da Diocese de Dili”, mais conhecido com o nome de SEARA. A nível das Missões, são abertas, as Missões de Bobonaro, Cova Lima, Fuiloro e Fehu-Rin.

Em 1950, a Diocese de Dili apresentava os seguintes dados estatísticos: Área: 18.898 km 2. População: 436.448 habitantes, Católicos : 42. 621 Paróquia (Dili): 1; Missões : 12 (Alas, Ainaro, Baucau, Bobonaro, Covalima, Ermera, Fuiloro, Fehuc-Rin, Manatuto, Oe-Cusse, Ossu, Soibada).
A situação em 1953: População católica: 59. 351; Catecúmenos: 10. 669; famílias católicas: 8.342; 1 Paróquia e 13 Missões. Estações Missionárias: 63;
Pessoal missionário e auxiliar: Sacerdotes seculares: 28; sacerdotes; sacerdotes salesianos: 6, Irmãs canossianas . 29; irmãs dominicanas: 3.
Professores-catequistas: 41; professoras-catequistas. 4; Monitores-catequistas : 21, Monitoras-catequistas: 5.
Catequistas (homens): 65; Catequistas( mulheres): 1 Catequistas auxiliares: Homens): 69; Catequistas auxiliares (mulheres) : 7.
Nb: Os catequistas foram os grande colabores na obra da evangelização de Timor.

A igreja e educação da juventude timorense: Dom Jaime Garcia Goulart, deu uma grande importância ao ensino e educação da juventude. Em 1953, a Diocese de Dili mantinhas estes estabelecimentos de ensino:

Seminário Menor, em Dare, 1. Escola de Professores- Catequistas, 4 Colégios Madsculinos: Soibada, Ossu, Maliana, Fuiloro, 30 escolas masculinas, com 3.770 alunos matriculados. Colégio femininos, a cargo ds Canossianas e Dominicanas: Colégio de Soibada, com 188 alunas; Colégio Imaculado Coração de Maria (Ermera), com 165 alunas; Colégio Oscar Ruas Ossu ( 165 alunas), Escola Castro Lahane (Dili), 241 alunas), e 3 escolas femininas de Manatuto, Laleia e Baucau.
NB : Escolas Masculinas e escolas femininas (divisão de sexos), Os alunos eram sempre mais do que as meninas; Razão, eram poucas as religiosas e as monitoras escolares.

A década de 1950 a 1960, foi de grande desenvolvimento em números de obras e presenças, e ordenações sacerdotais de timorenses e chegadas de mias missionários (de Portugal continental e dos Açores). Nesta década, apontam-se três factos importantes: 1. a erecção canónica do Seminário de Seminário de Nossa Senhora de Fátima (13 de Outubro de 1954); O envio de Seminaristas Maiores para o seminário de S. José de Macau; e a entrega do Seminário à direcção da Companhia de Jesus (1958).

Entre os anos de 1960 e 1967, ano da resignação de Dom Jaime, registaram-se alguns factos importantes na história religiosa de Timor Português: Em 1962, Dom Jaime convida os Salesianos a Missão de Lahane e mudarem-se para a zona Leste, assumindo a cura pastoral da grande missão de Baucau, então até a cargo dos padres seculares. Em 1962, de Dom Jaime toma parte na 1ª e 2ª Sessão do Concílio Ecuménico no Vaticano; Em 1965, atendendo ao pedido de Dom Jaime, o Santo Padre Paulo VI, nomeia Bispo Coadjutor de Dili, o então Bispo Auxiliar de Évora, o senhor D. José Joaquim Ribeiro; a 18 de Janeiro de 1966, a Igreja timorense celebra as bodas de Prata da nomeação de Dom Jaime Garcia Goulart como primeiro Administrador Apostólico (18 de Janeiro de 1941).

Desde 1940, a igreja católica em Timor Português fez progressos como nunca na sua história quatro vezes secular: Vejamos as estatísticas, quanto ao aumento dos católicos: Em 1941, os católicos eram 29. 899. Em 1950, o número subia para 42. 621. Em 1955, os católicos eram 66.790, e havia 10.048 catecúmenos. Em 1960, o número de católicos era de 91.332. No relatório enviado ao Governo da Província em 1964, Dom Jaime apresentava estes dados estatísticos: Na Diocese de Dili, havia 2 Paróquia e 11 Missões centrais. Em torno das Paróquia e Missões, e delas recebendo impulso e direcção operavam 69 Estações Missionárias. Os católicos eram 122. 167, numa população de 556.059 habitantes. E no último relatório de 1965: Total de População: 574. 805 habitantes; População católica: 131.455; número de catecúmenos: 14.580; famílias católicas. 18.857. Finalmente, no ano de 1967: católicos: 152. 131.

Apresento a seguir dados estatístico de 1941 e de 1967:
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Em 1941


Em 1967
Católicos 29 899 152 151
Sacerdotes 21 52
Irmãos religiosos -8
Irmãs Religiosas 2041
Professores Catequistas -58
Monitores Catequistas -54
Catequistas 4256
Paróquias 13
Missões 912
Internatos masculinos 14
Internatos femininos 34
Externatos masculinos -30
Externatos femininos -14
Periódicos diocesanos -2
...


Limitações físicas e problemas de saúde levaram Do. Jaime Garcia Goulart, a pedir a resignação como Bispo residencial ao Santo Padre, o Papa Paulo VI, resignação essa tornada efectiva a partir de 31 de Janeiro de 1967.

