por Abílio Araújo*
Tenho ouvido e lido bastante sobre o nosso País, Timor Leste.
Tenho ouvido e lido bastante sobre o nosso País, Timor Leste.
Assisti, em Díli, através da TVTL – Televisão de Timor Leste às primeiras declarações do Primeiro Ministro Xanana Gusmão sobre os acontecimentos daquela manhã de 11 de Fevreiro. Sou pouco propenso a ir na onda das férteis imaginações que alimentam e dão curso aos rumores e boatos quanto ao envolvimento directo de terceiros nos acontecimentos de grande gravidade que, gracas a Deus, não tiveram um desfecho trágico para as vidas dos nossos dirigentes de Estado, o PR Ramos Horta e o PM Xanana Gusmão, dos seus elementos da seguranca e familiares. Particularmente grave é também a tentativa de se lançar a suspeição sobre o proprio PM Xanana Gusmão que, segundo certos analistas, teria engendrado aqueles atentados. Assim, as declarações de Salsinha ao jornal português Expresso, de 23 de Fevereiro, acabam por deitar por terra aquela suspeição alimentada por quem muito leu George Simenon, Agatha Christie e outros. Aguardemos serenamente, sim, pelo resultado das investigações em curso que esperamos sejam conduzidas por entidades credíveis e independentes e nos possam trazer factos novos do porquê de tais tresloucados actos.
Por isso, quero ressaltar das declarações do Primeiro-ministro Xanana Gusmão logo durante a sua Comunicação ao País nos ecrãs da TVTL a alusão feita aos que querem fazer de Timor “ um Estado Falhado”.
Creio que esta é a questão da ordem do dia colocada aos Timorenses e seus verdadeiros aliados e amigos.
Recuso embarcar na teoria dos que insatisfeitos para com Xanana propagandeiam aos quatro ventos que este líder ter-se-á já esquecido ou deitado por terra todos os sonhos por cuja concretização tanto tem lutado como o de ver um Timor Leste a singrar nos caminhos da verdadeira Independência com Paz, Democracia, Concórdia e Desenvolvimento. Disse-o no almoço a sós com o PR Ramos Horta - a quem desejo melhoras muito rápidas -, em 5 de Fevereiro passado, num restaurante de Díli quando abordámos a situação presente e os caminhos a percorrer. Sou de opinião de que o Governo de Xanana Gusmão é um Governo legítimo e com base parlamentar comprovada como se viu aquando da aprovação do Plano e Orçamento para o corrente ano fiscal. Enquanto se mantiver esta base parlamentar não haveria razões para eleições antecipadas. Além disso, a cura de oposição a que a FRETILIN está sujeita neste momento pode ser salutar para ela própria, para a Democracia e para o País.
Não há dúvida que o País continua a ver por resolver dois dos três problemas mais prementes, o dos deslocados internos e o dos peticionários, já que aparentemente o problema do malogrado irmão Alfredo Reinado que teve um desfecho triste – a morte de alguém é sempre muito triste e lamentável – merece outra abordagem. No entanto, há esforços sérios para a resolução desses problemas cuja responsabilidade não deve ser unicamente atribuída a este Governo mas tambem à Oposição, que foi responsável pelo I Governo Constitucional e que por incompetência e adiamento do tratamento dos problemas nas áreas de Defesa e Seguranca comprovadamente manifesta no mau desempenho dos seus dois Ministros (posterior e tardiamente demitidos Dr Roque Rodrigues e Rogerio Lobato) permitiu a eclosão e alastramento dos problemas que vieram a desembocar na crise de 2006.
O cenário de eleições antecipadas não viria alterar profundamente o quadro parlamentar existente em relação aos que querem ascender ao Poder novamente. Só a ambição do poder escudada em tergiversações de ordem político-partidária para consumo imediato de quem não soube aceitar a derrota eleitoral, pode permitir posturas de avestruz. Senão vejamos. A FRETILIN de Luolu e Alkatiri perdeu a maioria confortável que possuía e hoje está reduzida a cerca de um terço de deputados. A AMP, no caso de vir a concorrer em coligação, ultrapassará a FRETILIN, evidentemente. A dúvida que poderá’ eventualmente surgir é se aquela ultrapassará os 50% dos lugares num próximo Parlamento. A grande novidade poderá porventura provir da previsível Convergência dos sete Partidos sem assento parlamentar tendo à frente o PNT- Partido Nacionalista Timorense, Partidos que obtiveram nas ultimas eleições o total de 45.000 votos. Esta outra força poderá vir a ter peso e expressão para clarificar a geometria da configuração parlamentar. No entanto, como é sabido, estes sete Partidos, no actual cenário político, já exprimiram o seu reconhecimento do actual Governo da AMP e querem contribuir para a estabilidade governativa que é a condição básica para que o País possa, em segurança, concórdia e democracia, erradicar gradualmente a pobreza, lançar as bases para o Desenvolvimento de Timor e extirpar definitivamente os sonhos e planos dos que querem fazer de Timor um “Estado Falhado”.
