Pe. Tony Neves
Timor continua a preocupar o mundo. Viveu tempos de massacre e de opressão durante a dominação indonésia. Depois, veio a libertação com a independência. Mas este mais jovem país do mundo tem dado provas de pouca capacidade de gestão da diversidade étnica e cultural que possui. Muita violência e instabilidade têm marcado o dia a dia dos timorenses. Nem o carisma de Xanana Gusmão nem a força moral dos prémios Nobel da Paz, D. Ximenes e Ramos-Horta são argumentos suficientes para dar serenidade ao povo e permitir o desenvolvimento do país.
O desenvolvimento parecia ganhar corpo com o aparecimento do petróleo. Mas, mais uma vez, as riquezas naturais de um país não jogam a favor das populações. O cheiro ao petróleo atrai cobiças desmedidas e faz surgir oportunistas que se aproveitam e acabam por gerar violências internas que criam condições favoráveis ao caos e à violência. O país parece outra vez á deriva, com o povo simples a pagar sempre as facturas. Dá vontade de continuar a cantar com Luís Represas: ‘Se outros calam, cantemos nós!’.
Houve eleições presidenciais. Ban Ki-Moon, Secretário-Geral da ONU, pediu que fossem livres e leais, transparentes e credíveis. Mas elas foram marcadas por muitas ambiguidades e problemas e Timor voltou ás primeiras páginas dos meios de comunicação, não pelas melhores razões. Ramos-Horta venceu e convenceu, nas urnas. Tomou posse a 20 de Maio e lançou um apelo ao abandono da vingança e da violência. Alguns timorenses não o escutaram pois houve grandes confrontos em Dili e em Bobonaro, nos sítios do costume. O novo Presidente da República prometeu dar o seu melhor para a concretização dos sonhos deste povo a quem lembrou que o progresso e paz só se obtêm com ‘consciência nos corações e nas mentes, com livros e computadores’. O Nobel da Paz apontou como prioridades da sua Presidência a estabilidade governativa, a resolução do problema dos deslocados e o combate à pobreza.
A Igreja Católica é uma referência incontornável em Timor-Leste, país com 96% de católicos. D. Alberto da Silva, Bispo de Dili, disse que a Igreja não tolera a violência e D. Basílio Nascimento, Bispo de Baucau, apelou a todos os cidadãos para que se amassem uns aos outros, citando a Bíblia. Recordo-me sempre, nos tempos da repressão, de jantar com Ramos Horta em Bruxelas, do encontro com D. Ximenes Belo na Universidade Católica, em Lisboa e na conversa serena com o P. João Felgueiras, no Colégio S. João de Brito. Eram homens abatidos pela crueldade da situação mas, ao mesmo tempo, confiantes na força de tanto sangue derramado e da alma cristã do povo timorense. É bom não esquecer o passado para evitar cometer os mesmos erros no presente e no futuro.
Mas, melhor ainda, é honrar o futuro com um presente que rime com paz, progresso e fraternidade. Quero crer que o povo vai trabalhar com os novos líderes eleitos para que a independência tenha valido a pena. E que os petróleos e outras riquezas abram caminhos a um verdadeiro desenvolvimento.
Pe. Tony Neves
01-06-2007 12:00:24 Copyright© FEC http://www.fecongd.net/
Timor continua a preocupar o mundo. Viveu tempos de massacre e de opressão durante a dominação indonésia. Depois, veio a libertação com a independência. Mas este mais jovem país do mundo tem dado provas de pouca capacidade de gestão da diversidade étnica e cultural que possui. Muita violência e instabilidade têm marcado o dia a dia dos timorenses. Nem o carisma de Xanana Gusmão nem a força moral dos prémios Nobel da Paz, D. Ximenes e Ramos-Horta são argumentos suficientes para dar serenidade ao povo e permitir o desenvolvimento do país.
O desenvolvimento parecia ganhar corpo com o aparecimento do petróleo. Mas, mais uma vez, as riquezas naturais de um país não jogam a favor das populações. O cheiro ao petróleo atrai cobiças desmedidas e faz surgir oportunistas que se aproveitam e acabam por gerar violências internas que criam condições favoráveis ao caos e à violência. O país parece outra vez á deriva, com o povo simples a pagar sempre as facturas. Dá vontade de continuar a cantar com Luís Represas: ‘Se outros calam, cantemos nós!’.
Houve eleições presidenciais. Ban Ki-Moon, Secretário-Geral da ONU, pediu que fossem livres e leais, transparentes e credíveis. Mas elas foram marcadas por muitas ambiguidades e problemas e Timor voltou ás primeiras páginas dos meios de comunicação, não pelas melhores razões. Ramos-Horta venceu e convenceu, nas urnas. Tomou posse a 20 de Maio e lançou um apelo ao abandono da vingança e da violência. Alguns timorenses não o escutaram pois houve grandes confrontos em Dili e em Bobonaro, nos sítios do costume. O novo Presidente da República prometeu dar o seu melhor para a concretização dos sonhos deste povo a quem lembrou que o progresso e paz só se obtêm com ‘consciência nos corações e nas mentes, com livros e computadores’. O Nobel da Paz apontou como prioridades da sua Presidência a estabilidade governativa, a resolução do problema dos deslocados e o combate à pobreza.
A Igreja Católica é uma referência incontornável em Timor-Leste, país com 96% de católicos. D. Alberto da Silva, Bispo de Dili, disse que a Igreja não tolera a violência e D. Basílio Nascimento, Bispo de Baucau, apelou a todos os cidadãos para que se amassem uns aos outros, citando a Bíblia. Recordo-me sempre, nos tempos da repressão, de jantar com Ramos Horta em Bruxelas, do encontro com D. Ximenes Belo na Universidade Católica, em Lisboa e na conversa serena com o P. João Felgueiras, no Colégio S. João de Brito. Eram homens abatidos pela crueldade da situação mas, ao mesmo tempo, confiantes na força de tanto sangue derramado e da alma cristã do povo timorense. É bom não esquecer o passado para evitar cometer os mesmos erros no presente e no futuro.
Mas, melhor ainda, é honrar o futuro com um presente que rime com paz, progresso e fraternidade. Quero crer que o povo vai trabalhar com os novos líderes eleitos para que a independência tenha valido a pena. E que os petróleos e outras riquezas abram caminhos a um verdadeiro desenvolvimento.
Pe. Tony Neves
01-06-2007 12:00:24 Copyright© FEC http://www.fecongd.net/
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