Díli, 14 Mai (Lusa) - O dado político mais importante das eleições presidenciais de 2007 em Timor-Leste é a emergência do Partido Democrático (PD), dirigido por Fernando Fernando "Lassama" de Araújo, segundo um especialista francês em assuntos asiáticos entrevistado hoje pela Lusa.
"Há dois partidos emergentes, o PD e o CNRT", ou Congresso Nacional da Reconstrução de Timor-Leste, "mas quanto ao CNRT há uma interrogação", afirmou Jean Berlie, investigador do Centro de Estudos Asiáticos da Universidade de Hong Kong.
"Do CNRT, não se sabe ainda a evolução da campanha e a maturidade dos representantes nos distritos", acrescentou o investigador, autor de um livro sobre a evolução política timorense entre 2000 e 2007, publicado em Março em Cantão, China.
"Posso comparar os dois partidos porque fui ao congresso do PD e ao do CNRT", explica Jean Berlie: "Em comparação, no PD são muito estruturados" .
O CNRT, que surgiu há apenas dois meses em torno da figura de Xanana Gusmão, terá na campanha para as legislativas o teste de maturidade.
Admitindo que o CNRT surge "como uma ideia de Xanana Gusmão para permanecer no poder", Jean Berlie salienta que o novo partido apareceu na campanha das presidenciais contra o candidato da Fretilin "mas quem representa a mudança anti-Fretilin é o Partido Democrático".
Jean Berlie acrescenta também que a postura de Xanana Gusmão como líder do CNRT nas legislativas é outra incógnita.
"Será que ele quer mesmo trabalhar de facto como primeiro-ministro? Ou será que está disposto a aceitar a ideia do Partido Social-Democrata de ele ser o presidente do Parlamento?" , questionou.
Arriscando uma projecção dos resultados das presidenciais para as legislativas, Jean Berlie pensa que "há quatro partidos que podem ter entre 13 a 16 cadeiras" no Parlamento (que, pela Constituição, pode ter entre 52 a 65 deputados).
"A Fretilin pode ter no máximo 16 cadeiras", diz o investigador francês, que acredita que o actual partido maioritário "não vai descer" do patamar dos 30 por cento obtidos por Francisco Guterres "Lu Olo" nas presidenciais.
"O problema é de psicologia dos votantes", afirma Jean Berlie:
"Agora os eleitores não estão a votar pela independência, como antes, quando o critério era esse".
Jean Berlie concorda que o ex-primeiro- ministro Mari Alkatiri fez escolhas estratégicas correctas para o país "mas o eleitorado não compreende bem essas coisas".
"É uma manifestação emocional. O eleitorado é emocional. Não é racional", diz Jean Berlie.
"Para Ramos-Horta, o eleitorado é emocional mas é organizado. No referendo de 1999 também: foi um voto emocional mas bem orquestrado" , comentou.
"O problema de Alkatiri é o desconhecimento do exército e da polícia, que o Joaquim Chissano conhece muito bem", analisa Jean Berli referindo o ex-Presidente de Moçambique, onde o secretário-geral e outros dirigentes da Fretilin viveram o exílio.
"É um problema prever a crise. A crise chega e Mari Alkatiri não sabe reagir. É o caso da crise de 2006", acrescentou.
O ex-primeiro- ministro "é um homem inteligente mas a política não é problema de inteligência mas de mobilização".
Jean Berlie aplica, aliás, este mesmo comentário ao major fugitivo Alfredo Reinado, evadido desde 30 de Agosto de 2006.
"Reinado é capaz de mobilizar a juventude mas isso não é suficiente para ter importância política. Seria bom que ele entrasse na prisão", disse.
Sobre o triunfo presidencial de Ramos-Horta, Jean Berlie afirma que "não é como o de Xanana Gusmão em 2002".
"Resulta de uma união de partidos, pela primeira vez, de oposição à Fretilin. Ramos-Horta foi eleito não por carisma mas por esse apoio. Ele é uma pessoa de compromissos. A união teve sucesso.
Vamos a ver se continua para as legislativa, mas vai ser mais difícil", na análise de Jean Berlie.
Se esta união anti-Fretilin se concretizar numa plataforma para as legislativas e ganhar as eleições, analisa Jean Berlie, não é claro quem ficará na chefia do governo.
O presidente do PSD, Mário Carrascalão, ex-governador do território durante a ocupação indonésia, "é a pessoa mais capaz da oposição", na opinião do investigador francês.
"Mas ele não tem as mesmas condições que tinha em 2000. Pode ser primeiro-ministro agora, mas não daqui a cinco anos, porque não terá capacidade" devido à sua idade.
Fernando "Lassama" de Araújo tem o problema oposto: "É muito novo ainda" para a chefia de um governo.
Jean Berlie é investigador da Universidade de Hong Kong desde 1991. Durante uma década estudou o território de Macau, sobre o qual publicou vários títulos.