Há enormes desafios e responsabilidades colocadas aos Timorenses e à Comunidade Internacional. No que toca aos Timorenses, é hora de tocar a rebate para congregar todos os filhos de Timor nos grandes objectivos da Segurança e Desenvolvimento que são, em primeiro lugar, tarefas do Estado. A problemática da Segurança está intimamente ligada à do Desenvolvimento, eterna interrogação do ovo e da galinha... Os programas sociais do actual Governo como o do apoio justo e inadiável aos Combatentes da Libertação, às viúvas e órfãos constituem “per se” um meio de conter focos de revolta e eclosão social já vividos no passado. Outrossim, contribuem para aumentar o rendimento disponível das famílias, o consumo e a poupanca.
Não obstante os objectivos plausíveis desses programas e a justiça social que prosseguem, o arranque “take off” da Economia de Desenvolvimento Timorense far-se-á verdadeiramente quando o Estado em cooperação com o sector empresarial privado nacional e o Investimento Externo se lançar decisivamente na construção de grandes obras de Infra-estruturas do País, dando prioridade ao sector energético, e de comunicações, vias e rodovias, novos polos de desenvolvimento geradores de mobilidade interna de mão-de-obra e respectivas familias. O sector empresarial privado deve ser encorajado pelo Estado a desempenhar o seu papel e não ser minimizado a favor dos grandes grupos estrangeiros. O sector privado, sendo tão incipiente e frágil, como os demais sectores da vida nacional incluindo o próprio Estado, tem funções insubstituíveis na dinamização da vida económica nacional, nos sectores primário, secundário e terciário.
Timor vive o paradoxo de não dever um único cêntimo ao estrangeiro, ter os seus cofres cheios de dinheiro depositado em New York, mas o seu bem mais precioso - o seu povo - está depauperado, as empresas e famílias endividadas aos bancos locais, as estradas em mau estado que as chuvas se encarregam de inutilizar definitivamente com a destruição de várias pontes pelo país fora, os preços dos produtos disparam em flecha, a agricultura em estagnação, etc..
É claro que nada se faz da noite para o dia, todos o sabemos. Há demasiados problemas que urge seleccionar e escalonar por ordem de prioridades, sem esquecer a necessidade de inventariar os recursos financeiros passíveis de serem mobilizados, incluindo o recurso a empréstimos do Exterior. A inventariação desses recursos inclui tambem os provemiemtes das ajudas internacionais sejam de Governos sejam de ONGs ou organismos transnacionais para cuja aplicação se deve obedecer a um Plano Estratégico de Desenvolvimento a fim de evitar a saturação de programas num determinado sector ou, pior ainda, a criação de dinâmicas centrífugas em relação a um modelo de desenvolvimento equilibrado e sustentado.
Impõe-se uma boa gestão e aplicação financeiras adequadas do Fundo Petrolífero que não a actual gestão defensiva em resultado de uma concepção corporizada em legislação pouco adaptada à realidade de Timor. Uma nova politica de Desenvolvimento económico permitirá, sem reservas de qualquer espécie, relançar Timor Leste na senda do Progresso irreversível e no acenar de um adeus definitivo aos sonhadores do Estado Falhado.
No que toca ao sector da Defesa e Segurança, impõe-se avançar com as reformas que constituem o objectivo deste Governo para este ano. Dignificar o papel das Forças Armadas e seus membros, bastião da luta pela Independência e Soberania e responsabilizá-las como Força Histórica indesmentível da Unidade do Povo desde a Fronteira até Tutuala e Jaco passando por Atauro e Oecusse. Equipá-las e modernizá-las nas suas componentes terrestre, marítima e aérea com vista a defesa da Soberania e Integridade Territorial e recusando inequivocamente os “conselhos” dos que pretendem extingui-las. Aprofundar a formação da Polícia Nacional nas diferentes áreas de actuação e conferir aos seus membros os meios operacionais necessários.
As Forças Internacionais são bem-vindas mas não para ficarem de vez. A nossa memória colectiva ainda não esqueceu os homens de batina branca que nos primórdios do século XVI aportaram nas nossas praias e que a pretexto da evangelização abriram as portas dos nossos Reinos Antigos para o saque do nosso “sândalo salutífero e cheiroso” e posterior radicação do sistema colonial. Encerrados os dois Ciclos do Sândalo e do Café, Timor inaugura o seu terceiro Ciclo do Petróleo. Tudo deve ser feito para que este Ciclo inaugure a Independência Nacional tão almejada pelos nossos maiores.
