Por Dom Ximenes Belo
Ocorre este ano, o primeiro centenário da publicação da poesia “FLORES DE CORAL”, na Imprensa nacional de Dili, Colónia de Timor, em 1908. Para recordar este insigne escritor e poeta, envio ao “Forum Hakseskuk” este pequeno trabalho, que é uma humilde homenagem ao Poeta Osório de Castro.
Alberto Osório de Castro foi um notável escritor e poeta. Nasceu em Coimbra em 1868 e morreu em Lisboa no dia 1 de Janeiro de 1946. Chegou a Timor em 1908 e ali esteve até 1911. Enquanto jovem, Osório de Castro estudou na Universidade de Coimbra, juntamente com António Nobre e Eugénio de Castro e publicou o jornal literário Boémia Nova e era amigo do poeta Camilo Pessanha. Durante a sua permanência em Timor, exerceu o cargo de Juiz do Tribunal de Dili. Osório de Castro foi autor do livro Flores de Coral: Poemetos e Impressões da Oceânia Portuguesa, publicado em Dili, em 1908. Algumas das poesias foram publicadas em 1928 na Seara Nova (n.º 1123, 28 de Abril de 1928). O Livro Flores de Coral, depois de revisto foi publicado em 1943 com o título A Ilha Verde e Vermelha de Timor, pela Agência Geral das Colónias. Vejamos alguns poemas feitos em Lahane (1) Timor:
1. FLORES DE CORAL
Dispersos pelos mares,
Alguns dias de luz me alvorejaram.
Ondas d’oiro no nácar dos luares
O meu sonho embalaram,
E em flores de coral, sob os palmares,
Rolaram-no, e passaram.
2. À CASUARINAS DO CEMITÉRIO DE DILI
Sonho escuro dos mortos embalai,
Prece das casuarinas! (2)
Vozes vagas dos mortos, ciciai
Nas folhagens franzinas!
Já no céu, resplandece esmorecendo
A púrpura do dia.
Passa a aragem do pântano gemendo
Na romagem sombria.
Que murmuram as bocas das raízes
Aos mortos a sonhar?
Que lhes dizes, ramagem? Que lhes dizes,
A reza e a embalar?
Alberto Osório de Castro foi um notável escritor e poeta. Nasceu em Coimbra em 1868 e morreu em Lisboa no dia 1 de Janeiro de 1946. Chegou a Timor em 1908 e ali esteve até 1911. Enquanto jovem, Osório de Castro estudou na Universidade de Coimbra, juntamente com António Nobre e Eugénio de Castro e publicou o jornal literário Boémia Nova e era amigo do poeta Camilo Pessanha. Durante a sua permanência em Timor, exerceu o cargo de Juiz do Tribunal de Dili. Osório de Castro foi autor do livro Flores de Coral: Poemetos e Impressões da Oceânia Portuguesa, publicado em Dili, em 1908. Algumas das poesias foram publicadas em 1928 na Seara Nova (n.º 1123, 28 de Abril de 1928). O Livro Flores de Coral, depois de revisto foi publicado em 1943 com o título A Ilha Verde e Vermelha de Timor, pela Agência Geral das Colónias. Vejamos alguns poemas feitos em Lahane (1) Timor:
1. FLORES DE CORAL
Dispersos pelos mares,
Alguns dias de luz me alvorejaram.
Ondas d’oiro no nácar dos luares
O meu sonho embalaram,
E em flores de coral, sob os palmares,
Rolaram-no, e passaram.
2. À CASUARINAS DO CEMITÉRIO DE DILI
Sonho escuro dos mortos embalai,
Prece das casuarinas! (2)
Vozes vagas dos mortos, ciciai
Nas folhagens franzinas!
Já no céu, resplandece esmorecendo
A púrpura do dia.
Passa a aragem do pântano gemendo
Na romagem sombria.
Que murmuram as bocas das raízes
Aos mortos a sonhar?
Que lhes dizes, ramagem? Que lhes dizes,
A reza e a embalar?
(Lahane, Timor, Abril de 1908).
3. TEBEDAI (3)
Bailemos, bailemos à luz do luar,
Que a vida não pára, lá vai passar.
