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Família de rei timorense pede a Portugal informações sobre o local onde foi enterrado

Díli, 24 nov (Lusa) - A família de D. Boaventura, herói de Timor-Leste que liderou uma revolta contra os portugueses em 1912, vai pedir a Portugal informações sobre o local onde o rei de Manufahi foi enterrado.

"Até à presente data desconhecemos a sua campa. Ficamos tristes por não saber o paradeiro da sua campa", afirmou à agência Lusa João Noronha, sobrinho neto de Boaventura da Costa Sottomayor.

Timor-Leste assinala na quarta-feira em Same, no distrito de Manufahi, a cerca de 100 quilómetros a sul de Díli, os 100 anos da revolta e os 37 anos de proclamação unilateral da independência.

A revolta de Manufahi teve início no Natal de 1911, depois da morte do comandante militar de Same, o tenente português Luiz Álvares da Silva, a mando do rei de Manufahi, Boaventura da Costa Sottomayor.

"Foi desterrado, condenado pelo tribunal militar. Nós precisamos de uma notícia do Governo português a dizer onde foi enterrado. Nós não sabemos.", salientou João Noronha.

O destino dado a D. Boaventura depois de se ter entregado às forças portuguesas a 26 de outubro de 1912 continua uma incógnita para a família, enquanto alguns autores timorenses apontam diferentes possibilidades.

No livro "Pulau Timor", do autor timorense António Vicente, lê-se que, após D. Boaventura se entregar às forças portuguesas, foi preso e levado para Díli.

Segundo o livro, o liurai terá depois seguido para a antiga prisão de Aipelo e daí para Batugadé, onde foi entregue a homens do Soe, em Timor Ocidental, antigo Timor holandês.

O autor refere que D. Boaventura se terá casado e morrido em Soe, estando enterrado a 15 quilómetros daquela localidade.

No livro "Guerra de Manufahi", do ex-bispo timorense Ximenes Belo, editado este ano pela diocese de Baucau, é referido que se desconhece o destino dado a D. Boaventura. "Também se desconhece o dia da morte e do local onde foi enterrado. Alguns timorenses, entre os quais um antigo responsável distrital de Baucau, Abel Belo, contam que o seu corpo foi enterrado à entrada do cemitério de Santa Cruz, em Díli", refere o livro de Ximenes Belo.

Para homenagear o herói timorense, o Governo de Timor-Leste mandou fazer uma estátua com a sua imagem que será inaugurada na quarta-feira em Same, dia em que D. Boaventura será também condecorado pelas autoridades a título póstumo.

"Nós sentimos muito orgulho por este momento. Não somos só nós que ficamos orgulhosos. É um filho da terra e é o primeiro herói de Timor", afirmou João Noronha. Segundo o sobrinho neto do rei de Manufahi, a ideologia de D. Boaventura era idêntica à de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal.

"O primeiro rei de Portugal, não quis ficar sob domínio do rei de Castela para ter a independência de Portugal. O D. Boaventura fez o mesmo", afirmou.

Para o neto de D. Boaventura, Marito Boaventura, é um grande orgulho que o avô passe a ser "considerado como um herói nacional, porque durante muito tempo foi considerado um rebelde e um traidor".

Governo timorense considera revolta de Manufahi exemplo para garantir a independência

O chefe da diplomacia de Timor-Leste, José Luís Guterres, considerou hoje a revolta de Manufahi, há cem anos no sul do país, como um exemplo de luta contra a tirania e prepotência para garantir a independência, liberdade e a democracia.

"O mais importante é que nós hoje comemoramos esses 100 anos lembrando para as novas gerações o exemplo que deram de lutar sempre contra a tirania, lutar contra a prepotência e lutar para que o país se mantenha independente, livre e democrático", afirmou José Luís Guterres.

Timor-Leste celebra quarta-feira em Same, no distrito de Manufahi, a cerca de 100 quilómetros a sul de Díli, os 100 anos da revolta de Manufahi e os 37 anos de proclamação unilateral da independência, pela Fretilin uma semana antes da invasão indonésia.

A revolta de Manufahi teve início no natal de 1911, depois da morte do comandante militar de Same, o tenente português Luiz Álvares da Silva, a mando do rei de Manufahi, Boaventura da Costa Sottomayor.

"Foi uma das revoltas que houve contra a prepotência de alguns agentes da administração colonial (portuguesa) que aqui estavam a operar em Timor-Leste", explicou o chefe da diplomacia timorense.

Para o ministro timorense, a guerra de Manufahi deve servir também para celebrar a relação fraternal entre os povos.

"Ao celebramos Boaventura devemos também celebrar a relação fraternal que deve existir entre os povos. As relações atuais entre os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa demonstram que não há um problema de relações entre povos, mas sim de sistemas e ditaduras", afirmou.

Segundo José Luís Guterres, celebrar aquela história é dar às novas gerações uma oportunidade de conhecerem os grandes exemplos que os seus antepassados lhes deram.

Guerra de Manufahi tornou trabalho obrigatório para todos os timorenses

A guerra de Manufahi, liderada pelo rei D. Boaventura, foi a primeira grande revolta contra a presença portuguesa em Timor-Leste e teve como consequência o trabalho obrigatório para todos os timorenses.

Iniciada no natal de 1911, quando o rei de Manufahi, Boaventura da Costa Sottomayor, mandou executar o comandante militar de Same, no sul da ilha, o tenente português Luiz Álvares da Silva, e o comandante de Fatuberliu, a guerra só terminaria em outubro de 2012.

Apesar de o motivo nacionalista ser um dos mais apontados para o início do conflito - o pai de D. Boaventura já não concordava com a presença portuguesa no território - a implantação da República em Portugal e motivos económicos também podem ter estado na origem do conflito.

Segundo o ex-bispo timorense Carlos Filipe Ximenes Belo, no livro "Guerra de Manufahi", editado este ano pela diocese de Baucau, os liurais timorenses (autoridades tradicionais) não aceitaram o fim da monarquia por terem jurado fidelidade ao rei de Portugal, nem um eventual aumento de impostos.

A revolta terá "provocado a morte de 15 mil a 25 mil" pessoas, escreve Ximenes Belo, e mudou a vida dos timorenses, que passaram a ser obrigados a trabalhar e a pagar impostos, depois de Boaventura da Costa Sottomayor se ter entregado às autoridades portuguesas a 26 de outubro de 1912.

Segundo o historiador Réné Pélissier, "foram efetivamente os timorenses que submeteram Timor por conta dos portugueses", porque nem todos os liurais apoiaram a revolta de D. Boaventura.

"Lutou sozinho, apoiado apenas pelos seus homens de Manufahi (talvez uns cinco a seis mil)", escreve Carlos Filipe Ximenes Belo.

O destino dado pelas autoridades portuguesas ao liurai de Manufahi não é conhecido, mas a memória do homem que, empunhando a bandeira da monarquia portuguesa, lutou contra a República de Portugal, não foi esquecida e permanece imortalizada numa estátua à entrada de Same, a cerca de 100 quilómetros a sul de Díli.

É também em Same que na quarta-feira, as autoridades timorenses comemoram o centenário da revolta de Manufahi, com a condecoração de Boaventura da Costa Sottomayor e com a inauguração de um novo monumento ao que consideram ser o primeiro herói timorense. (Lusa, 24/11/2012)!

MSE/HB. Lusa/Fim

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