Em suma, nao se pode negar a este Governo da AMP a oportunidade de realizar o seu trabalho. O seu mérito ou demérito dependerá da sua capacidade de acolher ou não todas as contribuicoes que lhe forem presentes para bem de Timor, incluindo alguma retórica inflamada desde que imbuída do sentido de construção e não de destruição ou revanchismo. Haja discernimento e patriotismo para corresponder ao apelo de Taur Matan Ruak no sentido de submeter os interesses partidários aos do Povo e País. Todos são necessários e cada um deverá desempenhar cabalmente as suas funções e, em tempo próprio, o Povo julgará novamente nas urnas o desempenho de cada um e de todos. ASSIM, Timor ir-se-á construindo, melhorando as condições de vida do seu Povo e afastando definitivamente o fantasma do Estado Falhado!
* Autor foi fundador da Fretilin, autoria da canção Foho Ramelau, Hino Nacional entre outros. Durante o piriode da resistência contra ocupação, publicou vários obras de natureza cultural, antropologica Timorense. O artigo foi publicado pelo Diario Nacional de 29 de Fevereiro e Semanario de 1 de Marco do corrente!
Gostaria de agradecer Senhor Abilio Araujo, por escrever um artigo intelectualmente e politicamente é mais equilibrado e realistico. Se Timor oan politiku nain sira hotu hanoin hanesan maun Abilio ne´e karik Timor ne´e sai oinseluk. Maibe, hau nafatin respeita katak ita ema ida-idak nia hanoin. Buat nebe aat liu mak ambição politica Marie Alkatiri nian as demais. Hatun oituan ba. Eleição anticipada ne´e la´os opinião Povo Timor oan maioria nian maibe Alkatiri nia teimosia hakarak fila ba poder. Nia usa FRETILIM ho Luolo hanesan nia boneka. Mari é bostinha se não controlasse a sua ambição de poder.... Shame on you
ResponderEliminarOs meus Parabens ao meu Caro Compatriota Dr. Abílio Araújo ! Lamento imensamente pelo facto de os outros da sua geração não tenham esse tipo de espírito seu, compreendedor, realista, idealista mas pragmático. Hoje em dia já é quase uma raridade gente com Vª Ex.cia. com pensamento nacionalista e patriotismo, como sendo catalisador para com a minha geração tanto quanto a importância a unidade entre nós os timorenses neste período tão difícil que é, de nos unir de mãos dadas para negar as impressões tendenciosas dos quatro cantos do mundo de que Timor já é um estado falhado. Obviamente que não, digamos não convictamente, porque não somos dos desistentes muito menos sermos rendidos pelos obstáculos ou dificuldades. O espírito lutador e sangue guerreiro dos heróis e saudosos boaventurense e nicolauenses ainda vivantes e fervuras nos sângues das novas gerações. Já é como coisa rara os que reconhecem os verdadeiros lutadores para a libertação da pátria, negam tudo e todos só por causa dos espíritos mesquinhos e o oportunismo político até a selvajaria como meios a recorrer. Como vos sabeis a Fretilin já não como era, um partido inspirador, um partido cujo com carácter democrático, um partido que defende os interesses nacionasi acima de tudo, hoje a Fretilin não passa de um pequeno partido, um partido de um pequeno grupo, um partido sequestrado pelos oportunistas para obter a recompensa em troca dos valores históricos deste, um partido moribundo e enlouquecido na prisão, um partido vitimado pela retórica e hipocrisia política, um partido vítima dos predadores de oportunidades.
ResponderEliminarCaro Dr. Abilio Araújo, congratulo também pelo seu bom senso, realista em reconhecer o mérito inegável do líder histórico o nosso "maun boot" Xanana Gusmão. Congratulo por uma razão simples como já referi anteriormente de que hoje em dia Timor-Leste é uma nação de alta competição para o apuramente ao poder político onde haja certos autores que perdem por completo a noção do compatriotismo, nacionalismo, ou irmandade e pior de tudo é os adversários destes são considerados como inimigos para serem abatidos...
Não, não deixaremos nunca Timor-Leste um estado falhado !!!
Um grande abraço fraterno !
Victor Tavares
Meu caro Abílio Araújo
ResponderEliminarHá imensos anos que não tenho o prazer de nos sentarmos a conversar sobre Timor, nem ocasião tivemos para trocar um abraço no período de imensa alegria com a independência e formação do novo estado do sol nascente que sabíamos vir a acontecer. Isso não impediu nem impedirá que a consideração e estima perdure.