Das “Palavras de Despedida” proferidas por Dom Jaime Garcia Goulart, na Emissora da Radiodifusão de , a 31 de Janeiro de 1967, transcrevemos:

“Há mais de 33 anos que, pela primeira vez, pisei terras de Timor e tomei contacto com a sua gente. Desde então para cá se têm vindo, dia a dia, apertando os laços de espiritual afecto, que me ligam a este bom Povo Timorense, laços que ainda mais fortemente me vinculou a cruz do episcopado.

Não se perde, assim, de ânimo impassível, um convívio tão profundo nem a comunhão em dores e alegrias de tantos anos.

Para ainda mais agravar a mágoa desta despedida, levo comigo o desgosto de não ter podido ou fazer pelo Povo de Timor tanto quanto deseja e ele merecia.

Por isso, certamente me não levareis a mal que, na angústia deste momento, eu me ampare a alguns pensamentos de conforto e esperança.

De todos o maior é o de ter podido dotar a Diocese de um Seminário e de ter visto já os seus primeiros e benéficos frutos. O Reino de Deus em Timor não se dilatará nem consolidará sem numerosos e santos Sacerdotes Timorenses.

Outro motivo de satisfação: o consolador e sempre crescente aumento da Comunidade Cristã. Recebi a Diocese com 30.000 Católicos. Entrego-as com mais de 150.000.
Ainda e só mais uma reconfortante verificação: durante o meu episcopado, vi subir o número de alunos nas Escolas Missionárias de 1 500 para 8 000.

Trabalho e mérito meus? Não! Deus me livre da tentação de só o de pensar. Tudo isso e algo mais foi possível, com a Divina Graça, pelo zelo e incansável labor de prestimosos Missionários, Religiosos, Professores e Catequistas; pela generosidade magnânima do Governo da Província e cooperação devotada de Autoridades locais.

É com prazer e inteira justiça que a todos tributo, ao retirar-me, o preito da minha profunda, indelével gratidão”.

Depois de deixar Timor, Dom Jaime Garcia Goulart, veio fixar a residência nos Açores. Mesmo longe de Timor e dos Timorenses, continuou a contribuir espiritualmente para a dilatação do Reino de Deus em Timor Leste. Nas suas palavras proferias em 31 de Janeiro de 1967, tinha dito que tinha trabalhado na vinha do Senhor em Timor, durante 33 anos. Pois, depois de o apostolado directo nas terras de Missão, passou outros 30 anos, no Açores, em continua oração e comunhão com a Igreja de Timor, de 1967 a 1997. Dom Jaime Garcia Goulart foi um Bispo missionário activo e contemplativo, ao longo da sua longa vida. Com pobres palavras, ouso definir o retrato espiritual do nosso primeiro Bispo. “Ele foi homem de acção e de contemplação”! Termino esta longa palestra com as palavras que o saudoso Padre Ezequiel Enes, proferiu, no longínquo ano de 1956, quando Dom Jaime celebrava as Bodas as bodas de Prata sacerdotais, nos dias 10 e 14 de Maio de em Dili, Timor Português. “Há homens cuja biografia se pode resumir nestas pouca palavras: cumpriram com bondade o seu dever, dentro de modestas possibilidades, sem ostentação nem aparato. (...) São homens que vivem, na humildade, uma vida alta, em permanente ascensão espiritual que mais se advinha do que se vê. (...). O segredo da sua força reside na harmonia plena do seu espírito unido a Deus e em permanente equilíbrio, apesar das flutuações do mundo em que vivem e dos acontecimentos, favoráveis ou adversas, que se desenrolam à sua volta. Amam a ordem, amam o arrumo, as suas atitude são claras. O seu desassombro não é agressivo. A sua prudência não é estudada. A sua lealdade não é rude. Vencem sem humilhar. Conquistam sem magoar” (In Manuel Teixeira, Macau e sua Diocese, vol. X, Missões de Timor, Macau, 1974, p. 461-4629).

Assim foi Dom Jaime ao longo da sua vida. Oxalá, Ele que está a gozar o Prémio da visão beatífica, junto do Pastor Eterno, Jesus Cristo, continue a interceder pela Igreja que está em Timor Leste, e nos ajude a nós, os Timorenses, a conservar os preciosos ensinamentos que nos deixou..

Ao celebramos o primeiro centenário do nascimento daquele que foi o Primeiro Bispo da Diocese de Dili, inclino-me com profundo respeito e admiração, perante sua memória, pois ela foi e será sempre uma renovada inspiração para o Povo de Timor Leste.

Candelária, Pico, 10 de Janeiro de 2008.
Dom Carlos Filipe Ximenes Belo, sdb
Bispo Tit. de Lorium
Prémio Nobel da Paz de 1996

Bibliografia:
Teixeira, P.e. Manuel, Macau e Sua Diocese, X Vol. Missões de Timor, Macau, 1975,593 pp.
Matos, Artur Teodoro de, Timor Português 1515-1769. Contribuição para a sua História, Lisboa, 1974, 489 PP.

Morais, Alberto Faria de, Subsídios para a História de Timor, Bastorá, Índia, 1934, 169 pp. + Documentos, 84 PP.

Leitão, Humberto, Vinte e Oito Ano de História de Timor (1698-1727), Lisboa, 1952, 349 PP.

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