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20080609

Barack Hussein Obama - uma incógnita

Por Jorge Heitor *

Não é por metade do seu sangue ser africano que este rapaz é melhor ou pior do que os outros. Só o futuro e as suas acções é que o irão dizer

E de repente o mundo pretendeu acreditar em milagres: que um "negro" iria ser Presidente dos Estados Unidos da América e que de aí em diante tudo iria ser diferente, para a América, a África e o Mundo. Ilusões, puras ilusões, miragens, digo eu.Nem o indivíduo em causa é negro, mas simplesmente mestiço, nem de modo algum está garantido que em Novembro venha a ganhar as eleições, mesmo que ao longo dos últimos meses as sondagens o tenham colocado algumas vezes à frente do republicano John McCain.

Barack Hussein Obama (que irónico que seria ver um Hussein na Casa Branca, depois de George W. Bush ter derrubado Saddam!) nasceu nas ilhas do Hawai, em pleno Pacífico Norte, filho de uma norte-americana do estado do Kansas e de um cidadão do Quénia, aparentado com a família Odinga, cujas ambições presidenciais são de há muito conhecidas.Barack, o menino bonito, foi aos seis anos para a Indonésia, terra de todos os perigos, e voltou em 1971 para o Hawai, terra de flores e ananazes, havendo-se inclusive deliciado na adolescência, segundo dizem, com umas passas de marijuana e de cocaína, para se integrar devidamente na civilização ocidental, conhecida desde a segunda metade do século passado pelo seu consumo de drogas.No ano de 1983, há 25 anos portanto, Barack Hussein, pequeno e relativamente belo, cor de chocolate, licenciou-se em Ciências Políticas, ramo das Relações Internacionais, na Universidade de Columbia, estado de Nova Iorque. Tudo nos conformes, como qualquer outro rapaz norte-americano que pretendesse singrar no campo da política. E foi para Chicago, a cidade dos gangsters, do Al Capone, onde trabalhou para grupos religiosos que ajudavam os pobres do estado do Illinois, no chamado Midwest dos Estados Unidos. Da África, nem um sinal, nem uma visita, tanto quanto se saiba.

Direito, pois claro

Barack Hussein Obama andou de 1988 a 1992 a estudar Direito, na Universidade de Harvard, e tornou-se aí o primeiro mestiço (eles costumam dizer afro-americano) a presidir à revista jurídica do local, como se estivesse predestinado a dar mais justiça ao mundo.Depois, na década de 90, uma vez mais em Chicago, no seu Illinois de adopção, ele leccionou e trabalhou com advogado dos direitos cívicos, até entrar para o Senado estadual, de onde em 2004 transitaria para o nacional, ou federal, numa autêntica marcha triunfal que nos leva a perguntar se não teria tido os deuses a protegê-lo.Em 2003 foi um dos que se opôs à invasão do Iraque pelos Estados Unidos da América, que ainda hoje lá estão e que lá pretendem continuar durante muito tempo mais, mediante acordos secretos que Bush tem vindo a negociar para deixar de pés e mãos atados quem lhe vier a suceder.Obama tornou-se uma mania de muita gente, no seu país e não só, como se ele fosse um novo messias, o Redentor dos povos com sangue africano. Era fotogénico e dava boas capaz de revista.

Atenção ao Darfur
Barack Hussein Obama tem falado da violação dos direitos humanos no enorme Darfur, por parte das autoridades sudanesas, já visitou os refugiados dessa terra que foram para o vizinho Chade; e pediu à Administração Bush que se dignasse fazer mais alguma coisa no sentido de parar com a carnificina.Quanto ao conflito entre Israel e a Palestina, chegou a julgar-se que seria mais amigo dos palestinianos do que outros políticos norte-americanos; mas mal o escolheram para candidato formal do Partido Democrata veio dizer que Jerusalém é toda ela uma unidade e que é integralmente israelita, sem qualquer respeito pelos anseios e pelas reivindicações árabes. Quem pretende singrar na corrida à Casa Branca tem sempre de ter em conta o peso de mais de cinco milhões de judeus que há nos Estados Unidos, quase tantos como no próprio Estado de Israel.Muitas vezes, uma pessoa que se vê à beira de conseguir um alto cargo, ou que o consegue, transige, deixa de parte muitos sonhos da juventude, varre as promessas para debaixo do tapete. E é disso que eu tenho medo em relação a este rapaz Obama, este que alguns gostariam de ver como o menino maravilha vindo ao mundo para resgatar tantos dos pecados da grande nação norte-americana.

Irão e Síria

Barack Hussein tem defendido o diálogo com Teerão a propósito do programa nuclear iraniano, bem como conversações com a Síria e a Coreia do Norte, outros países de que Washington não gosta mesmo nada. Mas terá ele experiência suficiente para levar por diante uma política de abertura, no caso de vir a ser eleito. Ou ficará esmagado pelos compromissos que entretanto terá de estabelecer, com os poderosos círculos norte-americanos de interesses que em última análise decidem quem é que fica ou não na Sala Oval.

Vocês acreditam que o voto nos Estados Unidos é livre e universal e que 80 ou 90 por cento da população vai às urnas determinar quem é que a há-de governar? Olhem que não é bem assim. A abstenção costuma ser muito grande e a tão apregoada democracia, que se quer ensinar a todo o mundo, por vezes não é totalmente levada à letra na terra do Tio Sam.Bem prega frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz. E todo o fervor democrático que encontramos nas palavras de um George W. Bush, de um Bill Clinton ou de um John McCain nem sempre é aplicado a 100 por cento, restando portanto ver se com um jovem que seja mestiço isso será muito diferente.Os sonhadores vêem nele um indivíduo pronto para mudar a América e o mundo, para reinventar tudo. Mas eu prefiro ver e crer, como São Tomé, de modo que não vos garanto desde já que Barack Hussein Obama venha a ser no próximo mês de Novembro eleito Presidente dos Estados Unidos da América do Norte. Nem que, na hipótese de o ser, tenha condições para uma presidência excepcional. Convém não deitar foguetes antes de tempo, pois a Humanidade já sofreu muitas desilusões.

Jornalista do Jornal Público, em exclusivo Público (http://www.publico.pt/) e Forum Haksesuk!

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