A guerra de Manufahi terminara. Dom Boaventura da Costa perdeu a guerra. Nos redutos de Riac e de Leo-Laco reinava silêncio. A população de Manufahi foi obrigada a sobreviver e a viver em silêncio. Mas palavra “Manufahi” corria de boca em boca por todo o território.
O governador Filomeno da Câmara celebrava a vitória e até permitiu a celebração da festa de corte de cabeças em Díli.
Pela primeira vez na história de Timor deflagrou um conflito de tamanhas proporções. O senhor Réné Pélissier, sobre cujo estudo nos baseámos para escrever breves crónicas afirma que um território de pequenas dimensões como o de Timor Português pudesse causar aos colonizadores tantos e tão difíceis problemas. E para poder dominar a revolta de Manufahi o governo colonial de teve recorrer ás forças regulares do exército e da marinha; às companhias de Moçambique; e teve de mobilizar, no território 6.234 moradores e mais de 108.000 guerreiros alistados em vários arraiais. A campanha dirigida pelo governador durou 221 dias. Filomeno da Câmara ganhou a guerra de Manufahi, mas quem lhe garantiu a vitória foram os Timorenses que formavam 99% do contingente governamental.
O régulo Dom Boaventura quando deu início ao conflito em 24 de Dezembro de 1911, não mediu bem as consequências da sua revolta. Não teve o apoio de todos os liurais de Timor; não obteve um apoio concreto dos holandeses, nem doutros povos da Insilíndia. Não dispunha de navios de guerra de material bélico. Lutou sozinho, apoiado apenas pelos seus homens de Manufahi, (talvez uns cinco a seis mil).
O Povo de Same foi obrigado a plantar café, à razão de 600 pés por família. E para toda a colónia, Filomeno da Câmara estabeleceu o trabalho obrigatório para todos os timorenses de 14 aos 60 anos, com o pagamento de impostos.
Como consequência desta guerra, desapareceram alguns regulados e os chefes mortos, ou presos ou destituídos. Alguns regulados foram integrados noutros, cujos chefes eram fiéis ao governo. A nobreza timorense ficou decapitada. De 1913 a 1942, os novos régulos seriam apenas “ordenanças” dos comandantes militares e dos chefes dos Postos Administrativos.
Depois da guerra de Manufahi Timor continuaria colónia de Portugal. Nesse tempo, o ambiente de Timor não seria muito diferente do de 1911. Ou como diria, mais tarde, o tenente Jaime do Inso: “O ambiente de Timor (…): abandono, selvajaria dos naturais e excessos dos dominadores, a par de muita intriga e de muita tristeza”.
Timor continuou português, porque como disse Réné Pélissier “foram efectivamente os Timorenses que submeteram Timor por conta dos Portugueses”.
Porto, 27 de Janeiro de 2012.
Dom Carlos Filipe Ximenes Belo
O governador Filomeno da Câmara celebrava a vitória e até permitiu a celebração da festa de corte de cabeças em Díli.
Pela primeira vez na história de Timor deflagrou um conflito de tamanhas proporções. O senhor Réné Pélissier, sobre cujo estudo nos baseámos para escrever breves crónicas afirma que um território de pequenas dimensões como o de Timor Português pudesse causar aos colonizadores tantos e tão difíceis problemas. E para poder dominar a revolta de Manufahi o governo colonial de teve recorrer ás forças regulares do exército e da marinha; às companhias de Moçambique; e teve de mobilizar, no território 6.234 moradores e mais de 108.000 guerreiros alistados em vários arraiais. A campanha dirigida pelo governador durou 221 dias. Filomeno da Câmara ganhou a guerra de Manufahi, mas quem lhe garantiu a vitória foram os Timorenses que formavam 99% do contingente governamental.
O régulo Dom Boaventura quando deu início ao conflito em 24 de Dezembro de 1911, não mediu bem as consequências da sua revolta. Não teve o apoio de todos os liurais de Timor; não obteve um apoio concreto dos holandeses, nem doutros povos da Insilíndia. Não dispunha de navios de guerra de material bélico. Lutou sozinho, apoiado apenas pelos seus homens de Manufahi, (talvez uns cinco a seis mil).
O Povo de Same foi obrigado a plantar café, à razão de 600 pés por família. E para toda a colónia, Filomeno da Câmara estabeleceu o trabalho obrigatório para todos os timorenses de 14 aos 60 anos, com o pagamento de impostos.
Como consequência desta guerra, desapareceram alguns regulados e os chefes mortos, ou presos ou destituídos. Alguns regulados foram integrados noutros, cujos chefes eram fiéis ao governo. A nobreza timorense ficou decapitada. De 1913 a 1942, os novos régulos seriam apenas “ordenanças” dos comandantes militares e dos chefes dos Postos Administrativos.
Depois da guerra de Manufahi Timor continuaria colónia de Portugal. Nesse tempo, o ambiente de Timor não seria muito diferente do de 1911. Ou como diria, mais tarde, o tenente Jaime do Inso: “O ambiente de Timor (…): abandono, selvajaria dos naturais e excessos dos dominadores, a par de muita intriga e de muita tristeza”.
Timor continuou português, porque como disse Réné Pélissier “foram efectivamente os Timorenses que submeteram Timor por conta dos Portugueses”.
Porto, 27 de Janeiro de 2012.
Dom Carlos Filipe Ximenes Belo
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