Sobre Timor, Berlie publicou uma bibliografia (séculos XVI a XXI, na Les Indes Savantes, Paris) e o recente "Politics and Elections in East Timor, 2001-2006.
PRM-Lusa/Fim
"Há dois partidos emergentes, o PD e o CNRT", ou Congresso Nacional da Reconstrução de Timor-Leste, "mas quanto ao CNRT há uma interrogação", afirmou Jean Berlie, investigador do Centro de Estudos Asiáticos da Universidade de Hong Kong.
"Do CNRT, não se sabe ainda a evolução da campanha e a maturidade dos representantes nos distritos", acrescentou o investigador, autor de um livro sobre a evolução política timorense entre 2000 e 2007, publicado em Março em Cantão, China.
"Posso comparar os dois partidos porque fui ao congresso do PD e ao do CNRT", explica Jean Berlie: "Em comparação, no PD são muito estruturados" .
O CNRT, que surgiu há apenas dois meses em torno da figura de Xanana Gusmão, terá na campanha para as legislativas o teste de maturidade.
Admitindo que o CNRT surge "como uma ideia de Xanana Gusmão para permanecer no poder", Jean Berlie salienta que o novo partido apareceu na campanha das presidenciais contra o candidato da Fretilin "mas quem representa a mudança anti-Fretilin é o Partido Democrático".
Jean Berlie acrescenta também que a postura de Xanana Gusmão como líder do CNRT nas legislativas é outra incógnita.
"Será que ele quer mesmo trabalhar de facto como primeiro-ministro? Ou será que está disposto a aceitar a ideia do Partido Social-Democrata de ele ser o presidente do Parlamento?" , questionou.
Arriscando uma projecção dos resultados das presidenciais para as legislativas, Jean Berlie pensa que "há quatro partidos que podem ter entre 13 a 16 cadeiras" no Parlamento (que, pela Constituição, pode ter entre 52 a 65 deputados).
"A Fretilin pode ter no máximo 16 cadeiras", diz o investigador francês, que acredita que o actual partido maioritário "não vai descer" do patamar dos 30 por cento obtidos por Francisco Guterres "Lu Olo" nas presidenciais.
"O problema é de psicologia dos votantes", afirma Jean Berlie:
"Agora os eleitores não estão a votar pela independência, como antes, quando o critério era esse".
Jean Berlie concorda que o ex-primeiro- ministro Mari Alkatiri fez escolhas estratégicas correctas para o país "mas o eleitorado não compreende bem essas coisas".
"É uma manifestação emocional. O eleitorado é emocional. Não é racional", diz Jean Berlie.
"Para Ramos-Horta, o eleitorado é emocional mas é organizado. No referendo de 1999 também: foi um voto emocional mas bem orquestrado" , comentou.
"O problema de Alkatiri é o desconhecimento do exército e da polícia, que o Joaquim Chissano conhece muito bem", analisa Jean Berli referindo o ex-Presidente de Moçambique, onde o secretário-geral e outros dirigentes da Fretilin viveram o exílio.
"É um problema prever a crise. A crise chega e Mari Alkatiri não sabe reagir. É o caso da crise de 2006", acrescentou.
O ex-primeiro- ministro "é um homem inteligente mas a política não é problema de inteligência mas de mobilização".
Jean Berlie aplica, aliás, este mesmo comentário ao major fugitivo Alfredo Reinado, evadido desde 30 de Agosto de 2006.
"Reinado é capaz de mobilizar a juventude mas isso não é suficiente para ter importância política. Seria bom que ele entrasse na prisão", disse.
Sobre o triunfo presidencial de Ramos-Horta, Jean Berlie afirma que "não é como o de Xanana Gusmão em 2002".
"Resulta de uma união de partidos, pela primeira vez, de oposição à Fretilin. Ramos-Horta foi eleito não por carisma mas por esse apoio. Ele é uma pessoa de compromissos. A união teve sucesso.
Vamos a ver se continua para as legislativa, mas vai ser mais difícil", na análise de Jean Berlie.
Se esta união anti-Fretilin se concretizar numa plataforma para as legislativas e ganhar as eleições, analisa Jean Berlie, não é claro quem ficará na chefia do governo.
O presidente do PSD, Mário Carrascalão, ex-governador do território durante a ocupação indonésia, "é a pessoa mais capaz da oposição", na opinião do investigador francês.
"Mas ele não tem as mesmas condições que tinha em 2000. Pode ser primeiro-ministro agora, mas não daqui a cinco anos, porque não terá capacidade" devido à sua idade.
Fernando "Lassama" de Araújo tem o problema oposto: "É muito novo ainda" para a chefia de um governo.
Jean Berlie é investigador da Universidade de Hong Kong desde 1991. Durante uma década estudou o território de Macau, sobre o qual publicou vários títulos.
Sobre Timor, Berlie publicou uma bibliografia (séculos XVI a XXI, na Les Indes Savantes, Paris) e o recente "Politics and Elections in East Timor, 2001-2006.
PRM-Lusa/Fim
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