Na sombras do verde gondão (4) de mil braços
Já voam as moscas-de-fogo aos abraços.
Reparem! Lá dançam no luar as estrelas,
Sárão (5) todo d’oiro, doiradas chinelas.
Era uma vez um malai (6) português
Que em todo o batuque dançava por três.
Tanto bailou com as moças alegres
Tanto bailou que lhe deram as febres.
Tanto bailou e tornou a bailar,
Que até para a cova lá foi a dançar.
Bailemos, ao som dos sagueiros.(7)
Não têm toada mis fina os ribeiros.
Suspiros das folhas do verde gondão,
Abraços e beijos, são do coração.
Bailemos, bailemos, à luz do luar,
Que a vida não pára, lá vai passar.
(Lahane, Timor, Junho de 1908).
4. FULAN NAROMAN (8)
A infinda noite opalescente
Sobe, arrebatadoramente,
A fugir de todo o olhar,
Céu tão claro, tão surpreendente,
Que sente a alma, longinquamente,
Como um voo do céu aflar.
A asa translúcida e nevada
Roça de leve a cumeada,
Adeja, e perde-se a alvejar
Na azulada noite doirada...
Presença alada enamorada
Da imensidade do luar.
(Lahane, Timor, Abril de 1908).
5. REISEBILDER, ( sobre o percurso da viagem ) (....).
E eis-te no fim do mundo,
Costa verde e vermelha de Timor!
Mas que divina, extraordinária cor,
A do teu céu, a do teu mar profundo!
É d’oiro a manhã de Dili.
Trilla tão lindo o corlílli. (9)
Na frescura das ribeiras.
Murmura perpetuamente
A verde sombra virente
Das gaboeiras (10)
À contemplação da paisagem em Fahi-ten (11)
3. TEBEDAI (3)
Bailemos, bailemos à luz do luar,
Que a vida não pára, lá vai passar.
Na sombras do verde gondão (4) de mil braços
Já voam as moscas-de-fogo aos abraços.
Reparem! Lá dançam no luar as estrelas,
Sárão (5) todo d’oiro, doiradas chinelas.
Era uma vez um malai (6) português
Que em todo o batuque dançava por três.
Tanto bailou com as moças alegres
Tanto bailou que lhe deram as febres.
Tanto bailou e tornou a bailar,
Que até para a cova lá foi a dançar.
Bailemos, ao som dos sagueiros.(7)
Não têm toada mis fina os ribeiros.
Suspiros das folhas do verde gondão,
Abraços e beijos, são do coração.
Bailemos, bailemos, à luz do luar,
Que a vida não pára, lá vai passar.
(Lahane, Timor, Junho de 1908).
4. FULAN NAROMAN (8)
A infinda noite opalescente
Sobe, arrebatadoramente,
A fugir de todo o olhar,
Céu tão claro, tão surpreendente,
Que sente a alma, longinquamente,
Como um voo do céu aflar.
A asa translúcida e nevada
Roça de leve a cumeada,
Adeja, e perde-se a alvejar
Na azulada noite doirada...
Presença alada enamorada
Da imensidade do luar.
(Lahane, Timor, Abril de 1908).
5. REISEBILDER, ( sobre o percurso da viagem ) (....).
E eis-te no fim do mundo,
Costa verde e vermelha de Timor!
Mas que divina, extraordinária cor,
A do teu céu, a do teu mar profundo!
É d’oiro a manhã de Dili.
Trilla tão lindo o corlílli. (9)
Na frescura das ribeiras.
Murmura perpetuamente
A verde sombra virente
Das gaboeiras (10)
À contemplação da paisagem em Fahi-ten (11)
Saudades são a lembrança
Dalgum bem que nos deixou
P’ra sempre, e sem esperança
De volta, o bem que passou.
E passa mesmo a lembrança
De todo o bem que findou
Depois de uma viagem de regresso Lahane
Alto vale de Lahane, ermo e divino,
No murmúrio das águas! Quantos dias
Por tuas sombras divaguei, absorto
Na beleza da vida morredoira,
Face do mundo misteriosa e vária...
Notas explicativas de alguns termos.
Dalgum bem que nos deixou
P’ra sempre, e sem esperança
De volta, o bem que passou.