Li com bastante atenção e surpresa o que escreveste e este Fórum Hakesesuk publicou.
Quero ser breve mas, meu caro amigo, permite-me que de ti discorde quando salvaguardas Xanana Gusmão da possibilidade de ter algo a ver com o ocorrido em 11 de Fevereiro e o consequente quase assassinato de Ramos Horta – outro amigo que há muito não vejo. Não posso estar de acordo com tais certezas por ti manifestadas.
Não quero dizer que Xanana Gusmão tivesse tido por objectivo assassinar Ramos Horta, mas alguém teve. Infelizmente o mesmo não posso dizer relativamente a Alfredo Reinado, considerando as suas palavras gravadas e mostradas em vídeo, que Xanana quis silenciar – ao ponto de ameaçar jornalistas.
Há ainda a considerar que existem imensas incongruências sobre as descrições das acções do atentado, sobre as horas, sobre as viaturas, sobre os disparos e buracos de balas – ainda agora isso foi citado por Mari Alkatiri – mas principalmente pela pressa em envolverem “especialistas” australianos e norte-americanos nas investigações em vez de outros de nacionalidades e países isentos de suspeições.
Também a resistência a uma comissão de investigação internacional vinculativa foi notória e acabou por ser aprovada uma investigação internacional por elementos de países “isentos” mas que não será vinculativa, antes uma panaceia para calar as vozes discordantes.
Prezado Abílio Araújo, tudo isto é demasiadamente conducente a suspeições. Suspeições que recaem sobre Xanana Gusmão, impedindo-nos de pormos as mãos no lume por ele, como alguns o fazem e tu também.
Sabendo-te um homem informado, aquilo que pergunto é: o que sabes, que nós não sabemos, para tão seguramente afirmares que Xanana não tem nada a ver com o que aconteceu em 11 de Fevereiro?
Quererás ter a bondade de nos informar e libertar-nos destas suspeitas, em tua opinião injustas?
Creio que existem milhões de pessoas por todo o mundo que te ficariam muitíssimo gratas por tal explicação. Eu seria um deles, como te apercebes neste escrito que findo cumprimentando-te, lamentando que estejas longe e não possamos cavaquear e falar destas coisas tão sérias e tão importantes para os timorenses e seus amigos, nos quais há muito me incluíram e assumidamente me incluo.
Não outra palavra a dizer se não felicitar Senhor Abílio Araujo, um dos fundadores da Fretilin em nos transmitir esta nova mensagem. A ideia que tenho sobre a geração dos 70 era o mesmo mas afinal há excepções. Não outra razão para contestar se não colaborar com AMP para resolver gradualmente os problemas e avançar para a fase desenvolvimento!
ResponderEliminarabraço e boa continuação....
So os verdadeiros fundadores da Fretelin que tem ideias construtivas e moderadas como as do DR Abilio Araujo, nao como o Dr Mari Alkatiri que so quer destruir o nosso querido Timor...
ResponderEliminarEspero que Dr Abilio Araujo continue a escrever, pq muitas vezes, nos, os jovens, so ouvimos os nomes dos nossos lideres sem sabermos as ideias que eles tem sobre o nosso querido Timor.
Abraco
Aplausos ao estrondoso discurso da Sua Excelência Presidente da Republica de Timor Leste sobre o dia mundial da Mulher!
ResponderEliminarMas que grande fanfarrão, se Sua Excelência fala de valores extremamente positivos para qualquer ser humano e em particular para as nossas queridas mulheres mais desprotegidas neste mundo. Porem na prática sua Excelência calca estes grandes e sagrados valores reconhecidos amplamente pela ONU.
Eis uma afirmação da Sua Excelência transcrita por descalço Maubere conforme se segue;
....."Timor Leste mostrou a sua convicção ao aderir aos valores dos Direitos Humanos ao construir uma sociedade com Justiça, Liberdade e Igualdade. Mas estes têm de ser as raízes das nossas vidas de todos os dias".....
Sua Excelência com o elenco governamental do Senhor Primeiro Ministro Kayrala Xanana Gusmão, desculpa por termo, mas vocês dois foram os primeiros a cagar sobre estes sagrados valores universais dos direitos humanos. Por isso tenham mais juízo e sejam mais sensatos e honestos do que andam a enganar os pobres e débeis descalços mauberes. Maubere descalço deseja boas melhoras ao Sr. Presidente Horta e esperamos encontrarmo-nos em breve, novamente em Díli, a capital da nossa Mãe Pátria Timor Leste.
PS. De propositadamente quero deixar postado este comentário sobre o discurso do Ramos Horta para melhor apreciação do RM AA.