E passa mesmo a lembrança
De todo o bem que findou
Depois de uma viagem de regresso Lahane
Alto vale de Lahane, ermo e divino,
No murmúrio das águas! Quantos dias
Por tuas sombras divaguei, absorto
Na beleza da vida morredoira,
Face do mundo misteriosa e vária...
Notas explicativas de alguns termos.
- Lahane, é uma freguesia da cidade de Dili, situada nas colinas a sul da planície de Dili, Por causa do clima mais ameno, as autoridade coloniais escolheram este local para zona residencial e para o hospital. No tempo colonial, foi aí construída a Residência dos governadores; foi sede das Missões Católicas (1878-1940). Foi em Lahane que se escondeu comandante da guerrilha Xanana Gusmão em 1992 e aí foi capturado pelos comandos indonésios. Há um romance “O Menino de Lahane“, da autoria de Nídio Duarte.
- Casuarinas, (é uma árvore), casuarina junghuniana, em Tetun– Ai-kakeu. Nalgumas zonas, o arvoredo do Kakeu serve para ensobrear os cafezais; a madeira é usada em postes, vigas e larazes. No seu livro “Timor Leste, Um Povo uma pátria, Xanana Gusmão fala do sibilar das folhas do Kakeu, quando movidas pelo vento: “ ...sob o gemido tristonho dos Kakeus”.(p.2).
- Tebedai, dança efectuada pelas mulheres. Por ocasião das festas, as mulheres dançam ao som d e instrumentos que em Tetum se dizem “babadok” e “dadir.” Na zona leste, as mulheres ao mesmo tempo que tocam o babador, formam um círculo e executam um movimento lento para trás e para frente; os homens, animados pelo som da música, saltam para o centro do círculo brandindo lenços e espadas. Na parte ocidental, o grupo dos homens correm à frente, e as mulheres, tocando o tebedai, seguem-nos dançando e meneando-se. A dança executada pelos homens ou rapazes, chama-se Bidu.
- Gondão, ou gondoeiro, (é uma árvore frondosa; algumas têm raízes aéreas). ficus benjamina, em Tetum – Hali. Para alguns timorenses é considerada sagrada (lulik). Na história de Timor, houve um reino importante, que dominou outros reinos do centro de Timor para o oriente. We-Hali ou Bé-Hali ( a nascente que jorra do tronco d Gondoeiro, ou o Hali em cuja sombra brota a nascente), ou como dizia o padre Artur Basílio de Sá, “gondão da água”. (cf. Textos em Teto da Literatura Oral Timorense, p.232-233).Era nos troncos ou ramos do hali que os vencedores da guerra penduravam as cabeças cortadas dos vencidos.
- Sarão, ou sarong (em Malaio), em Tetum pode ser lipa ou kambatik. (pano de tecido usado pelas mulheres nos países do sudoeste asiático). A Lipa de algodão era confeccionada em Singapura, Jawa, Honkong, Japão, etc. A kambatik é usada pelas pessoas nobres ou em dia de festa.
- Malai, significa pessoa estrangeira, ou pessoa civilizada. Estrangeiros de cor branca, malai mutin; de cor negra, malai metan; chineses, malai sina.
- Sagueiros, espécie da palmeiras, Raphis flabelliformis. Em Tetum Akar ou Tali tahan, de folhas em leque ou forma de sobreiro. Do tronco se extrai espécie de farinha denominado “ sagu”. As folhas servem para a cobertura das casas. Do pecíolo ou talo, extraídas as folhas, passa a chamar-se “ palapa”, e serve para a construção de paredes (em Tetum, diz-se bebak). As folhas tenras e longas servem para fazer esteiras, cestos, etc.
- Fulan – Lua; Naroman, brilho (Luar) ou a claridade lunar.
- Corlílli, segundo o autor, pássaros, de cor negro ou cinzento, e de asas brancas. Abundam nas ribeiras de Timor.
- Gaboieras, (o árvore de gabão) são as palmeira ainda novas.
- Fahi-tem, uma aldeia, do suco de Tibar, situada na estrada Dili-Ermera.
Mogofores, 29 de Junho de 2008
Dom Carlos Filipe Ximenes Belo
Dom Carlos Filipe Ximenes Belo
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